Mercado olha para 2019
O mercado financeiro brasileiro tende a continuar refém das eleições, em meio à expectativa pela votação no domingo, mas o cenário externo de maior aversão ao risco pode pesar no pregão de hoje. Por aqui, com a percepção de que Jair Bolsonaro entra na reta final do segundo turno como franco favorito, os investidores ficam mais atentos a questões como programa econômico, equipe ministerial e a base de apoio do novo governo no Congresso.
Essa discussão pós-eleições é muito mais relevante e, por ora, há muitas incertezas no ar. Por enquanto, o mercado financeiro está adotando uma visão construtiva, vendo o copo meio cheio e dando um voto de confiança ao governo Bolsonaro a partir de 2019, apostando em uma agenda liberal-reformista.
Porém, há uma série de questões que seguem em aberto. O grau de autonomia do futuro ministro da SuperPasta da Economia, Paulo Guedes, e como se dará a condução da pauta econômica no ano que vem estão entre as principais perguntas. Mas também é fundamental aferir a governabilidade, pois muitas medidas dependem de aprovação do Legislativo.
Assim, as informações sobre a composição dos ministérios e as articulações políticas que possibilitem viabilizar a agenda econômica proposta pelo candidato devem entrar de vez no radar no curto prazo. Ou seja, na próxima segunda-feira já será confirmado o vencedor do pleito, mas isso não significa que as dúvidas acabaram.
Com isso, pode até se esperar um rali nos ativos brasileiros no fim de outubro, com o dólar vindo abaixo de R$ 3,65 e o Ibovespa cravando uma nova máxima histórica, já na faixa dos 90 mil pontos. Mas para ir além, é preciso detalhar o plano de governo, anunciar os nomes da equipe econômica e avançar nas negociações com deputados e senadores.
Enquanto aguardam informações nessa esfera, os investidores recebem mais uma pesquisa do Ibope, à noite, que deve confirmar a ampla vantagem de Bolsonaro sobre Fernando Haddad. No primeiro levantamento do instituto após o início do segundo turno, a distância entre os candidatos estava em 18 pontos, com 59% dos votos válidos contra 41%.
Entre os indicadores econômicos, merece atenção a prévia deste mês da inflação oficial ao consumidor brasileiro, às 9h. Após registrar em setembro a menor taxa mensal deste ano, o IPCA-15 deve ganhar força e subir 0,6% em outubro, puxado pela alta dos preços em alimentos in natura (carnes, aves e ovos) e na gasolina.
Com isso, o resultado acumulado em 12 meses deve superar o centro da meta perseguida pelo Banco Central, indo a 4,6%. Ainda assim, o resultado não deve afetar a perspectiva de a inflação encerrar o ano dentro do alvo do BC, de 4,5%. Já no exterior, o calendário econômico está fraco, trazendo apenas o índice de confiança do consumidor de outubro (11h).
Lá fora, as atenções seguem voltadas para a segunda maior economia do mundo. O rali de dois dias na Bolsa de Xangai perdeu força e o índice Xangai Composto caiu pouco mais de 2% hoje, o que embute perdas de mais de 1% entre os índices futuros das bolsas de Nova York. As principais bolsas europeias também têm queda acelerada.
De um modo geral, os investidores buscam proteção em ativos seguros, saindo das ações, em meio ao início fraco da temporada de balanços, e encontrando refúgio no iene, no ouro e nos títulos norte-americanos. O juro projetado pelo papel de 10 anos dos Estados Unidos (T-note) afasta-se ainda mais da faixa de 3,20%, diante do aumento da demanda.
Já o petróleo é negociado no menor nível em cinco semanas, enquanto o dólar se fortalece. As ações e moedas de países emergentes e correlacionadas às commodities também estão no vermelho. A fuga para ativos de qualidade (flight to quality) reflete as preocupações geopolíticas espalhadas pelo mundo, que começam a pesar na confiança dos investidores.
Afinal, com o cenário global parecendo muito mais pessimista, já é hora de os mercados globais se prepararem para uma correção mais firme - inclusive no Brasil, onde o “benefício da dúvida” sobre o que será um governo Bolsonaro já está embutido no preço dos ativos locais.