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Em pausa


O mercado financeiro faz uma pausa nesta quinta-feira, com os investidores buscando um ponto de equilíbrio nos preços dos ativos, após a escalada no juro projetado do título norte-americano de 10 anos (T-note) para além de 3% engatar uma rodada de aversão ao risco. Mas isso não significa que o vaivém nos preços dos ativos acabou.

Ao contrário. A pressão nos bônus dos Estados Unidos (Treasuries) continua, assim como no dólar, com os negócios oscilando entre altas e baixas nesta manhã, sem um rumo definido. Da mesma forma, a volatilidade nas bolsas segue elevada, com a temporada de balanços tentando estabilizar as ações, mas alguns resultados decepcionantes não ajudam.

As principais praças na Europa ensaiam ganhos, apesar da queda de quase 80% no lucro do Deutsche Bank e do sinal negativo exibido timidamente pelos índices futuros em Wall Street, após uma sessão sem direção única na Ásia. Nas commodities, o petróleo sustenta-se em alta, após o presidente Donald Trump sinalizar que deve retirar o acordo nuclear com o Irã, lançando uma nuvem sobre a geopolítica no Oriente Médio.

As atenções lá fora também se voltam para a estratégia dos bancos centrais em relação aos estímulos monetários e para o ritmo da economia norte-americana. Um dia antes da divulgação da primeira prévia do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA nos três primeiros meses de 2018, o destaque fica com a decisão de política monetária do Banco Central Europeu (BCE), às 8h45, o que mantém o euro em alta.

A previsão é de que a taxa de juros na região da moeda única seja mantida em zero por algum tempo, mesmo com o fim do programa de recompra de bônus, previsto para setembro. Com isso, as atenções se voltam para a sinalização da autoridade monetária em relação aos próximos passos, o que deve vir da fala do presidente, Mario Draghi, a partir das 9h30.

Já nos EUA, os investidores querem saber se é factível manter o otimismo com a expansão econômica do país, apesar da volatilidade recente dos mercados e das ameaças ao comércio global. O problema é que, ainda que a maior economia do mundo siga crescendo em um ritmo saudável, há o temor de pressão inflacionária à frente.

O impacto da escalada dos preços das commodities industriais nos índices de inflação pode levar o Federal Reserve a ser mais firme no processo de normalização da taxa de juros, após ter promovido a primeira alta do ano em março. Por ora, as apostas de apenas mais dois aumentos seguem majoritárias, mas a chance de um total de quatro apertos é crescente.

A próxima reunião do Fed já é na semana que vem, nos dias 1 e 2 de maio, quando pode ser recalculado o plano de voo em 2018. Combinados, os receios de aumento da inflação e dos juros norte-americanos já pesam em diversos setores da atividade nos EUA, podendo atrapalhar o crescimento econômico.

Com isso, há um movimento de migração de recursos, com ativos mais seguros e com menor rendimento atraindo fluxos globais. Assim, países como o Brasil, que atravessa incertezas política e fiscal, acabam sendo mais suscetíveis ao chamado flight to quality.

A principal dúvida dos mercados domésticos é quem irá comandar o país a partir de 2019 e se o governo eleito irá tocar uma ampla agenda de reformas, com rigor fiscal. Com isso, o mercado doméstico também está à procura de um ponto de equilíbrio.

É fato que o intervalo de oscilação do dólar já mudou por aqui. Após encerrar ontem no maior valor desde junho de 2016, na quinta alta seguida, tudo indica que os R$ 3,50 viraram um novo teto, sendo que o piso estaria em torno de R$ 3,40.

O comportamento da moeda norte-americana também reflete uma política monetária mais suave (“dovish”) do Banco Central, com a taxa básica de juros (Selic) caindo, enquanto o rendimento dos títulos no exterior sobe. Assim, fica menos atrativa a diferença paga por aplicar nos bônus locais, onde o risco é maior, em relação aos títulos da dívida dos EUA e de outros países desenvolvidos, que são mais seguros.

Fica claro, então, o quão ruim tem sido a política monetária no Brasil. Afinal, o BC começou a cortar a Selic em um ritmo muito devagar, ainda nos idos de 2016, retardando a resposta da atividade, o que ajudou a esfriar a inflação, diante do baixo investimento dos empresários e do consumo das famílias e em meio a uma safra recorde de grãos.

Agora, o BC resolveu mudar a estratégia, se tornando super-suave justamente em um momento em que as condições financeiras no mundo começaram a se deteriorar, instigando uma busca por proteção. Daí então que a autoridade monetária está colhendo um crescimento pífio e um real fraco - mas ainda têm a inflação baixa.

A questão é: por quanto tempo os preços domésticos no atacado e no varejo vão resistir, especialmente se a eleição não for como o desejado? Afinal, um dólar mais forte pode pressionar os índices de inflação, que, por ora, têm ficado comportados, permitindo uma extensão do ciclo de cortes na Selic até o próximo mês, para o mínimo histórico de 6,25%.

Na agenda doméstica do dia, serão conhecidos os índices de confiança nos setores industrial e de serviços em abril, ambos às 8h, e também na construção civil (11h) em março. Às 9h, é a vez do índice de preços ao produtor no mês passado e, depois (10h30), saem dados sobre o crédito no país. Mas o destaque doméstico fica novamente com a temporada de balanços.

Antes da abertura do pregão local, serão publicados os resultados trimestrais do banco Bradesco e da fabricante de papel e celulose Klabin. Depois do fechamento da sessão, destaque para a varejista Pão de Açúcar e a rival no setor de papel e celulose Suzano. Já nos EUA, saem os pedidos semanais de auxílio-desemprego feitos no país e também as encomendas de bens duráveis em março, ambos às 9h30.

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