Mercado tem dia de alívio
O dia seguinte ao caos no mercado financeiro é de recuperação estelar dos ativos de risco, o que revela a elevada volatilidade nos negócios globais, diante das incertezas em relação à economia global. Os investidores mostram-se animados, após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sinalizar a isenção de impostos na folha de pagamento e outras medidas de benefício fiscal.
Em reação à notícia, os índices futuros das bolsas de Nova York sobem mais de 2% nesta manhã, um dia após Wall Street amargar perdas de mais de 7%, na maior queda diária desde a crise de 2008. O comportamento mostra a esperança de que um esforço conjunto - monetário, fiscal e regulatório - por parte de governos e bancos centrais pode acalmar os mercados.
Trump afirmou que mais detalhes serão divulgados hoje e sinalizou que as medidas visam ajudar não apenas as empresas, mas também os assalariados, “para que eles possam estar em uma posição em que nunca perderão um salário”. A Casa Branca deve solicitar ao Congresso a aprovação rápida dessas medidas fiscais.
O sinal positivo em Wall Street abriu espaço para as bolsas da Ásia engatarem uma recuperação, apagando as perdas registradas durante o pregão. As praças da China lideraram os ganhos, com +1,5% em Hong Kong e +1,8% em Xangai, enquanto Tóquio avançou 0,9% e Seul teve alta de 0,4%.
As principais bolsas europeias também caminham para uma abertura no azul, digerindo também a decisão do governo da Itália de decretar quarentena em todo o país, limitando entradas e saídas em território local. A “terra da bota” é o país europeu que mais sofre com o surto de coronavírus, somando mais de 450 mortes e mais de 9 mil casos.
Já o petróleo se recupera do tombo de ontem, quando registrou o maior recuo desde a Guerra do Golfo, em 1991. O barril dos tipos WTI e Brent sobe mais de 5%, cada, cotado acima da faixa de US$ 30. Já os ativos tidos como porto seguro devolvem parte do movimento da véspera, com o franco suíço, o iene e as Treasuries se retraindo.
Urso em pele de cisne
Mas ainda é cedo para dizer que já é o momento de recompor os preços dos ativos de risco e aproveitar para comprar oportunidades. Tampouco há motivos para mais pânico. Afinal, o cenário ainda está repleto de incertezas em relação à economia global e essas dúvidas tendem a permanecer no curto prazo.
A questão é que o impacto econômico do surto de coronavírus estava sendo, aos poucos, “precificado”, após o mercado se dar conta de que o efeito da doença não ficaria restrito apenas à China. Mas a disputa entre Arábia Saudita e Rússia envolvendo o petróleo é um fato totalmente inesperado e pode ter severas consequências - inclusive geopolíticas.
Diante de tantas dúvidas, os ativos que mais se valorizaram no rali do mercado de alta (bull market) são os que mais devolvem esses ganhos. Mas ainda é cedo para dizer que a era de mais de dez anos dos touros chegou ao fim, por mais que os ursos estejam se aproximando com seu mercado de baixa (bear market), cobertos de penas negras de cisne.
Como resultado, as bolsas aparecem na dianteira entre os destaques globais de queda, ao passo que o dólar é tido como porto seguro frente às moedas de países emergentes. Isso explica, por exemplo, o tombo de mais de 10% do Ibovespa ontem, na maior queda diária desde a crise russa, em 1998, encerrando no limiar dos 86 mil pontos.
Já o dólar só não subiu mais que 2% nem foi além de R$ 4,80 porque o Banco Central vendeu quase US$ 3,5 bilhões das reservas internacionais apenas ontem. E a autoridade monetária já deixou programada para hoje cedo (9h10) a oferta de mais US$ 2 bilhões em leilão no mercado à vista.
A ver quanto mais desse “colchão de liquidez” o BC terá de se desfazer para domar o dólar, ainda mais se levar a cabo a indicação de cortar a taxa básica de juros na semana que vem. Nos bastidores, o presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, já discute a possibilidade de o país ter juro real negativo em breve.
Dia de agenda cheia no Brasil
A agenda econômica doméstica está repleta de divulgações relevantes. O destaque fica com o desempenho da indústria nacional no primeiro mês deste ano. Após as quedas registradas nos últimos dois meses de 2019, a expectativa é de alta de 0,60% em janeiro. Já em relação a um ano antes, a produção do setor deve cair pela terceira vez, em -1,0%.
Os resultados efetivos serão conhecidos às 9h. No mesmo horário, sai uma nova estimativa para a safra brasileira de grãos neste ano. Antes, logo cedo, serão conhecidos números regionais sobre a inflação ao consumidor (IPC). Já no exterior, merece atenção apenas a leitura final do PIB da zona do euro no quarto trimestre do ano passado.