Mercado testa fôlego
O alívio no mercado financeiro ontem, quando números mais fracos de inflação no Brasil e nos Estados Unidos reforçaram as apostas sobre o rumo da taxa de juros nesses países, pode ter continuidade hoje, em meio à agenda econômica menos relevante do dia. O investidor tenta manter o apetite por ativos de risco, acionando o modo risk on, mas o fôlego de alta dos negócios parece encurtado.
Os índices futuros das bolsas de Nova York amanheceram sem uma direção definida, oscilando na linha d’água, um dia após o Dow Jones voltar a acumular ganhos em 2018. Na Europa, o sinal positivo tampouco tem força e algumas praças migraram para o vermelho, após uma sessão de valorização na Ásia - à exceção de Xangai (-0,35%). Nas commodities, os metais básicos recuam.
O petróleo, por sua vez, exibe leves perdas, mas sustenta-se acima da faixa de US$ 70, diante da ausência de trégua na tensão geopolítica no Oriente Médio. O dólar também está de lado, ao passo que o juro projetado pelo título norte-americano de 10 anos (T-note) segue abaixo de 3%, com o mercado se consolando que a taxa de juros nos EUA pode não subir tão rapidamente quanto se temia.
Os dados de inflação ao consumidor (CPI) e ao produtor (PPI) nos EUA, divulgados nesta semana, combinados com os números sobre o mercado de trabalho (payroll) no país, na sexta-feira passada, contribuem para as chances de apenas mais duas altas no juro norte-americano neste ano - em vez de três até dezembro. As leituras de todos esses indicadores abaixo do esperado enfraquece dólar e bônus, favorecendo bolsas e commodities.
Assim, ao menos por enquanto, a turbulência já passou, o que abre espaço para um rali de alívio nos negócios, dissipando alguns riscos de curto prazo. O encontro entre os líderes dos EUA e da Coreia do Norte em 12 de junho na Cingapura também ajuda a melhorar o sentimento. Mas isso não significa que o mercado global está imune a novas perturbações. Apenas mostra que a vulnerabilidade dos ativos, principalmente emergentes, diminuiu bem.
Ainda mais aqui no Brasil, onde o cenário eleitoral bastante indefinido pode começar a incomodar mais. O investidor começa a dar maior peso a um possível aliança entre o candidato tucano Geraldo Alckmin e o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles (MDB), no que seria “a chapa dos sonhos” do mercado doméstico, emplacando uma proposta de viés reformista.
Na outra ponta, é crescente a atenção dada às movimentações do principal candidato de esquerda, Ciro Gomes (PDT), em busca de apoio da classe empresarial. Tudo isso, após a desistência do outsider Joaquim Barbosa, que assustou ao largar na frente de concorrentes tradicionais, aparecendo com dois dígitos nas pesquisas de intenção de voto.
Ou seja, de um lado e de outro, o alvo, agora, é o líder na corrida, Jair Bolsonaro (PSL), visando chegar ao segundo turno das eleições. Mas, até lá, ainda vai haver muito burburinho sobre possíveis alianças e prováveis candidatos. Ao menos até agosto, quando houver o registro das candidaturas e, depois, até meados de setembro, quando a Justiça eleitoral validar os nomes.
Já a agenda econômica perde força nesta sexta-feira. Ainda assim, traz como destaque no Brasil o desempenho do comércio varejista em março (9h). A previsão é de alta de 0,3% em relação a fevereiro, quando o varejo decepcionou e caiu 0,2%. Já na comparação com um ano antes, as vendas devem crescer pelo décimo segundo mês seguido, em +5%.
Trata-se do único indicador doméstico previsto para o dia. Na safra de balanços, destaque apenas para os balanços das empresas de energia elétrica Cesp e Eletropaulo. Já no exterior, o calendário também está mais fraco, com números preliminares de maio sobre a confiança do consumidor norte-americano (11h) e os preços de importação nos EUA em abril (9h30).