Em direção ao Centro
A forte reação do mercado financeiro brasileiro à ampla vantagem de Jair Bolsonaro no primeiro turno das eleições presidenciais pode ter ocorrido apenas ontem. Mas os investidores tendem a seguir otimistas com a perspectiva de vitória da extrema-direita em 28 de outubro, colocando em prática uma agenda liberal e de reformas estruturais a partir de janeiro de 2019.
Ontem, os dois candidatos iniciaram um movimento em direção ao Centro, de modo a sair dos extremos e tentar cativar o eleitor (e os agentes econômicos) em relação às propostas de governo. Durante o Jornal Nacional, Bolsonaro já começou a desfazer as críticas à democracia - após passar a carreira defendendo a ditadura e a tortura - mas sem perder o tom autoritário, ao desautorizar, por exemplo, o vice na chapa, o general Hamilton Mourão.
Enquanto isso, o candidato do PT, Fernando Haddad, recuou da proposta de uma nova Constituição, afirmando que irá apenas propor emendas para fazer as reformas, ao mesmo tempo em que procura se afastar dos “fantasmas” de José Dirceu e do ex-presidente Lula. Para ele, a eleição presidencial deste ano é a defesa do jogo democrático.
Apesar desse compromisso dos dois candidatos com a democracia e o movimento em direção ao Centro, saindo dos polos, a maior renovação do Congresso Nacional nos últimos 20 anos reduziu a preocupação em relação à governabilidade. PT e PSL conquistaram, respectivamente, a primeira e a segunda maiores bancada de deputados.
Além disso, forças conservadoras na Câmara tendem a facilitar as propostas liberais de Bolsonaro, rumo à defesa dos valores da família e da segurança. Mas a composição partidária nas duas Casas continua fragmentada, com vários nanicos, o que ainda se apresenta como obstáculo ao próximo presidente - seja ele quem for.
No curto prazo, é o total de quase 20 milhões de votos que tende a animar os negócios locais. Com essa grande diferença sobre Haddad no primeiro turno das eleições, o resultado já parece dado: Bolsonaro será eleito daqui a três semanas. A forte rejeição ao PT e aos partidos de esquerda, tidos como menos comprometido com o ajuste fiscal, endossa esse favoritismo.
Aliás, foi esse desempenho expressivo do candidato do PSL que fez a Bolsa brasileira subir 4,5% ontem, na maior alta diária desde março de 2016 e com um volume financeiro recorde, ao passo que o dólar caiu mais de 2%, no maior tombo desde junho deste ano. As taxas dos contratos futuros de juros também derreteram, com os investidores passando a rever a chance de a Selic subir neste ano ou já no início do próximo.
A campanha eleitoral para o segundo turno está apenas começando, sendo que o horário político só terá início na sexta-feira, feriado nacional. Tanto Bolsonaro quanto Haddad terão direito a 5 minutos de propaganda gratuita na TV, totalizando dois blocos diários de 10 minutos para cada. Espera-se um encontro frente a frente dos dois candidatos na tela na Band, em debate previsto para amanhã ou quinta-feira.
Já no front econômico, a agenda doméstica está repleta de indicadores de menor relevância. Ainda assim, merecem atenção os dados regionais da inflação ao consumidor em outubro (8h) e da produção industrial em agosto (9h). No exterior, o calendário está esvaziado, tanto nos Estados Unidos quanto na Europa.
Lá fora, a pressão renovada sobre os rendimentos (yields) dos títulos norte-americanos (Treasuries) continua preocupando os mercados. O bônus de 10 anos dos EUA (T-note) renovou a máxima em sete anos, superando a barreira de 3,25%. É o maior patamar desde abril de 2011 e acontece dias antes de um leilão de US$ 230 bilhões em venda de títulos.
Esse movimento pressiona os negócios com ações, deixando uma sinalização negativa em Nova York. Na Europa, as principais bolsas ensaiam ganhos, ajudadas pelas ações de mineradoras após o salto do minério de ferro em Dalian, enquanto na Ásia, Tóquio caiu, mas Xangai se segurou após as perdas aceleradas da véspera, quando teve a maior queda em três meses. Já o petróleo sobe, tentando reaver a faixa de US$ 75 por barril do tipo WTI.
Os investidores também digerem as previsões do FMI, que reduziu a estimativa de crescimento econômico global pela primeira vez desde 2016. Para o Fundo, a tensão comercial entre EUA e China é o principal responsável dessa perda de tração da atividade mundial e há o risco de uma nova crise financeira no horizonte à frente. A conferir.