Juro que são os juros
Aversão ao risco se intensifica no mercado e o gatilho do movimento é o mesmo
Dose diária: Os mercados globais intensificam a aversão ao risco, com o gatilho para esse movimento ainda sendo o mesmo e apenas um: o aumento das taxas de juros nos Estados Unidos. Os investidores continuam adaptando-se à retórica agressiva dos bancos centrais, com o comportamento das Treasuries inibindo o apetite por ativos. O efeito disso é global e se dá através do fortalecimento do dólar e de uma forte pressão nas bolsas. E foi exatamente isso o que aconteceu ontem. O pano de fundo desse movimento é a perspectiva de juros mais altos por mais tempo. Os indicadores econômicos nos EUA realçam o tamanho do desafio, com os mercados em um “momento mágico”, em que quanto melhor os dados, pior para os ativos de risco. E isso vale também para o Brasil.
Os mercados globais intensificam a aversão ao risco. Pode-se falar o que quiser, mas o gatilho para esse movimento ainda é o mesmo e é apenas um: o aumento das taxas de juros nos Estados Unidos. Os investidores continuam adaptando-se à retórica agressiva dos bancos centrais, com o comportamento das Treasuries inibindo o apetite por ativos mais arriscados.
Isso porque os rendimentos (yields) dos títulos dos EUA estão renovando as máximas em 16 anos. O yield do papel referencial de 10 anos dos EUA (T-note) está acima de 4,8%, no maior nível desde julho de 2007, enquanto o do bônus norte-americano de 30 anos (T-bond) aproxima-se da marca de 5%, o que não era visto desde antes da quebra do Lehman Brothers. Essa elevação dos juros longos ocorre porque os curtos não vão cair.
O efeito disso é global e se dá através do fortalecimento do dólar e de uma forte pressão nas bolsas. E foi exatamente isso o que aconteceu ontem (3). A moeda norte-americana saltou quase 2% e fechou em R$ 5,15, no maior valor desde março, enquanto o Ibovespa acumula perdas de quase 3% apenas nas duas sessões de outubro, contaminado pelo estresse em Wall Street.
Momento mágico
O pano de fundo desse movimento é a perspectiva de juros mais altos por mais tempo, com o Federal Reserve tendo de seguir firme para controlar a inflação, diante de um ambiente mais desafiador, apesar do rali do petróleo perder vapor. Os indicadores econômicos nos EUA realçam o tamanho do problema, em meio à resiliência da atividade e a força do mercado de trabalho.
Assim, os mercados estão em um “momento mágico”, em que quanto melhor os dados, pior para os ativos de risco. Ou seja, a boa notícia é má notícia. Nesta quarta-feira (4) mais um dado de emprego, desta vez a pesquisa ADP sobre vagas no setor privado em setembro (9h15), pode reforçar essa tese, após o estrago causado pelo relatório Jolts.
Mas essa perspectiva é válida para o mundo. Tanto que na Alemanha, o bund de 10 anos ultrapassou os 3%, patamar não visto desde 2011, com o Banco Central Europeu (BCE) tendo de seguir a trilha do Fed. Essa premissa também é válida para o Comitê de Política Monetária (Copom) do Brasil.
Afinal, com os juros mais altos lá fora, o espaço para cortar a taxa Selic aqui fica ainda menor. Não se trata, então, de um problema local, ainda que o risco doméstico não possa ser descartado. Aliás, é nessa hora que as questões fiscais e os ruídos vindos de Brasília ficam mais latentes, mas só porque o plano de voo à velocidade de cruzeiro de 0,50 ponto percentual (pp) prevê uma queda ainda mais baixa do juro básico.
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Confira o desempenho dos mercados globais por volta das 7h30:
EUA/Futuros: Dow Jones +0,10%; S&P 500 +0,05% e Nasdaq -0,05%;
NY: Ibovespa em dólar (EWZ) -0,07% no pré-mercado; e ADRs da Petrobras -1,40%;
Europa: Stoxx 600 +0,37%; Frankfurt +0,22%; Paris +0,47%; Londres +0,18%;
Ásia/Fechamento: Tóquio -2,28%; Hong Kong -0,78%; Xangai fechada por feriado na China;
Câmbio: DXY -0,25%, 106.73 pontos; euro +0,37%, a US$ 1,0505; libra -0,41%, a US$ 1,2126; dólar +0,09% ante o iene, a 149,16 ienes;
Treasuries: rendimento da T-note de dez anos em 4,816%, de 4,804% na sessão anterior; o rendimento da T-bill de 2 anos estava em 5,138%, de 5,184% mesma comparação;
Commodities: ouro -0,18%, a US$ 1.838,20 a onça na Comex; petróleo WTI 2,13%, a US$ 87,34 o barril; Brent 1,95%, a US$ 89,15 o barril; Dalian sem pregão por uma semana devido a um feriado na China.