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Trégua no mercado


O otimismo volta ao mercado financeiro nesta segunda-feira, após a trégua entre Estados Unidos e China na questão comercial, o que impulsiona os índices futuros das bolsas de Nova York e sustenta o dólar ante as moedas rivais. Por ora, o investidor acredita que é possível um acordo entre as duas maiores economias do mundo que envolva tanto a abertura do mercado consumidor chinês quanto a proteção de propriedade intelectual.

Da mesma forma em que se acredita que os EUA podem fazer um acordo nuclear com a Coreia do Norte se não for sobre a desnuclearização. Por isso, já há um aviso à frente, de que esse alívio lá fora nos ativos globais deve ser passageiro, uma vez que a trégua comercial foi feita com diferenças não resolvidas entre Pequim e Washington.

Mas houve progresso, colocando a guerra comercial “em modo de espera”, conforme palavras de cessar-fogo do secretário do Tesouro norte-americano, Steven Mnuchin. Por enquanto, está suspensa a sobretaxa norte-americana de tarifas a produtos chineses, mas reformas mais profundas são necessárias.

Aliás, o desempenho da moeda norte-americana lá fora deve desafiar os negócios por aqui. Na última sexta-feira, o mercado doméstico testou e o Banco Central respondeu. A autoridade monetária resolveu elevar a oferta de dólares vendidos por meio de novos contratos futuros (swap cambial), o que deve, enfim, acalmar o mercado doméstico de câmbio hoje.

Mas o alívio no real não deve ter vida longa, uma vez que o dólar continua forte no exterior e o investidor está colocando no preço do câmbio local a incerteza com a eleição no Brasil e o ambiente externo ainda hostil. Lá fora, a moeda norte-americana é cotada no maior nível desde novembro de 2017 ante uma cesta de moedas, ganha terreno do euro e da libra, enquanto o rand sul-africano cai ao nível mais baixo em cinco meses.

Já o xará australiano avança. Nos demais mercados, o rendimento (yield) do título dos EUA de 10 anos se estabiliza abaixo de 3,10%, aliviando a pressão sobre os bônus europeus, o que abre espaço para uma melhora das bolsas na região. Porém, as preocupações políticas na Itália são um obstáculo, com a possível formação de um novo governo antiestablishment.

Nessa equação entre mercado doméstico, eleições no Brasil e ambiente internacional, o BC é um mero espectador. De qualquer forma, ajuda o recado dado no comunicado feito na sexta-feira à noite, de que a autoridade monetária se reserva no direito de atuações arbitrárias, caso seja necessário.

E, depois da inesperada decisão de manter a taxa básica de juros em 6,50% neste mês, esse método surpresa de intervenção traz um elemento de incerteza aos negócios locais. A ver a reação do mercado a esse novo fator - se será domado ou se vai se enfurecer mais.

De qualquer forma, a mensagem do BC remove um caráter especulativo no mercado financeiro, ao dizer que a atuação nos negócios com dólar é separada da condução da política monetária. Não há uma relação mecânica entre cenário externo, dólar e a Selic, disse no comunicado.

Tudo vai depender, então, do impacto do fortalecimento do dólar nas expectativas de inflação, sendo que o ritmo fraco da atividade tende a mitigar os efeitos de um eventual repasse cambial - exceto nos preços administrados. Tal perspectiva, porém, pode sofrer alterações.

 

A semana promete

A agenda econômica hoje está bem fraca, sendo que não há a previsão de indicadores econômicos no exterior. A Pesquisa Focus desta segunda-feira (8h25) deve trazer revisões importantes do mercado financeiro para as principais variáveis macroeconômicas.

A começar pela óbvia mudança na estimativa para o juro básico, que deve ficar estacionado em 6,50% até o fim de 2018. Já as estimativas para o crescimento econômico (PIB) tendem a seguir em baixa e para o dólar, em alta. A previsão para a inflação oficial (IPCA) está em suspenso, mas deve começar a subir em breve.

Amanhã, o calendário segue esvaziado lá fora, enquanto aqui as atenções se voltam para a ata da reunião da semana passada do Comitê de Política Monetária (Copom), quando o BC driblou a taxa de juros e interrompeu o ciclo de cortes na Selic, na contramão das apostas majoritárias do mercado financeiro.

Já na quarta-feira, é a vez da prévia deste mês da inflação ao consumidor (IPCA-15), que deve trazer os reflexos dos preços mais elevados do petróleo e do dólar, além da bandeira amarela na conta de luz. No mesmo dia, o foco se volta ao exterior, onde o Federal Reserve publica a ata da reunião de maio.

O investidor espera encontrar no documento pistas de que a próxima alta no juro norte-americano deve ocorrer no mês que vem. Afinal, ainda não houve nenhum sinal claro do Fed de que a taxa de juros nos EUA deve subir mais uma vez em junho, após o primeiro aumento deste ano em março.

Trata-se de uma percepção do mercado financeiro. Mas, às vezes, é melhor deixar nas entrelinhas do que escancarar a intenção, como fez o BC brasileiro em março, e mudar de ideia no meio do caminho, promovendo um “cavalo-de-pau”.

Na sexta-feira, o presidente do Fed, Jerome Powell, terá a oportunidade de deixar claro se a aposta sobre a segunda alta nos juros está condizente com a intenção do colegiado (Fomc). Jay sabe que uma guinada no processo de normalização monetária nos EUA tem potencial para impactar o mercado global - para cima ou para baixo.

Por isso, as expectativas precisam estar bem calibradas - inclusive se serão três ou quatro apertos até dezembro. Por ora, o investidor está mais propenso em acreditar que o cenário à frente é desafiador e, portanto, o juro norte-americano encerrá 2018 em até 2,50%, dos atuais 1,50% a 1,75%. É só fazer a conta!

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