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Entre o ajuste fiscal e a agenda popular


A desconfiança do mercado financeiro em relação ao “teto dos gastos” e à permanência do ministro Paulo Guedes no cargo ficou ainda maior ontem, depois que o presidente Jair Bolsonaro surpreendeu pelo tom de “fritura”, ao suspender a proposta da equipe econômica para o Renda Brasil. Seduzido pelo aumento da popularidade, o governo quer um valor mais alto para o auxílio emergencial, sem revisar programas considerados ineficientes.


E esse impasse entre a responsabilidade fiscal defendida pelo ministro e a agenda popular pretendida pelo presidente eleva o nervosismo nos negócios locais. No pior momento do pregão ontem, o Ibovespa caiu mais de 2%, chegando a ser negociado abaixo dos 100 mil pontos, enquanto o dólar manteve-se acima de R$ 5,60 e o prêmio de risco nos juros futuros aumentou.


Ainda que a saída de Guedes tenha mais “cara de boato” do que fato, os investidores devem seguir com os nervos à flor da pele. Afinal, se permanecer no cargo, como ele fará para alinhar sua pauta liberal com as demandas eleitorais do governo? Estaria o Chicago boy (oldie) disposto em conciliar a agenda de reformas e a austeridade fiscal com políticas mais expansionistas, alocando recursos públicos em obras de infraestrutura?


Obviamente, há uma incompatibilidade de agendas. Se Guedes não reassumir o comando da Economia nem conseguir apresentar uma explicação detalhada e convincente de como os programas de governo que irão aumentar os gastos serão compensados pela redução das despesas, o mercado doméstico irá apostar que Bolsonaro vai sustentar o populismo, visando a reeleição em 2022.


Com isso, o impacto negativo sobre os ativos locais pode voltar a ocorrer. E a tensão política deve continuar ditando o rumo do mercado doméstico nos próximos dias, até que seja definida a data de divulgação do pacote, que irá definir a pauta econômica para o restante do governo. A expectativa é por um meio-termo entre a ala liberal e a desenvolvimentista, evitando soluções extremas, como a saída del Guedes. A conferir.


À espera de Powell


Enquanto aguardam novidades vindas de Brasília, o radar se desloca para Jackson Hole (Wyoming). O encontro anual de banqueiros centrais começa hoje, de forma virtual, com o discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell. Após a frustração com a ata da reunião em julho, quando o Fed evitou discutir estímulos adicionais, mas ressaltou “riscos consideráveis” à perspectiva econômica, será importante ouvir o que Powell tem a dizer.


Os investidores estarão em buscas de pistas em relação à atuação da política monetária para alcançar as metas de inflação e emprego, uma vez que a economia global ainda está sofrendo para se reerguer, ao mesmo tempo em que o coronavírus continua se espalhando pelo mundo. Por isso, a expectativa é de que Powell apresente novas ferramentas a serem usadas pelo Fed, a partir de setembro. A fala dele está prevista para as 10h10.


Antes, às 9h30, saem os pedidos semanais de auxílio-desemprego feitos nos Estados Unidos e a segunda leitura do Produto Interno Bruto (PIB) do país no segundo trimestre deste ano. A previsão é de que as solicitações sigam acima de 1 milhão e o tombo da economia gire em torno de 32% na taxa anualizada. Às 11h, saem dados do setor imobiliário norte-americano.


À espera desses eventos, os mercados internacionais estão no vermelho. Os índices futuros das bolsas de Nova York amanheceram com leves baixas, um dia após o S&P 500 e o Nasdaq fecharem em recorde de alta pela quarta e quinta sessão consecutiva. O sinal negativo vindo de Wall Street prejudica a abertura das bolsas europeias, que oscilam na linha d’água, após uma sessão mista na Ásia.


Tóquio (-0,4%) e Hong Kong (-0,8%) caíram, enquanto Xangai subiu (+0,6%), impulsionada pelo aumento de 19,6% no lucro industrial em julho, em base anual, acelerando-se em relação à alta de 11,5% no mês anterior e refletindo a recuperação nos setores automotivo e eletrônico. Nos demais mercados, o petróleo oscila em baixa, monitorando a chegada do furacão Laura nos EUA, ao passo que o dólar perde terreno para as moedas rivais.


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