top of page

Mercado busca proteção de BCs para evitar contágio de vírus


O mercado financeiro confia na capacidade dos bancos centrais em proteger a economia (e os ativos de risco) da contaminação do coronavírus, que já ameaça a atividade global. Os investidores acreditam no adoção de novos estímulos monetários para impedir uma nova onda vendedora, caso o surto da doença interrompa a frágil estabilização econômica.


Por isso, as atenções de hoje se voltam para a decisão de juros do Federal Reserve (16h) e, principalmente, na entrevista coletiva do presidente da autoridade monetária, Jerome Powell (16h30). A expectativa é de que o Fed adote um tom mais suave (“dovish”), diante das incertezas na economia global vindas da propagação do vírus para além da China.


Ainda que Powell não assuma uma postura inclinada a novos cortes nos juros norte-americanos, ele tampouco deve indicar uma revisão de estratégia. Ou seja, o Fed não deve adotar um viés duro (“hawkish”), seja para elevar a taxa ou para reduzir a expansão do balanço. Assim, a autoridade monetária tende a “esperar para ver” (wait-and-see).


Afinal, uma demora no controle da epidemia - sob o risco de se transformar em uma pandemia - terá reflexos pelo mundo. Já está claro que o surto da doença afetou o consumo e o turismo na China, em plena comemoração do Ano Novo Lunar. Mas a produção industrial e os investimentos também deve ser atingidos, com as fábricas paralisadas.


Selic em xeque


Esses fatores podem prejudicar economias dependentes da demanda chinesa, como as do Sudeste Asiático, e também países exportadores de commodities, como o Brasil. Tanto que o mercado doméstico já dá como certo um novo corte, de 0,25 ponto, na Selic em fevereiro, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) reúne-se pela primeira vez neste ano.


Mais que isso, diante da expectativa de que o surto de coronavírus represente um risco negativo à atividade doméstica e com impacto desinflacionário, os investidores já contratam mais uma queda no juro básico brasileiro, em março. Com isso, é crescente a aposta de que a taxa Selic irá encerrar o primeiro trimestre de 2020 em 4%.


Isso reduziria ainda mais a atratividade no retorno pago pelos juros brasileiros em relação ao praticado em outros países, afastando o interesse do investidor estrangeiro (e do capital especulativo). Esse movimento tem se refletido nas constantes saídas de recursos do Brasil, o que mantém o dólar pressionado, testando a faixa de R$ 4,20.


Chama a atenção ainda fato de os “gringos” continuarem retirando recursos também da renda variável. No dado atualizado da Bolsa até a última sexta-feira (dia 24), o fluxo de capital externo está negativo em um valor mensal recorde, de R$ 13 bilhões, com o montante crescendo após retiradas diárias de mais de R$ 1 bilhão na semana passada.


Diante dessa dinâmica ruim, há quem diga que a continuação de uma abordagem suave (“dovish”) pelo Copom já não faz mais sentido. O mais adequado seria manter a Selic estável, em uma decisão dividida e com um discurso mais duro (“hawkish”), o que iria “ancorar” a curva a termo local e garantir um mínimo de estabilidade na taxa de câmbio.


Exterior à espera


Mas enquanto a reunião do Copom acontece apenas na semana que vem, a do Fed termina hoje. À espera do desfecho do primeiro encontro do BC dos Estados Unidos neste ano, os mercados internacionais dão pistas de que querem continuar melhorando, mas seguem vulneráveis às notícias vindas da China sobre o coronavírus.


Wall Street tem um dia agitado, com a temporada de balanços ganhando força e dividindo as atenções com a contaminação da doença respiratória em nível global. Os resultados trimestrais de Boeing, Facebook, McDonald’s, Microsoft e Tesla merecem atenção, sendo que o lucro e as vendas recordes da Apple já impulsionam os índices futuros de Nova York.


As principais bolsas europeias tentam acompanhar esse sinal positivo, mas são penalizadas pelo desempenho na Ásia. A Bolsa de Hong Kong voltou da pausa pelo feriado de Ano Novo Lunar e caiu quase 3%, diante do rápido crescimento dos casos de coronavírus na China. Cerca de 6 mil pessoas foram infectadas e mais de 130 mortes foram confirmadas.


As demais bolsa da região, porém, conseguiram registrar ganhos, com Tóquio subindo 0,7% e Seul avançando 0,4%. Na Austrália, a Bolsa de Sydney teve alta de 0,5%. Já as Bolsas de Cingapura e Indonésia tiveram leves baixas, enquanto a da Malásia ficou de lado. Nos demais mercados, o petróleo avança, mas o dólar segue forte. Entre os ativos seguros, o ouro e o rendimento (yield) dos títulos norte-americanos (Treasuries) recuam.


Agenda fraca de indicadores


Entre os indicadores econômicos, a quarta-feira está sem destaques. No Brasil, sai a leitura final da confiança da indústria em janeiro (8h), além dos dados do Banco Central sobre as operações de crédito em dezembro (9h30) e sobre a entrada e saída de dólares do país (fluxo cambial) até a sexta-feira passada (14h30).


Nos EUA, serão conhecidos novos números sobre o setor imobiliário, com as vendas pendentes de imóveis em dezembro (12h), e os dados semanais atualizados sobre os estoques de petróleo bruto e derivados no país (12h30). Logo cedo, na zona do euro, sai o índice de confiança GFK do consumidor alemão neste mês.


Posts Destacados
bottom of page