Mercado chama BC para agir no dólar
Após mostrar que está pronto para voltar a cortar a taxa básica de juros (Selic) já neste mês, o Banco Central terá de revelar uma estratégia mais agressiva no dólar. Afinal, de nada adiantou o leilão de até US$ 1 bilhão em swap cambial, anunciado ontem e que acontece logo cedo. A moeda norte-americana fechou em alta pela décima primeira sessão seguida, a maior sequência em 21 anos, renovando recordes e colada à marca de R$ 4,60.
O movimento do dólar reflete não apenas essa ação conjunta de estímulo monetário adicional por parte dos principais bancos centrais ao redor do mundo para conter os impactos econômicos do surto de coronavírus, como também a fraqueza da atividade brasileira, referendado pelo PIBinho de 2019, que desacelerou frente aos dois últimos anos. E o crescimento fraco e a moeda local depreciada podem minar a confiança em breve.
Por ora, o Ibovespa continua relegando a retirada maciça de recursos estrangeiros da renda variável e consegue se sustentar acima dos 100 mil pontos. Ainda assim, há certo desconforto com a saída recorde de capital externo pelo segundo mês seguido da Bolsa brasileira (mercado secundário), somando neste início de ano (R$ 40,1 bilhões) quase todo o saldo negativo apurado no ano passado (R$ 44,5 bilhões).
Fica, então, aquela sensação de déjà vu, com o futuro repetindo o passado, porém de modo piorado, o que pode acender o sinal de alerta no mercado financeiro doméstico. Afinal, até mesmo o derretimento dos prêmio nos juros futuros parece ser um problema, com o retorno dos investimentos em renda fixa no negativo à medida que o processo de ajuste na Selic se estende até que o país volte a crescer - sabe-se lá quando (se) isso vai acontecer.
Volatilidade reina
Depois de registrar a pior semana desde a crise de 2008, na reta final de fevereiro, Wall Street caminha a passos largos para o melhor desempenho semanal desde 2011. E esse movimento mostra a forte volatilidade que vem reinando suprema sobre os ativos globais, em meio às incertezas quanto aos impactos econômicos do coronavírus e à eficácia das medidas adotadas para conter o surto da doença.
Hoje é o dia da baixa. Os índices futuros das bolsas em Nova York amanheceram no vermelho, após o rali da véspera, voltando à realidade após a notícia de que a Califórnia declarou estado de emergência para ter maior margem de manobra no combate ao vírus. Já na China, o número de mortes pela doença ultrapassou os 3 mil.
Ainda assim, o sinal positivo prevaleceu na Ásia, com as bolsas de Xangai e de Hong Kong subindo ao redor de 2%, enquanto Tóquio e Seul avançaram pouco mais de 1%, após vários países da região liberaram quase US$ 40 bilhões na luta contra o surto viral. Os investidores esperam por mais medidas, na esperança de proteger a economia global.
Mas um senso de cautela volta a prevalecer no Ocidente, com o efeito de corte emergencial de juros promovido pelo Federal Reserve na terça-feira desaparecendo, à medida que a situação do vírus continua aumentando nos Estado Unidos e na Europa. Com mais de 100 mortes pela doença respiratória na Itália, escolas e estádios no país foram fechados.
Agenda cheia, sem destaques
A agenda econômica do dia está mais fraca hoje, em termos de indicadores relevantes. Ainda assim, merecem atenção novos indicadores sobre o mercado de trabalho nos EUA, com os pedidos semanais de auxílio-desemprego e o custo da mão de obra e da produtividade ao final do ano passado - todos às 10h30.
O calendário norte-americano traz também as encomendas às fábricas em janeiro (12h). Aqui no Brasil, está prevista apenas a divulgação do índice de preços ao produtor (IPP) em janeiro (9h), que pode sinalizar se um eventual choque de oferta por causa do coronavírus está pressionando os preços no atacado.
Na Europa, merecem atenção o discurso do presidente do Banco Central da Inglaterra (BoE), Mark Carney, à tarde. Ele deve aproveitar a oportunidade para sinalizar se o BC inglês irá seguir os passos do Federal Reserve e cortar os juros. Além disso, o cartel de países exportadores de petróleo (Opep) reúne-se para discutir os níveis de produção.