Mercados olham para aparência
Mercados se enganam com movimento das Treasuries e não veem busca por proteção
Dose diária: Os mercados globais reagiram bem ao ataque surpresa do Hamas contra Israel. No primeiro pregão após o início do conflito no Oriente Médio, o Ibovespa subiu e o dólar caiu. O movimento doméstico acompanhou as bolsas de Nova York. Mas nesta terça-feira (10) a história pode ser outra. Apesar de os futuros dos índices acionários norte-americanos amanhecerem em alta, o mercado de bônus voltou a funcionar hoje, após a pausa ontem devido a um feriado nos Estados Unidos, e os investidores buscam por proteção. Não há, portanto, uma aversão ao risco nos mercados, o que abre espaço para uma recuperação dos ativos. Fato é que os investidores olham apenas para a aparência e se animam com o comportamento dos mercados, relegando a essência do movimento.
Os mercados globais até que reagiram bem ao ataque surpresa do Hamas contra Israel. No primeiro pregão após o início do conflito no Oriente Médio, o Ibovespa subiu 0,9% e o dólar caiu, fechando cotado a R$ 5,13. O movimento doméstico acompanhou as bolsas de Nova York na segunda-feira (9), onde o Dow Jones e o S&P 500 subiram 0,6%, cada.
Mas nesta terça-feira (10) a história pode ser outra. Apesar de os futuros dos índices acionários norte-americanos amanhecerem em alta, sinalizando mais um dia de pregão positivo em Wall Street, o mercado de bônus voltou a funcionar hoje, após a pausa ontem devido a um feriado nos Estados Unidos, e os investidores buscam por proteção.
A corrida por segurança promove um movimento clássico das Treasuries, onde a demanda desenfreada por títulos dos EUA resulta no aumento dos preços dos papéis e, consequentemente, há uma queda nos rendimentos (yields). Tanto que o bônus referencial de 10 anos (T-note) reabriu hoje bem abaixo da marca de 4,8%, depois de revisitar níveis não vistos desde a crise de 2008.
É exatamente esse alívio no chamado juro projetado dos bônus norte-americanos que abre espaço para uma recuperação dos ativos de risco. As bolsas europeias, por exemplo, sobem cerca de 1,5%, lideradas por Frankfurt, após uma sessão de ganhos na Ásia, onde Hong Kong subiu pela quarta sessão seguida. Xangai, por sua vez, fechou em queda.
Esse desempenho lá fora deve ser acompanhado pela bolsa brasileira. Ao menos é o que indica o Ibovespa em dólar (EWZ), negociado no pré-mercado em Nova York, onde indica alta de quase 1%. Os recibos de ações (ADRs) da Petrobras e da Vale também sobem forte, apesar da queda nos preços do petróleo e do minério de ferro no exterior.
Mercados não veem a essência
Não há, portanto, uma aversão ao risco nos mercados, mas sim uma fuga para ativos seguros, o que abre espaço para uma recuperação dos ativos mais arriscados. À primeira vista, fica a sensação, então, de que a queda das taxas nos EUA significa que o Federal Reserve pode promover um pivô e dar início aos cortes nos juros, lançando estímulos monetários ao sistema financeiro. Ou, ao menos, interromper de vez o aperto.
Porém, engana-se quem vê o movimento de hoje como uma percepção de que a guerra declarada por Israel será localizada. Afinal, ainda é cedo para afirmar isso e não é possível mensurar os efeitos econômicos advindos da gravidade e da duração do conflito, bem como em que medida irá se espalhar na região.
Fato é que os investidores olham apenas para a aparência e se animam com o comportamento das diferentes classes de ativos, relegando a essência do movimento. Isso porque são as implicações geopolíticas que estão em xeque, com o foco agora se deslocando do Leste Europeu para o Oriente Médio, enquanto Taiwan segue em alerta.
A questão, portanto, não é exatamente qual será o apelo do Hamas à decisão de juros do Fed, mas sim quem será a próxima vítima e qual será próximo episódio ‘economicamente ilógico’ que irá acontecer. Assim, ao não olhar para a violência em disputa, o mercado se ilude apostando que a injeção de liquidez é capaz de comprar a tranquilidade geopolítica.
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Confira o desempenho dos mercados globais por volta das 7h30:
EUA/Futuros: Dow Jones +0,19%; S&P 500 +0,18% e Nasdaq +0,25%;
NY: Ibovespa em dólar (EWZ) +0,70% no pré-mercado; nos ADRs, da Petrobras +1,16% e da Vale +2,80%;
Europa: Stoxx 600 +1,49%; Frankfurt +1,64%; Paris +1,46%; Londres +1,50%;
Ásia/Fechamento: Tóquio +2,43%; Hong Kong +0,84%; Xangai -0,70%;
Câmbio: DXY -0,19%, 105.89 pontos; euro +0,28%, a US$ 1,0599; libra +0,25%, a US$ 1,2270; dólar +0,30% ante o iene, a 148,95 ienes;
Treasuries: rendimento da T-note de dez anos em 4,671%, de 4,804% na sessão anterior; o rendimento da T-bill de 2 anos estava em 4,991%, de 5,080% mesma comparação;
Commodities: ouro +0,32%, a US$ 1.870,30 a onça na Comex; petróleo WTI -0,61%, a US$ 85,83 o barril; Brent -0,35%, a US$ 87,85 o barril; o contrato futuro do minério de ferro (janeiro/24) fechou em queda de 1,74% em Dalian (China), a 819 yuans após ajustes (~US$ 112).