Economia parada, com ou sem feriado
A semana que encerra o mês de maio começa com feriado nos Estados Unidos e no Reino Unido, o que reduz a liquidez do mercado financeiro pelo mundo. No Brasil, a pausa pelo Dia de Corpus Christi está prevista apenas para quinta-feira, mas a paralisação dos caminhoneiros já tem interrompido as atividades econômicas regulares há cerca de uma semana.
O tema deve continuar na pauta doméstica nesta segunda-feira, com o investidor ainda avaliando os impactos no cenário econômico do país e já vislumbrando uma nova greve - desta vez, dos petroleiros, a partir de quarta-feira. A única certeza, por ora, é que a crise do diesel, que se espalhou por vários setores, gera dois custos: na atividade e na inflação.
Os preços de vários produtos ficaram mais salgados nos últimos dias, em meio à escassez na oferta, por causa da interrupção no serviço de entrega pelos caminhões. Sem o fornecimento de bens de consumo pelos distribuidores, muitas lojas e supermercados simplesmente fecharam as portas, com os funcionários sequer conseguindo chegar ao local de trabalho.
Há indícios de que a paralisação dos caminhoneiros termine hoje, após o presidente Michel Temer ceder a todas as exigências do movimento. Representantes da categoria se disseram satisfeitos com as medidas anunciadas, que já foram publicadas em edição extra no Diário Oficial da União. Já o abastecimento deve levar de uma semana a dez dias para normalizar.
Das três medidas provisórias prometidas por Temer, a primeira determina que 30% dos fretes sejam feitos por caminhoneiros autônomos. A segunda trata do preço mínimo para o frete, enquanto a terceira prevê a isenção de cobrança de pedágios em veículos com eixos suspensos. Foi ainda definida uma redução de R$ 0,46 no diesel por 60 dias.
O acordo firmado pelo governo deve ter impacto de mais de R$ 10 bilhões contas públicas, colocando a questão fiscal de volta ao radar do mercado financeiro doméstico. Os números desencontrados sobre os subsídios firmados pela União para garantir diesel mais barato, cobrindo os recursos via crédito extraordinário do Tesouro, reacenderam o sinal de alerta.
No front político, a decisão do presidente de acionar as forças federais para desobstruir as rodovias evidenciou o desespero, mas serviu para atuar contra os grevistas. Ainda assim, ficou clara a fragilidade do governo que, sem apoio no Congresso e rejeitado pela sociedade, não teve força para enfrentar a questão de modo adequado e concedeu todas as demandas.
Resta saber como o Palácio do Planalto irá lidar com o movimento de advertência prometido pelos petroleiros até sexta-feira.
A categoria sabe que desde que o presidente da Petrobras, Pedro Parente, assumiu o cargo, em 2016, a política de agradar investidores estrangeiros tem atuado em duas frentes: a venda de ativos e o reajuste diário no preços dos combustíveis.
Com elas, o CEO reduziu para 70% a carga de refino no país, dando preferência à exportação de petróleo cru extraído pela companhia, que volta ao território brasileiro, refinado, a um custo mais elevado. A estratégia de Parente diminui o espaço da estatal no mercado interno aos concorrentes internacionais, fazendo o consumidor pagar mais caro pela gasolina e diesel.
Não se trata, portanto, de um monopólio da Petrobras. Ao mesmo tempo, a redução das operações nas refinarias coloca em risco milhares de empregos. E é por isso que os funcionários da petrolífera resolveram cruzar os braços na virada de terça para quarta-feira, alertando que a parada de três dias pode ser uma prévia da greve por tempo indeterminado.
A Federação Única dos Petroleiros (FUP) quer a redução do preço do gás de cozinha e de todos os derivados do petróleo - não apenas o diesel. A entidade também pede a demissão de Parente e a imediata interrupção da venda de ativos da estatal. Já ontem, teve início uma espécie de operação tartaruga, retardando as atividades em refinarias e fábricas.
Por isso, o assunto tende a permear os negócios locais hoje e nos próximos dias, com a questão ainda pressionando os ativos de risco. Atenção especial deve ser dada às ações da Petrobras e ao movimento dos investidores estrangeiros. Os “gringos” já retiraram quase R$ 4 bilhões em recursos da Bolsa brasileira, o que tem sustentado o dólar acima de R$ 3,60.
Difícil prever se haverá trégua nos negócios locais nesta segunda-feira. Ainda mais em meio ao comportamento lateral no exterior nesta segunda-feira, com os ativos afetados por feriados. Os investidores tentam resgatar o apetite por risco, mas o derretimento no preço do petróleo inibe o modo risk-on.
O barril do tipo WTI é cotado na faixa de US$ 66, na quinta queda seguida e no menor nível em seis semanas, enquanto o petróleo tipo Brent se afasta ainda mais do nível de US$ 80, no menor nível em três semanas. A commodity é pressionado por sinais de aumento da produção na Rússia e na Arábia Saudita, além do aumento da atividade de extração nos Estados Unidos, em meio à maior demanda no verão (no Hemisfério Norte).
Lá fora, o nível de incerteza diminui um pouco, após o presidente da Itália, Sergio Mattarella, convocar um ex-integrante do Fundo Monetário Internacional (FMI) para formar um governo provisório, e com o presidente norte-americano, Donald Trump, e o líder da Coreia do Norte, Kim Jong Un, reafirmando a intenção do encontro em junho.
Com isso, há, ao menos, certo alívio nos negócios. As principais bolsas europeias exibem ganhos, em meio à recuperação firme do euro e após uma sessão de alta na Ásia - exceto em Xangai (-0,2%). As moedas emergentes avançam em relação ao dólar, com destaque para a lira turca e a rupia indonésia. Nos bônus, o rendimento dos papéis europeus avançam, mas o juro projetado pelo título norte-americano de 10 anos se afasta ainda mais do nível de 3%.
A agenda econômica desta semana no Brasil foi encurtada pelo feriado, mas, nem por isso perdeu relevância. O destaque fica com os números do Produto Interno Bruto (PIB) do país nos três primeiros meses deste ano, na quarta-feira. A expectativa é de que a economia doméstica tenha iniciado 2018 perdendo tração, mas ainda no campo positivo.
Antes, na terça-feira, saem os dados sobre o desemprego no país até abril, com a taxa rondando na faixa de 13%. No mesmo dia, tem o resultado de maio do IGP-M e os números das contas públicas no mês passado. Hoje, o Banco Central publica o relatório semanal de mercado Focus (8h25) e a nota sobre as operações de crédito (10h30) em abril.
Já no exterior, também serão conhecidos os dados do PIB dos EUA no primeiro trimestre deste ano na quarta-feira, desta vez, após revisão. Na primeira estimativa, foi apontada uma alta de 2,3% e a previsão é de que esse número seja mantido. Os indicadores sobre a renda pessoal e os gastos com consumo (quinta-feira) e sobre o emprego (sexta-feira) estão no foco.
Dados de atividade nos setores industrial e de serviços na China, na quarta-feira, além de números sobre a inflação ao consumidor e o desemprego na zona do euro, no dia seguinte, também merecem atenção. Amanhã, sai o índice de confiança do consumidor norte-americano.