O petróleo da discórdia
Durou pouco tempo a trégua no mercado financeiro, uma vez que as preocupações geopolíticas e as tensões comerciais voltam a pesar no exterior. Por aqui, não traz alívio o acordo feito entre governo e Congresso para zerar um dos tributos apenas sobre o diesel, tendo como troca a aprovação da reoneração da folha de pagamentos. Afinal, a gasolina deve ficar de fora da isenção, ao passo que a greve dos caminhoneiros continua.
O ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, costuraram um acordo para zerar a Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico) sobre o diesel, tendo ainda o aval do presidente do Senado, Eunício Oliveira. O fim do tributo só será editado após a aprovação, no Congresso, do projeto que reonera a folha de pagamento das empresas em todos os setores.
Ou seja, para preservar a política da Petrobras de reajuste diário nos preços dos combustíveis, Executivo e Legislativo resolveram fechar questão contra o consumidor final e o trabalhador. Afinal, se o projeto de reoneração for aprovado, o custo ao empregador aumenta, podendo provocar nova onda de demissões, ao passo que as bombas de gasolina seguirão reféns das variações do dólar e do petróleo no mercado global.
Ainda assim, a ação da petrolífera pode arriscar uma recuperação mais firme. Além disso, haverá um aumento nas receitas da União, já que a arrecadação federal com a Cide sobre o diesel, de R$ 2,5 bilhões, é bem menor do que o dinheiro que o fim do benefício da desoneração da folha trará aos cofre públicos a partir de dezembro de 2020. É, portanto, uma boa notícia para o ajuste fiscal.
Mas nem mesmo os caminhoneiros mostraram-se satisfeitos. Para eles, a redução da Cide não é suficiente, pois representa apenas 1% dos tributos que incidem no diesel. Por isso, a paralisação continua, elevando o risco de desabastecimento em várias partes do país.
Como se já não bastasse toda essa discórdia em torno do petróleo, o ambiente internacional também está negativo. Os índices futuros das bolsas de Nova York exibem perdas aceleradas, já que o otimismo sobre as negociações comerciais entre Estados Unidos e China diminuiu, juntamente com a perspectiva para a histórica cúpula do presidente norte-americana, Donald Trump, com o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-Un, em junho.
Já as preocupações com a estabilidade financeira da Turquia renova sucessivos recordes de baixa da lira, prejudicando o desempenho das demais moedas de países emergentes. Esse comportamento deve interromper os dois dias seguidos de valorização do real, que vinha sentido o efeito da intervenção mais agressiva do Banco Central - e com um componente de incerteza sobre novas atuações.
Ao mesmo tempo, a busca por proteção em ativos seguros fortalece o iene, enquanto o juro projetado pelo título norte-americano de 10 anos (T-note) está no menor nível em mais de uma semana. As bolsas na Europa e na Ásia caem mais de 1%. Assim, é fato que a questão geopolítica abala os mercados lá fora, deixando os investidores mais nervosos e servindo de desculpa para recompor o fôlego, após o rali recente.
O destaque do dia é a ata da reunião de maio do Federal Reserve (15h), que pode calibrar as apostas em relação aos próximos aumentos da taxa de juros norte-americana. A expectativa é de que o documento atenue o tom suave (“dovish”) na comunicação, diante dos sinais de acúmulo de pressão inflacionária nos EUA.
Porém, não deve ser agora que Fed deve alterar a previsão para o total de apertos em 2018. Por ora, o cenário ainda contempla apenas mais dois aumentos, sendo o próximo já em junho. Mas é crescente a chance de o juro subir em setembro e, depois, em dezembro, à medida que crescem as expectativas para a alta dos preços no país no horizonte à frente.
Ainda na agenda econômica norte-americana, saem dados sobre a atividade nos setores industrial e de serviços em maio (10h45), sobre as vendas de imóveis residenciais novos em abril (11h) e sobre os estoques semanais de petróleo bruto e derivados no país (12h).
Internamente, o destaque fica com a prévia deste mês da inflação oficial ao consumidor brasileiro (IPCA-15). Em meio aos reajustes nos preços de combustíveis e à bandeira amarela na conta de luz, o indicador deve acelerar a alta e subir 0,27%, de +0,21% em abril.
Ainda assim, a taxa acumulada em 12 meses deve seguir abaixo do limite inferior do intervalo de tolerância perseguido pelo Banco Central (3%) pela quarta vez seguida, em 2,83%. Os números efetivos serão conhecidos às 9h. Antes, às 8h, saem o índice de confiança do consumidor em maio e a terceira leitura deste mês do IPC-S. À tarde, é a vez dos dados parciais sobre a entrada e saída de dólares neste mês (12h30).