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Mercado fica à deriva sem NY


A primeira sexta-feira de julho é típica de um mês de férias. Com as bolsas de Nova York fechadas hoje, por causa do feriado amanhã nos Estados Unidos pelo Dia da Independência, o mercado financeiro perde muito do referencial e deve ter uma sessão arrastada ao longo do dia. O baixo volume de negócios e a agenda econômica fraca diminuem o ímpeto dos ativos de risco, que devem ter poucas movimentações.


Na Ásia, o pregão foi mais agitado porque refletiu os ganhos da véspera em Wall Street, após os dados fortes sobre emprego nos EUA e relatos positivos sobre possíveis vacinas e tratamentos contra o coronavírus. O destaque ficou com a alta em Xangai (+2%), reagindo também ao avanço do índice dos gerentes de compras (PMI) do setor de serviços na China para o maior nível em dez anos, a 58,4 em junho, de 55 em maio, segundo o Caixin.


Hong Kong, por sua vez, subiu menos (+0,8%), monitorando a tensão entre EUA e China desde a aprovação pelo governo chinês da Lei de Segurança Nacional para a ex-colônia britânica. O presidente Donald Trump deve assinar sanções aprovadas pelo Senado e Pequim promete retaliar. Já na Europa, as principais bolsas abriram com oscilações laterais, alternando altas e baixas, sem um rumo definido, já refletindo a liquidez reduzida.


Nos demais mercados, o barril do petróleo segue rondando a faixa de US$ 40, em meio à expectativa de retomada da demanda pela commodity, que desapareceu nos últimos meses, quando as pessoas pararam de dirigir, os aviões ficaram estacionados em solo e as fábricas ficaram paradas. Entre as moedas, o dólar mede forças em relação às rivais, ao passo que o juro projetado pelo título norte-americano de dez anos está estável.


Dialética


Os investidores podem aproveitar o dia mais calmo hoje para tentar resolver o dilema em que vive o mercado financeiro, dividido entre os milhões de casos de coronavírus no mundo, que podem provocar novos solavancos na atividade global, e os trilhões de dólares injetados pelos bancos centrais, com o dinheiro correndo como água para onde há menos resistência. Há, portanto, uma tensão entre a saúde da economia e a saúde da população.


Para resolver esse impasse, é preciso levar em conta outras contradições. Afinal, a melhora apontada pelos dados econômicos em maio e junho terá continuidade nos meses à frente, reforçando a tese de que o pior do impacto da pandemia ficou para trás e que a retomada será em forma de “V”, ou a recente re-aceleração de casos de covid-19 irá resultar na reversão do relaxamento das medidas de isolamento social onde a economia foi reaberta?


Outro paradoxo vem da própria postura do Federal Reserve. Sabe-se que a alta em Wall Street é irmã siamesa da expansão monetária do balanço do Fed, que deve chegar à marca inédita de US$ 10 trilhões. O problema é que o Fed revelou nesta semana que, por ora, não está interessado em adotar um controle da curva de juros e também se opõe a taxa de juros negativa nos EUA. Mas ao querer evitar o último, a única alternativa lógica é a primeira.


Claro que também é importante os números do vírus. Os novos casos de covid-19 continuam aumentando nos EUA, com 55 mil infecções por coronavírus em um único dia, cravando o terceiro recorde de contágios diários nesta semana. Os diagnósticos se espalham pelo país, com quase 40 estados mostrando aceleração da doença. E, como o Fed vem dizendo, se esse número não diminuir, os dados econômicos não vão se sustentar.


Cedo ou tarde, esses conflitos - envolvendo a pandemia, o formato da recuperação econômica quando houver um mundo pós-coronavírus e os estímulos sem precedentes lançados pelos bancos centrais - terão de ser solucionados. E quanto mais desequilíbrios surgirem, como a escalada da tensão entre EUA e China, mais rápido o mercado financeiro irá descobrir como se dá na prática um oba-oba fora de compasso da realidade.


E isso também vale para o mercado doméstico. A sustentação do Ibovespa próximo à faixa dos 100 mil pontos, apesar da retirada recorde de recursos estrangeiros da renda variável, pouco reflete a inépcia do governo para combater a doença no país, que já soma mais de 1,5 milhão de casos e quase 62 mil vítimas. Já o dólar acima de R$ 5,30 mostra a preocupação com a questão fiscal interna e a chance de novo corte nos juros básicos (Selic), como se a agenda de reformas ou estímulos monetários adicionais fossem resolver o problema econômico do país.


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