Cautela com política mantém pressão no mercado
O cenário político volta ao foco do mercado financeiro nesta segunda-feira, com as tensões geopolíticas e conflitos comerciais mantendo riscos de volatilidade no exterior, ao passo que os negócios locais redobram a cautela em meio à expectativa pelos números da mais recente pesquisa eleitoral, a ser divulgada hoje às 11h. Lá fora, Estados Unidos e China tentam amenizar a tensão com alguns acordos bilaterais, neste dia em que Washington inaugura sua embaixada em Jerusalém, enquanto aqui a novidade do levantamento feito pela MDA a pedido da CNT é que a coleta foi feita já sem considerar a candidatura de Joaquim Barbosa.
E a grande dúvida é justamente para quem foi os votos do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF). O Instituto MDA foi a campo em todo o país desde a quarta-feira passada até ontem e realizou cerca de 2 mil entrevistas. E o maior receio do mercado doméstico é de um eventual crescimento do principal candidato de esquerda, Ciro Gomes (PDT), que incomoda cada vez mais diante da possibilidade de ele ir ao segundo turno.
Já o maior desejo do investidor é que um candidato considerado mais comprometido com o ajuste fiscal e as reformas estruturais possa despontar na pesquisa, mas a trajetória do tucano Geraldo Alckmin tem decepcionado e ainda nem se sabe se o ex-ministro Henrique Meirelles encabeçará uma chapa pelo MDB. Essas especulações vão depender, em grande medida, de quem será o maior beneficiado dos cerca de 10% de votos que havia sido destinado a Joaquim Barbosa, ainda antes da desistência oficial dele, no dia 8.
Trata-se do grande destaque da agenda doméstica nesta segunda-feira, que traz ainda as tradicionais publicações do dia: Pesquisa Focus (8h25) e balança comercial semanal (15h). No exterior, o calendário de hoje está esvaziado, trazendo apenas dados de atividade na indústria e no varejo chinês em abril, no fim do dia, além dos investimentos em ativos fixos. Os indicadores podem trazer os eventuais efeitos iniciais do ambiente recente mais volátil.
Por ora, os mercados internacionais não exibem uma direção única para o dia. Os índices futuros das bolsas de Nova York apontam para uma abertura positiva, mas as principais bolsas eurpeias oscilam na linha d’água, com um ligeiro viés negativo, em meio aos esforços para formar um governo na Itália e às turbulências sobre o Brexit. Ainda assim, o euro e a libra avançam em relação ao dólar, diante da estabilização nos bônus norte-americanos.
Na Ásia, a maioria das bolsas fechou em alta, em um sinal de alívio nas tensões comerciais. Antes de uma reunião em Washington com autoridades chinesas, o presidente Donald Trump fez uma grande concessão a Pequim, liberando à fabricante chinesa de equipamentos de telecomunicações ZTE a compra de componentes eletrônicos de empresas norte-americanas, como a Qualcomm, Microsoft e Intel.
Nos demais mercados, o barril do petróleo tipo WTI cai abaixo de US$ 71, após os Emirados Árabes Unidos afirmarem que o cartel da Opep tem capacidade de produzir excedente suficiente para mitigar qualquer impacto sobre a commodity de eventuais sanções dos EUA ao Irã. Os metais básicos também recuam.
Lá fora, é grande a apreensão pela ausência de uma aliança duradoura de poderes. O fato é que, em um mundo sem líder, Trump está decidido a usar todo o poder dos EUA para conseguir o que quer - e do jeito que ele acha que o país precisa e merece. Afinal, a América ainda é a única superpotência mundial - e não apenas em termos econômicos - capaz de usar sozinha toda sua força (também política e militar) em qualquer região do mundo.
