Mercados põem à prova ‘efeito janeiro’
Mística de que ativos se valorizam no primeiro mês do ano está em xeque após rali de tudo
Dose diária: 🚨 O Ibovespa começou 2024 com o pé esquerdo. Depois de encerrar o ano passado com alta de mais de 20%, encerrou o primeiro pregão do ano-novo em queda de mais de 1%.
📅 Esse início negativo põe em xeque o chamado “Efeito Janeiro” nos mercados globais. A ideia é que os investidores se desfazem de posições perdedoras ao final do ano anterior e assumem maior exposição ao risco.
📈 Porém, esse efeito janeiro parece ser realmente um mito. Ainda mais, diante do “rali de tudo” nos últimos dois meses de 2023, há poucos ajustes a serem feitos.
O Ibovespa começou 2024 com o pé esquerdo. Depois de encerrar o ano passado com alta de mais de 20%, o principal índice acionário da bolsa brasileira fechou em queda de mais de 1% no primeiro pregão do ano-novo, queimando dois degraus e voltando à marca dos 132 mil pontos.
O desempenho aqui ficou no meio do caminho em relação ao observado em Nova York, onde o S&P 500 e o Nasdaq lideraram as perdas. Nesta manhã, o sinal negativo prevalece no mercado futuro nos Estados Unidos, indicando que os índices acionários podem ter dificuldades para cravar a primeira sessão de ganhos de 2024.
Esse início negativo das bolsas aqui e lá fora põe em xeque o chamado “Efeito Janeiro” nos mercados globais. O termo é famoso em Wall Street e se refere à mística de que os ativos se valorizam no primeiro mês de cada ano. A ideia é que os investidores se desfazem de posições perdedoras ao final do ano anterior e assumem maior exposição ao risco.
Porém, olhando a série histórica, esse efeito janeiro parece ser realmente um mito. Desde o início dos anos 2000, o Ibovespa encerrou o mês no vermelho em 14 ocasiões, enquanto o S&P 500 teve 13 resultados negativos. Além disso, diante do “rali de tudo” nos últimos dois meses de 2023, há poucos ajustes a serem feitos, com os preços já bastante esticados.
📅 Agenda calibra janeiro
Agora, resta apenas esperar a confirmação do cenário projetado pelo mercado, de cortes nos juros pelo Federal Reserve em breve, talvez já neste primeiro trimestre. Se confirmado, abre-se espaço para uma taxa Selic de apenas um dígito ao final do ciclo de queda, com o dólar podendo testar a faixa de R$ 4,00.
A ata da reunião de dezembro do Fed, que sai na tarde (16h) desta quarta-feira (3), tende a calibrar as apostas sobre o momento exato do início dos cortes na taxa dos Estados Unidos. Por ora, março está com pouco mais de 70% de chance de recuo de 0,25 ponto porcentual (pp), que seria seguido de uma nova queda de mesma magnitude em maio.
Vale lembrar que no último encontro de 2023, o presidente do Fed, Jerome Powell, surpreendeu com uma “virada suave” (dovish), abrindo o debate no mercado sobre quantos cortes nos juros dos EUA haverá ao longo de 2024. Assim, um tom dovish do documento reforça a expectativa de março, enquanto uma mensagem mais dura (hawkish) desloca a aposta para o segundo trimestre.
Nos próximos dias, a agenda econômica norte-americana pode trazer pistas adicionais. Amanhã (4) e sexta-feira (5) saem os números sobre o emprego no setor privado dos EUA e os dados oficiais sobre a folha de pagamentos (payroll), respectivamente. Hoje, é a vez do relatório Jolts (12h) sobre a abertura de postos de trabalho.
Por aqui, a produção industrial em novembro (sexta-feira) junta-se aos dados de atividade ao redor do mundo já conhecidos nesta semana e aos índices sobre os setores da indústria e de serviços nos EUA, a partir de quinta-feira (4). Neste dia, tem também o índice de preços ao produtor brasileiro (IPP) em novembro.
🐲 China em 4722
Mas o que chamou a atenção foram os resultados contrastantes sobre a indústria na China, que deram a largada do ano. Enquanto o índice calculado pelo Caixin/S&P Global registrou o segundo mês consecutivo de expansão em dezembro, indo a 50,8, o número oficial seguiu em território de contração e atingiu o menor nível em seis meses, a 49,0.
Essa diferença se dá porque a metodologia do índice privado abrange um maior número de pequenas e médias empresas. Já o indicador do governo chinês representa um número maior de grandes empresas e conglomerados estatais. Portanto, os números antagônicos mostram que os estímulos localizados de Pequim estão surtindo efeito na atividade.
Mas os investidores seguem desconfiados com o gigante emergente. Tanto que o mercado acionário chinês encerrou 2023 com o pior desempenho no mundo, com os índices CSI 300 e Hang Seng, de Hong Kong, caindo 10%, cada. Talvez lá - e só lá - o “Efeito Janeiro” faça sentido. Afinal, mais alguém acredita que o dragão chinês virou mesmo lagartixa?
Aliás, o ano novo na China só começa em fevereiro, quando o país celebra a chegada do ano 4.722, que será regido pelas forças do Dragão de Madeira. Na astrologia oriental chinesa, este animal mitológico traz consigo sorte e exuberância, com grande disposição para realizar o impossível - quem sabe, até, um rali em janeiro.
💊 Pílulas do Dia
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⏰️ Confira o desempenho dos mercados globais por volta das 7h15:
EUA/Futuros: Dow Jones -0,17%; S&P 500 -0,24% e Nasdaq -0,44%;
NY: Ibovespa em dólar (EWZ) -0,79% no pré-mercado; nos ADRs, Vale -0,45% e Petrobras +0,19%;
Europa: índice Stoxx 600 -0,53%; Frankfurt -0,67%; Paris -1,12% e Londres -0,35%
Ásia/Fechamento: Tóquio -0,22%; Hong Kong -0,85%; Xangai +0,17%;
Câmbio: DXY +0,11%, 102.32 pontos; euro -0,04%, a US$ 1,0937; libra +0,06%, a US$ 1,2627; dólar +0,48% ante o iene, a 142,68 ienes;
Treasuries: rendimento da T-note de dez anos em 3,974%, de 3,936% na sessão anterior; o rendimento da T-bill de 2 anos estava em 4,349%, de 4,333% mesma comparação;
Commodities: ouro -0,40%, a US$ 2.065,90 a onça na Comex; petróleo WTI -0,93%, a US$ 69,75 o barril; Brent -0,50%, a US$ 75,50 o barril; o contrato futuro do minério de ferro mais líquido (maio/24) fechou em +2,38% em Dalian (China), a 1.013 yuans após ajustes (US$ 141,48).