Mercado testa fôlego
Depois de quatro meses de recuperação, o mercado financeiro iniciou agosto de modo estranho, o que reflete a falta de clareza dos investidores em relação ao cenário à frente. Enquanto os ativos de risco se apoiam na perspectiva de que o Federal Reserve deve continuar injetando liquidez - ao menos até as eleições de novembro nos Estados Unidos - a esperada recuperação econômica em forma de “V” perde força à medida que a aceleração de casos de coronavírus no mundo parece não dar trégua.
Diante disso, o rali das bolsas no exterior perde força, um dia após dados positivos da indústria e o setor de tecnologia impulsionarem as bolsas em Wall Street e no velho continente, o que embalou o pregão na Ásia. Nesta manhã, porém, os índices futuros em Nova York amanheceram de lado, alterando leves altas e baixas, enquanto as principais bolsas europeias ensaiam ganhos. Petróleo e dólar também estão na linha d’água, enquanto o rendimento do título norte-americano de 10 anos orbita ao redor de 0,55%.
Vários pontos aparecem no radar, relacionados principalmente à tensão entre Estados Unidos e China - que tem agora como alvo o aplicativo de vídeos TikTok - e à expectativa por um novo pacote fiscal, diante de “progressos” nas conversas entre republicanos e democratas. Mas aparentemente nada impede que os mercados mantenham o ritmo de recuperação, com muitos ativos de risco voltando aos níveis de fevereiro.
Os investidores seguem confiantes de que a retomada econômica global está de volta aos trilhos, após o retorno dos índices de atividade para a marca que indica expansão, acima da linha de 50. Porém, é difícil apontar que já existe uma dinâmica do lado da oferta e da demanda em meio ao coronavírus. Por ora, as leituras mensais indicam mudanças de curto prazo - e que, ainda assim, estão bem abaixo dos níveis de um ano antes.
Nesse cenário ainda pandêmico, a base deprimida dos indicadores econômicos pode levar a uma realidade distorcida, com os investidores enxergando resultados surpreendentes, que dão a sensação de uma pretensa volta à normalidade. Mas não se deve perder de vista os desafios que se apresentam - e são crescentes, ainda mais diante da proximidade das eleições presidenciais nos EUA, que inclui o elemento político na equação.
Mais dados de atividade
Os novos indicadores de atividade, desta vez, sobre a produção industrial brasileira em junho, pela manhã, e sobre o setor de serviços na China em julho, à noite, devem evidenciar esta percepção, embora os números continuem mostrando recuperação. Por aqui, a expectativa é de crescimento pelo segundo mês consecutivo, de +7%, após as quedas acumuladas entre março e abril.
Porém, na comparação com junho do ano passado, a indústria deve recuar 10%, no oitavo resultado negativo seguido neste tipo de confronto, relevando a perda de tração da manufatura. Os dados oficiais serão divulgados às 9h. Aliás, o acúmulo de “riscos de cauda”, diante da perspectiva de não existir inflação nem recuperação da atividade no Brasil, consolida as chances de queda na taxa básica de juros, amanhã.
O mercado doméstico dá como certa um corte residual, de 0,25 ponto na Selic, para 2%, e não descarta uma continuidade do ciclo de afrouxamento monetário, com o Banco Central podendo derrubar os juros básicos para perto de zero ou até virar negativo, se seguir o mandato a risca. Hoje, o Comitê de Política Monetária (Copom) inicia sua reunião de dois dias para decidir sobre o rumo da Selic.
No exterior, serão conhecidos apenas o índice de preços ao produtor (PPI) na zona do euro e as encomendas às fábricas nos EUA (11h), ambos referentes ao mês de junho. Já na safra norte-americana de balanços, atenção ao resultado da Disney.