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Dinheiro é como água


Esperança com vacina contra covid-19 e liquidez sem precedentes jorrada por bancos centrais inibem correção no mercado financeiro, mas fôlego de alta também é curto


Enquanto o mercado financeiro acreditar que existe uma vacina eficaz contra a covid-19 e que os bancos centrais vão manter as taxas de juros em níveis baixos, os investidores vão continuar esticando os preços dos ativos de risco em busca de maiores retornos. Apesar do descompasso cada vez maior entre a alta das bolsas de valores e da economia real, a liquidez global sem precedentes reduz o tempo e o espaço para uma realização de lucros.

Segue disso que todo recurso jogado no sistema financeiro tem como destino a acumulação de riqueza. Como disse o ex-ministro Delfim Netto, “dinheiro é como água, corre para onde tem menos resistência”. E mais. Como ensina o mestre das artes marciais, Bruce Lee, a água não se limita a uma forma, ela se adapta, deixando-se crescer para poder fluir, rastejar, pingar ou quebrar.

Mas isso não é saudável para a dinâmica da atividade nem dos mercados, pois a complacência da liquidez pode validar uma bolha de ativos, caso a economia global não melhore rapidamente em 2021. Mas Wall Street vem sendo negociado a níveis de preço por lucro ajustado pela inflação vistos pela última vez na véspera do crash de 1929 há quase 30 anos e um dos motivos são os juros extremamente baixos nos Estados Unidos no período.

Com isso, não pesam nos ativos a elevada dívida pública pelo mundo, inclusive nos EUA, nem o risco de um Brexit sem acordo ou de as empresas chinesas listadas serem retiradas das bolsas de Nova York. Tampouco preocupam a deterioração fiscal, a pausa na agenda de reformas e o acúmulo de pressão inflacionária no Brasil. Quando os investidores - estrangeiros, principalmente - colocam o dinheiro para trabalhar, é assim que funciona.

E é assim que o mercado financeiro deve seguir. Até que a pandemia passe, que as vacinas sejam aplicadas e distribuídas rapidamente no mundo, que a parcela mais vulnerável da população à disseminação do coronavírus não precise mais de socorro financeiro - nem as pequenas empresas nem os governos locais. Mas se nada disso acontecer, talvez até abril, maio do ano que vem, lá estarão os bancos centrais a postos para prover mais liquidez.

TINA

Essa situação é conhecida no jargão do mercado financeiro pelo nome TINA, sigla em inglês para a frase There is no alternative. Ou seja, os investidores não têm alternativa viável, a não ser alocar recursos acima do “ideal” no risco, como ações, pois outras classes de ativos oferecem retornos bem piores. Por isso, a queda sinalizada pelos índices futuros das bolsas de Nova York é tímida, pois qualquer correção tende a ser limitada.

Ainda assim, falta fôlego para seguir em frente, como mostram as bolsas europeias, que abriram sem uma direção única e com leves oscilações. A sessão na Ásia também foi sem rumo único. Xangai teve ligeira baixa, apesar do avanço da atividade no setor de serviços na China em novembro, com o indicador permanecendo em território de expansão pelo sétimo mês seguido. Nos demais mercados, o dólar segue fraco e o petróleo, sem força, rondando os US$ 45 por barril, à espera de definição sobre cortes na produção.

Com isso, a Bolsa brasileira pode ter dificuldades para ir além dos 111 mil pontos, mas dificilmente irá perder a marca dos 110 mil, em meio à ausência de uma pressão vendedora nos negócios. O pregão ontem deixou claro que o “gringo” refreou o apetite voraz por ações brasileiras, ao mesmo tempo em que o investidor local não está disposto em se desfazer dos papéis que tem na mão.

Ou seja, ninguém quer vender, mas poucos estão dispostos em comprar mais. Já o dólar tende a seguir em queda livre, ratificando a percepção de que é apenas uma questão de tempo para chegar à marca de R$ 5,00 em breve, apesar de dezembro ser sazonalmente um mês de pressão de alta no câmbio. Ainda assim, a moeda norte-americana segue distante da faixa de R$ 4,00 vista logo no início deste ano.

Hoje é dia de PIB

Dados do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil são o destaque do dia. A expectativa é de que a economia brasileira tenha saído da recessão técnica no terceiro trimestre deste ano, ao interromper dois trimestres consecutivos de queda sob impacto da disseminação do coronavírus, saltando 9% em relação ao período anterior.

Já na comparação com um ano antes, o PIB do país deve recuar 3,5%, no terceiro resultado negativo nesse tipo de confronto, reduzindo o ritmo de queda depois de despencar 11,2% no período anterior, mas indicando que a atividade ainda não retornou a níveis pré-pandemia. Os números efetivos serão conhecidos às 9h.

Já no exterior, saem dados sobre a atividade no setor de serviços em novembro na zona do euro, logo cedo, e nos EUA, no fim da manhã, além do desempenho das vendas no varejo da região da moeda única europeia em outubro (7h) e dos pedidos semanais de auxílio-desemprego feitos nos EUA (10h30).


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