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Semana começa no vermelho


Após Wall Street e o Ibovespa registrarem o pior desempenho semanal desde a crise de 2008, a última semana cheia de março começa sem trégua no mercado financeiro. Os índices futuros das bolsas de Nova York atingiram o limite de queda, de -5%, ainda nos primeiros minutos de negócios ontem, refletindo a falta de acordo no Congresso dos Estados Unidos em relação ao pacote econômico para combater o coronavírus.


Republicanos e democratas não chegaram a um consenso sobre como gastar quase US$ 2 trilhões, com os dois partidos discordando em relação ao tamanho do resgate voltado aos trabalhadores e às empresas nos EUA. As negociações serão retomadas nesta segunda-feira e deve haver nova votação pela manhã, o que tende a manter a volatilidade elevada nos negócios hoje, com os ativos de risco apresentado movimentos erráticos.


Enquanto aguardam, os mercados mergulham no vermelho. Na região Ásia-Pacífico, a Bolsa da Índia caiu mais de 10% e a da Austrália recuou quase 6%. Entre os principais mercados, apenas Tóquio conseguiu fechar em alta (2%), ajustando os negócios na volta do feriado, enquanto Seul e Hong Kong recuaram 5%, cada. Já a Bolsa de Xangai teve queda de 3%. As praças europeias também abriram com fortes perdas, de mais de 4%, após Espanha e Itália sofrerem os piores dias da pandemia durante o fim de semana.


Já o dólar perde terreno em relação às moedas rivais, depois que o Federal Reserve introduzir operações diárias de troca (swap) para fornecer dólares ao redor do mundo. Ainda assim, destaque para a queda do dólar neozelandês (kiwi) e da rupia indiana. Ao mesmo tempo, os títulos norte-americanos oscilam, enquanto o rendimento (yield) dos bônus da Austrália afunda. Nas commodities, o petróleo avança e o ouro também.


O medo dos mercados permanece mais palpável, diante da sensação de que o ponto máximo do efeito do vírus na economia ainda não foi alcançado, o que eleva o temor de que a economia global assuma a forma de “L”, ao invés de uma recuperação em “U”. Esse comportamento no exterior tende a ditar o rumo dos ativos locais, depois de o Ibovespa tombar quase 20% apenas na semana passada, seguindo no nível mais baixo desde 2017, e de o dólar subir pela quinta semana seguida, permanecendo acima da faixa de R$ 5,00.


É a política!


Enquanto os investidores tentam avaliar a gravidade dos impactos da pandemia de Covid-19 na economia global, a leitura é de que os esforços dos principais bancos centrais no mundo foram grandes. As medidas tomadas podem até não impedir a propagação do vírus, nem evitar uma recessão imediata, com drástico aumento do desemprego, mas podem apoiar os canais de crédito, evitando um colapso do sistema financeiro.


Agora, são necessárias respostas políticas - e rápidas. Para o presidente da Eurasia Group, Ian Bremmer, o líder mundial com a resposta mais ineficaz no combate à doença é o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro. Segundo o fundador da consultoria, a postura de Bolsonaro de “detonar” as medidas de bloqueios que vêm sendo tomadas pelos governadores pode prejudicar seriamente o mandato presidencial.


Aliás, a partir de amanhã comércio e serviços não essenciais devem ficar fechados em todo o estado de São Paulo e também na cidade do Rio de Janeiro. As exceções ficam para farmácia, supermercados e consultórios. No balanço de ontem, o governo confirmou pouco mais de 1,5 mil casos e 25 mortes, sendo 22 em São Paulo e três no Rio. Contudo, as secretaria estaduais anunciaram novos números, elevando para 1,6 mil os casos no país.


Em todo o mundo, quase 330 mil pessoas foram infectadas pelo vírus e quase 14,5 mil morreram, sendo que o número de óbitos na Itália já superou o da China, depois que o país europeu registrou recorde no total de óbitos entre quinta-feira e sábado. No país asiático - e outros da região - é o aumento no número de “casos importados” que tem demandado medidas para evitar uma segunda onda de contágios.


Diante da ênfase maior na ação dos governos para lidar com as consequências atuais e esperadas da pandemia de coronavírus, a agenda de indicadores e eventos econômicos fica em segundo plano nesta semana. Ainda assim, merecem atenção dados de atividade que serão conhecidos nos Estados Unidos e na zona do euro nos próximos dias, além das publicações do BC brasileiro já a partir de hoje.


Confira a seguir os principais destaques desta semana, dia a dia:

*Horários de Brasília

Segunda-feira: A semana começa com novidades, em termos de divulgação, no mercado doméstico. O Banco Central antecipou para hoje (8h) a publicação da ata da reunião da semana passada. O documento, que tradicionalmente é publicada na terça-feira seguinte ao encontro, será divulgado ainda antes do relatório de mercado Focus (8h25), que deve trazer novas revisões para baixo para o Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. Depois, às 9h, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, concede entrevista coletiva virtual para falar sobre as medidas de combate à Covid-19. À tarde, saem os dados semanais da balança comercial (15h). Já no exterior, o calendário econômico do dia está esvaziado.


Terça-feira: Dados de atividade recheiam a agenda do dia. Enquanto lá fora saem as leituras preliminares de março dos índices de compras (PMI) dos setores industrial e de serviço na zona do euro e nos EUA, aqui, será conhecido o desempenho do comércio varejista em janeiro. Também merecem atenção o índice sobre a confiança do consumidor brasileiro neste mês e dados do setor imobiliário norte-americano no mês passado.


Quarta-feira: A prévia deste mês da inflação oficial ao consumidor brasileiro (IPCA-15) é o grande destaque da agenda do dia, que traz ainda, no Brasil, o desempenho do setor de serviços em janeiro e o índice de confiança do comércio em março. Além disso, saem os dados do BC sobre o setor externo e o fluxo cambial. No exterior, o calendário está sem destaques, trazendo os pedidos de bens duráveis nos EUA em fevereiro e os estoques semanais de petróleo bruto e derivados, além do índice IFO de confiança na Alemanha e índices de preços no Reino Unido.


Quinta-feira: O calendário econômico está repleto de divulgações relevantes, no Brasil e no exterior. Aqui, o destaque fica com o Relatório Trimestral de Inflação (RTI) do BC, enquanto lá fora as atenções se voltam para a terceira e última leitura do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA ao final do ano passado. Também serão conhecidos os pedidos semanais de auxílio-desemprego feitos no país, além do índice de confiança da construção civil nacional.


Sexta-feira: A semana chega ao fim trazendo, no Brasil, o índice de atividade econômica do BC (IBC-Br), a inflação ao produtor (IPP) no mês passado, a leitura final da confiança na indústria e a nota do BC sobre operações de crédito. Também merece atenção a decisão da Aneel sobre a bandeira tarifária que estará em vigor em abril. No exterior, destaque apenas para os dados sobre a renda pessoal e os gastos com consumo nos EUA em fevereiro e a versão revisada da confiança do consumidor norte-americano em março.


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