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Subsídio chinês x excesso de capacidade

Entenda a nova narrativa do Ocidente contra a China


Imagem de carro elétrico tipo game com disputa entre China e Ocidente no pano de fundo
Entenda a nova narrativa do Ocidente contra a China

Em visita recente à China, a secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, apresentou a nova narrativa do Ocidente contra o país asiático: o mundo não é capaz de absorver a oferta Made in China. Para ela - e os países aliados aos EUA - o problema está nos subsídios chineses à indústria. 


Não é novidade - ou ao menos não deveria ser - que o governo chinês subsidia fortemente suas indústrias nacionais. Até porque a decisão de subsidiar um setor industrial é de soberania nacional - aliás, uma prática comum no comércio internacional.


Sabe-se que a Europa subsidia pesadamente seu setor agrícola e, historicamente, os EUA têm uma política protecionista para impulsionar sua indústria nacional, tanto automotiva quanto tecnológica. O economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, também professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), lembra que as políticas industriais adotadas pelos países podem variar ao longo do tempo e são influenciadas por fatores políticos, econômicos e sociais específicos de cada nação.


No caso da China, o economista cita o exemplo da BYD e como a empresa se insere no cenário do país. “O governo chinês, consciente dos desafios ambientais e da necessidade de reduzir a poluição do ar, estabeleceu metas ambiciosas para a adoção de veículos elétricos e incentivou fortemente a indústria local a desenvolver tecnologias verdes”, lembra. 



Subsídios, sempre eles


Gala lembra que, inicialmente, a BYD era voltada à produção de baterias recarregáveis. Porém, ao longo do tempo a empresa expandiu seus negócios. “A importância das encomendas e subsídios do governo chinês para a BYD foi fundamental para o seu crescimento e sucesso”, afirma o economista do Master e professor da FGV.


Aliás, estudo recente do Instituto Kiel indica que Pequim subsidia fortemente suas indústrias nacionais, particularmente em setores ligados às tecnologias verdes, como a mobilidade elétrica e a energia eólica. Com base em dados de 2022, os pesquisadores alemães mostram que um dos principais beneficiários é a BYD. 


Da mesma forma, a Comissão Europeia, principal regulador da concorrência da União Europeia (UE), causou um atrito geopolítico ao publicar um livro de mais de 700 páginas que mostra que dois terços das empresas alemãs com sede na China se queixam de que enfrentam concorrência desleal por parte das empresas locais. 


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Para Michael Every, estrategista global do Rabobank, os relatórios recentes abrem a porta para muitas ações comerciais contra a China, com a Europa reagindo também via a adoção de subsídios. “Portanto, sim, a política industrial e o protecionismo vieram para ficar”, comenta em relatório recente.


Problema ou solução?


Percebe-se, então, que no embate sobre excesso de capacidade, alimentado por subsídios governamentais, não há nenhuma solução concreta. Tanto que EUA e China concordaram em incluir a questão sobre crescimento equilibrado nas economias doméstica e global no Grupo de Trabalho Econômico e Financeiro de ambos os países. 


Para Alicia Garcia Herrero, economista-chefe da Ásia-Pacífico do Natixis, a forma mais fácil para procurar pistas na relação entre excesso de capacidade e os subsídios para tecnologias verdes, tendo a China como pivô, envolve estoques, preços e rotatividade em escala mundial.  Segundo ela, no caso dos fabricantes de EV’s, o rápido crescimento dos investimentos pode aumentar a oferta, representando riscos se a demanda não acompanhar.


“O sinal de alerta deveria ser aceso se o mundo assumir que o excesso de capacidade significa que a China produz mais do que a demanda doméstica e global pode consumir, especialmente em tecnologia verde”
Alicia Garcia Herrero, economista-chefe da Ásia-Pacífico do Natixis

Daí porque esse embate tende a ser um catalisador de novas tensões geopolíticas, barreiras comerciais e políticas industriais, que não vêm apenas do eixo anglo-europeu, mas também de países, como Índia, Brasil e Turquia. O que está em jogo é a consolidação da indústria verde chinesa e o fracasso de empresas em grande escala.


“Esse impulso nos novos setores de energia da China é uma oportunidade para os países do Sul Global”, disse Marco Fernandes, membro do coletivo internacional de pesquisadores Dongsheng. Em entrevista à rede de TV chinesa CGTN, ele enfatizou que o suposto excesso de capacidade da China parece ser mais uma ameaça para as potências tradicionais do que para os países em desenvolvimento do mundo. 


Tanto a Europa quanto os EUA insistem em um descolamento (decoupling) ou em uma diminuição de riscos (derisking) da China. Mas não se trata de uma tarefa fácil, conforme mostra um artigo da Brookings no ano passado. Para Lynn Song, economista-chefe para China do ING: “Ainda há um longo caminho no debate entre a política chinesa afetar ou não a concorrência leal”. 




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