Irã contra-ataca, mas mercado evita pânico
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O petróleo volta a subir hoje, enquanto os índices futuros das bolsas de Nova York recuam nesta manhã, em reação a vários mísseis disparados pelo Irã contra duas bases dos Estados Unidos no Iraque. A escalada da tensão no Oriente Médio eleva o temor de um conflito mais amplo na região, provocando uma fuga por proteção em ativos seguros.
Mas o presidente norte-americano Donald Trump tratou de suavizar o contra-ataque, dizendo que “está tudo bem”, o que aliviou boa parte da tensão no mercado financeiro, após um surto de nervosismo entre os investidores, logo após os ataques iranianos. Trump, que dá sinais cada vez mais claros de que está em campanha pela reeleição, deve fazer um pronunciamento na manhã de hoje, sem horário definido.
Enquanto aguardam, os ativos de risco reduzem as perdas, o que tende a dirimir o impacto na abertura do pregão doméstico. Ainda assim, Wall Street amanheceu no vermelho, após uma sessão negativa na Ásia, pressionando o início dos negócios na Europa. Já o petróleo, o ouro e os títulos norte-americanos (Treasuries) reduziram os ganhos, após subirem forte.
O metal precioso superou a marca de US$ 1,6 mil por onça-troy, alcançando o maior nível desde 2013, ao passo que o barril do petróleo tipo WTI chegou a ser negociado acima de US$ 65. Por outro lado, o futuro do S&P 500 caiu quase 2%, na primeira reação dos investidores à retaliação iraniana, enquanto a bolsa de Tóquio recuou mais que isso.
O dólar, por sua vez, está à deriva e não exibe um rumo definido, perdendo terreno para o iene e a libra, mas avançando em relação ao euro, ao mesmo tempo em que mede forças frente às moedas de países emergentes e correlacionadas às commodities. Destaque para o dólar australiano, que avança.
Volatilidade volta a reinar
Ou seja, a única certeza é que a volatilidade volta a aparecer, com o mercado financeiro sem forças para firmar uma direção. Qualquer tentativa de recuperação dos ativos mais arriscados é limitada, visto que a situação geopolítica não está resolvida e ainda não se pode anular o risco de um potencial conflito entre EUA e Irã no Oriente Médio.
A dúvida, então, é se o tema continuará sendo um fator de aversão ao risco (risk off) no prazo mais longo. Como ainda não se sabe, qualquer movimento ensaiado pelos mercados não encontra sustentação e é facilmente revertido. Os investidores podem até “dar de ombros” para a situação, mas sabem que a tensão na região pode não terminar bem, o que inibe uma exposição maior ao risco.
A principal questão é saber se haverá algum impacto desse aumento de riscos geopolíticos na perspectiva para a economia global, em um momento de retomada da atividade. A tensão entre EUA e Irã pode reduzir o otimismo com o crescimento econômico em 2020, minando também as expectativas em torno de um acordo comercial sino-americano - que, aliás, segue sem novidades.
O foco dos investidores está principalmente no comportamento do petróleo. Afinal, se os preços da commodity firmarem uma tendência de alta acentuada, isso pode gerar mais inflação e menos crescimento no cenário global à frente. E o problema é que os bancos centrais não poderiam estimular a atividade em meio a acúmulos de pressão inflacionária.
Dia de agenda cheia
A agenda econômica ganha força a partir desta quarta-feira no Brasil, mas ainda assim deve ficar em segundo plano, diante da tensão externa. O destaque hoje fica com o IGP-DI, que deve registrar uma inflação salgada em dezembro, subindo quase 2%, e acumular taxa de quase 8% em 2019. Os números efetivos serão conhecidos às 8h.
Depois, às 9h, é a vez da inflação no atacado (IPP), livre de impostos e fretes, em novembro. No mesmo horário, sai a estimativa do IBGE para a safra agrícola ao final do ano passado e também para este ano. Por fim, às 14h30, o Banco Central informa os primeiros números de 2020 sobre a entrada e saída de dólares do país (fluxo cambial).
Já no exterior, destaque para a criação de emprego no setor privado norte-americano em dezembro (10h15). Os dados da ADP servem de prévia do relatório oficial (payroll), que sai na sexta-feira. Ainda na agenda dos EUA, saem os estoques semanais de petróleo bruto e derivados no país (12h30) e os dados sobre o crédito ao consumidor em novembro (17h).
Logo cedo, na Europa, será conhecida a leitura final sobre a confiança do consumidor e o sentimento econômico dos empresários na zona do euro no mês passado. No fim do dia, a China divulga os índices de preços ao consumidor (CPI) e ao produtor (PPI) em dezembro.