Mas ainda não se sabe se outros governos podem resistir à pressão norte-americana - juntos ou sozinhos. Não se trata, porém, de uma relação “ganha-ganha”. Se houver uma queda de braço, ou ambos perdem, ou os EUA vencem. Será assim com a China nas disputas comerciais, com México e Canadá em relação ao Nafta, e até mesmo com aliados históricos, como Europa e Japão, onde o sentimento de antiamericanismo é crescente.
Tampouco se sabe se os dados recentes mais fracos sobre inflação e emprego nos EUA vão manter essa tendência, ou se haverá um acúmulo de pressão inflacionária no cenário à frente, o que demandaria uma ação mais dura do Federal Reserve. A perspectiva ainda é de que o cenário de pleno emprego pressione os salários e que o protecionismo comercial combinado com sanções econômicas encareça produtos ao consumidor norte-americano.
Portanto, apesar do alívio observado recentemente, ainda não se encerrou a discussão quanto ao total de aumento no custo do empréstimo pelo Fed. A dúvida ainda é se serão apenas dois ou mais três apertos até dezembro. E a se considerar a trajetória clara de valorização do dólar no mundo, juntamente com o avanço do juro projetado pelos títulos norte-americanos (Treasuries) e a alta do petróleo, tudo isso sugere que os juros por lá vão subir mais - e mais rápido.
Assim, novos indicadores econômicos nos EUA continuam importantes para calibrar as apostas sobre o ritmo de alta dos juros do país. Os destaques são os dados de atividade, com o desempenho das vendas no varejo (amanhã) e da produção industrial (quarta-feira), ambos referentes ao mês de abril. Ao longo da semana, também serão conhecidos números do mercado imobiliário e vários integrantes do Comitê do Fed (Fomc) discursam.
Na Europa, merece atenção a primeira estimativa do Produto Interno Interno (PIB) da zona do euro nos três primeiros meses deste ano, amanhã. No mesmo dia, sai o índice ZEW de sentimento econômico na Alemanha, logo cedo, e, à noite, é a vez dos dados preliminares do PIB japonês no primeiro trimestre de 2018. Na quinta-feira serão conhecidos os dados de inflação ao consumidor (CPI) na região da moeda única.
No Brasil, a agenda doméstica também traz dados de atividade, com os números do setor de serviços em março previstos para amanhã. No dia seguinte, deve sair o IBC-Br do período, antecipando avaliações sobre o desempenho da economia (PIB) no primeiro trimestre deste ano. Na quinta-feira, é a vez dos dados de emprego, com os números da taxa de desocupação (Pnad) até março.
Mas o grande destaque do calendário interno é a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), na quarta-feira. Após idas e vindas na semana passada, o mercado consolidou em 70% as apostas de que a taxa básica de juros (Selic) vai cair pela décima terceira vez seguida, a 6,25% ao ano, renovando o piso histórico pela quarta reunião consecutiva.
Contudo, o Banco Central deve subir o tom na linguagem do comunicado que acompanhará o anúncio da decisão, em meio à desvalorização cambial desde fevereiro, o que pode impactar no cenário de inflação à frente. A piora das condições do mercado financeiro global também devem levar a autoridade monetária a sugerir o fim do ciclo de cortes, a partir de junho.
De qualquer forma, o avanço do dólar para além de R$ 3,60 já é um recado do mercado ao BC, de que a autoridade monetária não deveria reduzir a Selic em mais 0,25 ponto neste mês, ainda que o cenário de inflação permita e que a recuperação econômica necessite deste estímulo. O mais prudente seria manter a taxa básica em 6,5%.
Mas o presidente do BC, Ilan Goldfajn, não quer dar o braço a torcer e desdizer uma orientação dada lá atrás, em março, ao final da reunião anterior do Copom. Diante disso, a autoridade monetária decidiu agir no câmbio, anunciando algumas alterações no programa de swap cambial, a fim de ter mais liberdade na atuação - podendo, inclusive, ser mais agressivo.
Resta saber se o impacto da medida será suficiente para mudar a dinâmica recente de desvalorização do real, às vésperas de mais um Copom. A conferir.