Mercado volta a pleno vapor
Após duas semanas de feriados no Brasil e nos Estados Unidos prejudicarem a liquidez dos negócios, o mercado financeiro inicia a última semana de novembro em um patamar positivo, com a maioria dos ativos de risco subindo. A aprovação do acordo do Brexit pela União Europeia (UE) sustenta o euro e a libra, enquanto o barril do petróleo WTI se distancia da marca de US$ 50, mas o minério de ferro despenca.
Os índices futuros das bolsas de Nova York também estão em alta, depois do tombo em Wall Street na semana passada, em meio à expectativa de vendas recordes durante a Cyber Monday, que deve gerar quase US$ 8 bilhões de compras online em apenas um dia. Na Ásia, as bolsas de Tóquio (+0,65%) e de Hong Kong (+1,5%) subiram, enquanto Xangai (-0,15%) caiu. As principais bolsas europeias também caminham para uma abertura em alta.
Líderes da UE decidiram ontem aprovar um acordo sobre a saída do Reino Unido do bloco europeu no ano que vem, dando início ao Brexit. O acordo ainda precisa ser aprovado pelos parlamentos do Reino Unido e da União Europeia, o que deve acontecer em dezembro e janeiro, respectivamente.
Em reação, o euro se sustenta abaixo de US$ 1,15 e a libra é cotada abaixo de US$ 1,30. Enquanto a primeira-ministra britânica, Theresa May, elogiou o acordo, dando início a um novo capítulo para a Inglaterra, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, disse que a partida do Reino Unido é uma “tragédia”.
Assim, o movimento dos mercados no exterior parece ser de recuperação pontual e não uma mudança na dinâmica recente, tendo como pano de fundo a desaceleração do crescimento econômico global e o processo de alta dos juros nos Estados Unidos. Sem mudança nesse cenário, a tendência continua sendo de um ambiente de queda das commodities e das bolsas, com o dólar forte e pressão nos ativos emergentes.
Esses temas devem seguir no radar dos investidores, sendo que os próximos dias reservam uma série de indicadores e eventos relevantes, capazes de trazer pistas sobre a relação entre as duas maiores economias do mundo e sobre a perspectiva do Federal Reserve no processo de normalização monetária.
Amanhã sai a confiança do consumidor norte-americano em novembro e, no dia seguinte, é a vez da primeira revisão dos números do PIB dos EUA no trimestre passado. Também na quarta-feira, destaque para o discurso do presidente do Fed, Jerome Powell. A quinta-feira traz os dados de outubro sobre a renda pessoal e os gastos com consumo no país.
Também no mesmo dia, o Fed publica a ata da reunião de novembro. Tanto o discurso de Powell quanto o documento referente ao mais recente encontro do Banco Central dos EUA podem traçar as perspectivas para 2019 e reforçar a preocupação da autoridade monetária com o impacto da guerra comercial no crescimento econômico global.
O tema, aliás, deve ser discutido entre os líderes Donald Trump e Xi Jinping, durante a cúpula do G-20, que começa na sexta-feira, em Buenos Aires. Apesar de ambos afirmarem que estão preparados para o encontro, a postura de Washington e Pequim - que estariam forçando países aliados a se posicionarem, visando influência/hegemonia global - reduz o otimismo quanto à resolução de impasses econômicos.
Já no Brasil, a agenda econômica está repleta de indicadores relevantes, com destaque para a divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre deste ano, na sexta-feira. A previsão é de continuidade no ritmo lento de recuperação da atividade, ainda que ganhando um pouco de tração e ampliando a sequência de resultados positivos sucessivos.
Um dia antes, saem os dados atualizados até outubro sobre o desemprego no país e também o resultado de novembro do IGP-M. Também na quinta-feira serão conhecidas as sondagens de novembro sobre a confiança nos setores industrial e de serviços. Hoje é a vez da sondagem do consumidor (8h); amanhã, da construção civil e, na quarta-feira, do comércio.
Ainda na quarta-feira, tem também o índice de preços no atacado (IPP) em outubro. Para hoje, estão previstos também o relatório de mercado Focus (8h25) e os dados semanais da balança comercial (15h). Lá fora, o calendário do dia está esvaziado hoje.
O mercado doméstico também deve repercutir a notícia de que o presidente Michel Temer estaria pronto para sancionar, nos próximos dias, o reajuste salarial de 16,38% para ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), aprovado no início do mês pelo Senado. A decisão tende a provocar um efeito cascata em todo o Judiciário, impactando as contas públicas em 2019.
Em troca, a Suprema Corte deve restringir o pagamento do auxílio-moradia aos magistrados, de modo a compensar o impacto nos cofres do governo. Porém, a associação que representa os juízes afirma que a União e os estados têm condições financeiras de bancar o aumento dos salário e o auxílio-moradia simultaneamente, sinalizando os embates entre os três Poderes que o próximo governo pode ter de enfrentar. A conferir.