Temor de segunda onda assusta mercados
Dados de atividade da China em maio dão a sensação de que o país onde surgiu o surto de coronavírus, na virada do ano, começa a se recuperar dos impactos econômicos da pandemia, mas os novos casos de Covid-19 em Pequim ampliam o temor de uma segunda onda de contágio da doença, que assustou o mercado financeiro ao final da semana passada. E essa incerteza volta a pesar nos ativos de risco hoje.
Os índices futuros das bolsas de Nova York e as principais praças europeias amanheceram em queda livre, com perdas de até 3%, em meio ao aumento crescente de infecções por coronavírus em muitos países que reabriram suas economias após os bloqueios. Na Ásia, o medo de ressurgimento da doença na região puniu as bolsas, com Tóquio liderando as baixas (-3,5%). O petróleo cai 4%, enquanto o dólar mede forças frente às moedas rivais.
Xangai recuou apenas 1%, reagindo também à expansão de 4,4% da indústria chinesa em maio, após alta de 3,9% em abril, em base anual. Mas a previsão era de crescimento maior (5%). Já as vendas no varejo chinês caíram 2,8% no mês passado, reduzindo o ritmo de queda visto no mês anterior (-7,5%), porém caindo mais que o esperado (-2%). Os investimentos em ativos fixos acumulam queda de 6,3% até maio, de -10,3% até abril.
Novas ondas
Durante o fim de semana, a China confirmou 57 casos de Covid-19, o maior número desde abril, sendo 36 deles em Pequim. A capital isolou e bloqueou 11 bairros residenciais devido aos novos casos, que estariam vinculados a um mercado atacadista próximo à região. Enquanto isso, na província de Hubei, o nível de emergência foi reduzido, permitindo que as pessoas em Wuhan, onde a doença foi detectada pela primeira vez, não usem máscara em locais públicos.
Da mesma forma, nos EUA, boas e más notícias. Enquanto Nova York, epicentro da pandemia no país, registrou ontem o menor número de óbitos pela doença em quase três meses; na Flórida, os novos casos de coronavírus subiram mais rápido que a média de uma semana pelo quinto dia consecutivo. A Flórida está entre os mais de 20 estados em que o ritmo de infecções vem aumentando, à medida que a economia reabre. Arizona, Califórnia, Texas e Washington também relataram níveis diários mais altos de casos.
Já no Brasil, levantamento feito por veículos da imprensa mostra mais de 17 mil novos registros de Covid-19 em apenas 24 horas, número levemente abaixo dos dados oficiais do governo federal. São quase 868 mil pessoas infectadas pela doença, conforme o consórcio. O país é o segundo com mais óbitos no mundo, atrás somente dos EUA, totalizando 10% das vítimas. Ainda assim, as medidas de flexibilização da quarentena seguem a pleno vapor em todas as regiões brasileiras.
Ou seja, o vírus continua circulando por aí e uma segunda onda de contágio parece inevitável em países onde fracassarem a capacidade de controlar a disseminação do vírus e a disposição do público em cooperar, ainda na primeira fase. Onde houver estrutura coordenada, sob a liderança de um governo forte, cresce a chance de não haver uma nova versão de contaminação, impedindo que a doença se espalhe de novo. Sem tal planejamento, a doença tende a se tornar endêmica, esticando a primeira onda.
O vírus e os BCs
Com o número de casos de coronavírus ainda crescendo em vários países e sem a perspectiva de uma vacina tão logo, os investidores reavaliam as expectativas em relação à recuperação econômica global, com a pandemia provocando medo e dúvidas sobre o caminho a seguir. Há muitos céticos que dizem que o mercado financeiro estava otimista demais, amparado por uma injeção de recursos jorrada pelos bancos centrais que transbordou para os ativos de maior risco - inclusive do Brasil.
Mas quanto mais profunda for a crise causada pelo coronavírus, maior a probabilidade de o mercado financeiro obter estímulos monetários adicionais, o que desloca o pensamento dos investidores para a próxima intervenção orquestrada dos BCs. O problema é que os mercados já estão inundados por uma liquidez excessiva, que empossou os ativos de risco. E se esses recursos não forem canalizados para a produção, formam-se bolhas.
Agenda tem BCs e dados de atividade
Já a agenda econômica desta semana traz como destaques dados de atividade no Brasil e nos EUA, do lado dos indicadores, e eventos envolvendo os bancos centrais do Brasil (Copom), do Reino Unido (BoE) e dos EUA (Fed). Amanhã será conhecido o desempenho das vendas no varejo brasileiro e norte-americano, além dos dados sobre a indústria nos EUA, que devem vir todos impactos pela pandemia.
Também por aqui saem o resultado do setor de serviços (quarta-feira) e o índice de atividade econômica calculado pelo BC (IBC-Br), no dia seguinte. Mas o destaque envolvendo a autoridade monetária é a decisão de juros, na quarta-feira. A expectativa é de corte de 0,75 ponto na Selic, renovando o piso histórico da taxa, em 2,25%. Com isso, as atenções se deslocam para o comunicado, em busca de pistas sobre os próximos passos.
No exterior, o BC inglês também reúne-se, na quinta-feira, quando decide sobre os estímulos monetários vigentes no Reino Unido. Já nos EUA, o presidente do Fed, Jerome Powell, participa de audiência em comissões do Senado (terça-feira) e da Câmara (quarta-feira), quando poderá esclarecer as previsões sombrias feitas na coletiva de imprensa, ao final da reunião de política monetária do Fed na semana passada.
Confira a seguir os principais destaques desta semana, dia a dia:
*Horários de Brasília
Segunda-feira: A semana começa com as tradicionais publicações domésticas do dia, a saber, o relatório de mercado Focus, do Banco Central (8h25), e os dados semanais da balança comercial (15h). No exterior, o calendário econômico está mais fraco, trazendo o índice regional de atividade em Nova York em junho (9h30) e o fluxo de capital estrangeiro de/para os EUA em abril (17h).
Terça-feira: Dados das vendas no varejo no Brasil (abril) e nos EUA (maio) estão em destaque na agenda do dia, que traz também o desempenho da indústria norte-americana no mês passado. Também serão conhecidos o primeiro IGP deste mês, o IGP-10, os estoques das empresas nos EUA e o índice de confiança das construtoras em junho. Na zona do euro, sai o índice ZEW de sentimento econômico. Além disso, o presidente do Fed, Jerome Powell, discursa no Senado.
Quarta-feira: Mais um indicador de atividade no Brasil, desta vez, no setor de serviços será conhecido hoje. Mas o destaque doméstico fica com a decisão de juros do Copom, no fim do dia. Lá fora, Powell participa de nova audiência, desta vez, na Câmara dos EUA.
Quinta-feira: O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) é o destaque da agenda doméstica do dia, enquanto no exterior, as atenções se voltam para a reunião de política monetária do Banco da Inglaterra (BoE). Também merecem atenção os pedidos semanais de auxílio-desemprego feitos nos EUA.
Sexta-feira: A semana chega ao fim trazendo com a agenda econômica esvaziada no Brasil e no exterior. Ainda assim, merece atenção a participação de Powell, do Fed, em um evento realizado em Cleveland.