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Sell-off global testa ânimo com eleições


O mercado financeiro brasileiro deve até respirar aliviado com a manutenção da vantagem de 16 pontos de Jair Bolsonaro na largada da corrida presidencial no segundo turno, após a frustração com as declarações do candidato do PSL em relação ao programa liberal para a economia. Os investidores preferem dar o benefício da dúvida a permitir o PT de volta, mas dificilmente vão conseguir se desviar da piora do cenário no exterior.

Os índices futuros das bolsas de Nova York apontam para uma continuidade da forte onda vendedora (sell-off) que atingiu Wall Street ontem, quando o índice Dow Jones registrou o pior dia desde fevereiro; o S&P 500 cravou a quinta queda seguida, na sequência mais longa de perdas desde novembro de 2016 e o Nasdaq registrou o maior recuo deste ano.

As perdas da véspera contaminaram a sessão na Ásia, onde Xangai caiu mais de 5% e Hong Kong e Tóquio recuaram quase 4%, cada. As principais bolsas europeias amanheceram no vermelho, com perdas de mais de 1%. Os mercados emergentes sofrem mais duramente, com o índice MSCI caindo pela sexta vez e alcançando o menor nível em 19 meses.

Esse movimento nos negócios com risco reflete a preocupação com o impacto da guerra comercial no desempenho das empresas norte-americanas. Às vésperas do início da temporada de balanços nos Estados Unidos, os investidores digerem alertas vindos do setor corporativo sobre os resultados financeiros do terceiro trimestre deste ano.

A distribuidora de materiais industriais e de construção Fastenal afirmou que a China está elevando os custos de produtos importados, o que reduzirá as margens de lucro da empresa, ao passo que a fabricante francesa de bens de luxo LVMH disse que o país asiático está aplicando regras alfandegárias com mais rigor. Esses alertas azedaram o clima antes do início da safra, embora a amostra ainda seja pequena para tirar conclusões definitivas.

A esse noticiário soma-se o temor com a desaceleração da economia chinesa, impactando a atividade global. A exceção, por ora, fica justamente com os EUA, onde crescem os sinais de pressão inflacionária, em meio à redução dos estímulos monetários por parte do Federal Reserve e à escalada da tensão comercial com a China.

Além disso, também pressiona os negócios a baixa demanda por títulos norte-americanos (Treasuries) nos leilões semanais, em meio à necessidade de aumento da oferta de papéis para custear a dívida crescente do país. Nesta manhã, o juro projeto pelo bônus de 10 anos estabiliza-se abaixo de 3,20%, após alcançar a máxima em sete anos em 3,26%.

Os investidores também digerem as declarações de Donald Trump, de que o Fed “enlouqueceu” e está cometendo um “erro”, ao aumentar a taxa de juros dos EUA. Para o presidente norte-americano, o responsável pelo sell-off de ontem é o Fed - e não a guerra comercial com a China.

E é com esse cenário externo mais hostil que o mercado financeiro brasileiro inicia o último pregão da semana, já que amanhã é feriado nacional, o que manterá os negócios locais fechados, enquanto o mundo seguirá a pleno vapor. Com isso, os investidores tendem a redobrar a postura defensiva, evitando ficar exposto ao risco, ainda mais após a recaída nacionalista de Bolsonaro.

O pregão doméstico abre digerindo a primeira pesquisa do Datafolha sobre o segundo turno das eleições presidenciais, na qual Bolsonaro aparece com 58% dos votos válidos contra 42% para Haddad. A diferença de 16 pontos é praticamente a mesma observada ao final da votação do último domingo, quando a extrema-direita ficou com 46,03% e a esquerda levou 29,28%.

Portanto, não houve novidades no levantamento e o petista só vence no Nordeste, ao passo que o deputado é o preferido entre os ricos e escolarizados. Mas a grande questão ainda é o comparecimento às urnas no próximo dia 28, após o número de abstenções no último domingo ter sido recorde, quando comparado com as eleições anteriores.

O Datafolha também apontou em quem o eleitor de Ciro Gomes, Geraldo Alckmin, Marina Silva e João Amoêdo no primeiro turno pretendem votar neste embate final. Nesse quesito chama atenção que 58% dos eleitores de Ciro votariam em Haddad, enquanto 42% dos que votaram no tucano escolheriam, desta vez, Bolsonaro.

Por outro lado, 19% dos que escolheram o pedetista votariam no PSL, enquanto 30% dos votos no candidato do PSDB viriam para o PT. Já o um milhão de votos em Marina iriam, em sua maioria, para Haddad (37%), com uma parcela também indo para Bolsonaro (18%). Os que votaram branco e nulo tendem a repetir o voto (58%), enquanto 46% ainda não sabe.

Seja como for, os números do Datafolha reforçam a probabilidade de vitória de Bolsonaro na oitava eleição presidencial por meio do voto direto desde a redemocratização, em 1989. Com a realização de debates na TV entre os presidenciáveis em suspense, por causa do estado de saúde do candidato do PSL, e um tempo igual no horário político só um fato extraordinário e imponderável pode mudar esse resultado que já se desenha.

Com isso, as atenções dos investidores se voltam para o discurso da equipe de Bolsonaro, após alguns ruídos em relação a temas caros ao mercado, como a agenda de reformas, privatizações, impostos e o Bolsa Família. O candidato frustrou o discurso liberal de seu guru econômico, Paulo Guedes, o que fez o dólar interromper três quedas seguidas e a Bolsa cair.

A moeda norte-americana teve a maior alta em quase um mês, voltando a ser cotada acima de R$ 3,75, ao passo que o Ibovespa registrou o maior recuo em cerca de dois meses. Mas a percepção, por ora, é de que, a despeito desses ruídos, existe sim a intenção de uma agenda liberal e reformista.

Para o mercado financeiro, as medidas que independem do Congresso - ou de uma maioria qualificada - têm mais chances de avançar. Já as mudanças estruturais podem apresentar maior resistência, levando-se em conta que o PT será oposição e terá a maior bancada na Câmara, bem como o ambiente externo cada vez mais desafiador e hostil.

Aliás, os renovados sinais de alta nos preços no mundo, em especial nos EUA, podem ser mensurados hoje, com a divulgação do índice de preços ao consumidor norte-americano em setembro, às 9h30. No mesmo horário, saem os pedidos semanais de seguro-desemprego. Depois, às 12h, é a vez dos estoques semanais de petróleo bruto e derivados. Na zona do euro, sai a ata da última decisão de política monetária do Banco Central Europeu (BCE), às 8h30.

Já no Brasil, destaque para os indicadores do IBGE (9h) sobre a safra agrícola e as vendas no varejo. A previsão é de estabilidade (0,00%) no comércio varejista em agosto em relação a julho, interrompendo três meses seguidos de queda, enquanto o setor deve ter crescido 1% em relação a um ano antes, após ter interrompido uma sequência de 15 resultados positivos nesse confronto no mês anterior.

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