Abril doce ou amargo?
Abril começa e o mês do chocolate será crucial para verificar se o apetite por ativos de risco voltará aos mercados financeiros no curto prazo. Não se deve levar em conta apenas o desempenho de hoje, ainda mais diante do sinal indefinido no exterior, com os investidores iniciando o segundo trimestre na defensiva, em meio ao embate comercial entre Estados Unidos e China, que mantém uma dose extra de volatilidade e afeta os negócios mundo afora.
Os índices futuros de bolsas de Nova York têm leves baixas nesta manhã, após uma alta ensaiada na sessão asiática ter se dispersado, em meio ao fraco volume de negócios, com muitas praças ainda fechadas por causa do feriado de Páscoa, principalmente na Europa. O dólar mede forças em relação às moedas rivais, enquanto o rendimento dos títulos do Tesouro norte-americano aumentam e o petróleo avança.
No Brasil, é difícil dizer se haverá algum rali relevante nas próximas semanas ou se está no radar uma deterioração adicional dos negócios, principalmente levando-se em conta a temperatura política. Esta semana será de definições em relação aos possíveis candidatos na corrida presidencial, deixando dúvidas sobre o próximo movimento dos ativos.
Com isso, a cautela tende a prevalecer, ao menos até o julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) do habeas corpus impetrado pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, marcado para quarta-feira. O placar na Corte tende a ser apertado e a possibilidade de deixar o líder petista livre da prisão ainda não pode ser totalmente descartada.
Há também a chance de o STF prorrogar a decisão, mantendo a incerteza quanto à presença de Lula na disputa em outubro, o que pode azedar o humor dos mercados domésticos, que preferem se afastar de candidatos populistas. Isso sem falar na pluralidade de concorrentes para o pleito, com muitas opções de centro e à direita diluindo a chance de vitória firme.
Mesmo os nomes que devem surgir, como o do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles - talvez na chapa de reeleição do presidente Michel Temer - estão longe de um favoritismo amplo. Aliás, o mercado doméstico ficou devendo uma reação à prisão de pessoas próximas a Temer na quinta-feira passada, no âmbito da Operação Skala.
Durante o fim de semana, foram revogadas as prisões de dois amigos do presidente e de outras sete pessoas investigadas no inquérito sobre portos com os quais Temer tem ligação, após decisão do ministro do STF Luís Roberto Barroso, que acatou pedido da procuradora-Geral da República (PGR), Raquel Dodge. Entre eles, estão o advogado José Yunes, ex-assessor especial da Presidência da República, e João Baptista Lima Filho, ex-coronel militar de São Paulo.
O Palácio do Planalto recebeu a notícia com alívio, com os líderes da base aliada minimizando os riscos de uma terceira denúncia contra o presidente. De qualquer forma, Temer cancelou os planos de passar o feriado em São Paulo foram cancelados e os dias em Brasílias serviram para avaliar os impactos das prisões de amigos e empresários. Mesmo encurralado, ele ainda não desistiu da pretensão de lançar candidato às eleições, mas o cerco policial pode fazê-lo mudar de ideia.
Assim, ao invés de se preocupar com seu eventual comitê de campanha ou em como turbinar ações de modo a melhorar sua baixa popularidade, o agora emedebista terá de lidar com o constrangimento de ter seus homens de confiança atrás das grades, ainda que provisoriamente. As repercussões da operação da Polícia Federal podem municiar uma terceira denúncia contra Temer - e o preço para barrá-la na Câmara pode ser alto demais.
Ao mesmo tempo, o governo terá de fazer trocas nos ministérios nesta semana, por causa da saída de alguns ministros que disputarão as eleições. O prazo para desfiliação dos cargos termina no próximo dia 7, mas os efeitos das prisões sobre os nomes que serão indicados pela base governista ainda são incertos. Por ora, tomam posse hoje os novos ministros da Saúde e dos Transportes.
Na Fazenda, Eduardo Guardia deve assumir em breve, enquanto o secretário-executivo do Planejamento, Esteves Pedro Colnago Júnior irá comandar o Planejamento, para que Dyogo Oliveira vá para a presidência do BNDES e libere os recursos do banco de fomento ao Tesouro, com o repasse garantindo o cumprimento da Regra de Ouro, que impede que o governo se endivide para pagar gastos correntes.
Diante desse cenário, repleto de riscos internos e internacionais, as forças de alta e de baixa nos mercados tendem a se intensificar, sinalizando alguma tendência. O certo é que os preços dos ativos globais ainda não antecipam dias difíceis à frente e estão escorados em indicadores econômicos que mostram gradual melhora da atividade, tanto no Brasil quanto no exterior.
A questão é que os dados sobre a economia norte-americana continuam sendo observados com muita atenção, a fim de aferir o total de alta nos juros dos EUA neste ano. Após o primeiro aumento, em março, o Federal Reserve indicou a possibilidade de subir o custo no empréstimo do país por apenas mais duas vezes.
Mas se a economia dos EUA ganhar ainda mais tração e a inflação se encaminhar para a meta ao longo dos próximos meses, podem crescer as apostas de quatro altas no total até dezembro. Assim, o grande destaque nesta semana é os dados sobre o emprego no país (payroll), que podem, mais uma vez, calibrar as apostas em relação aos próximos passos do Fed.
Os números sobre a geração de postos de trabalho e os salários em março saem na sexta-feira e devem manter o ritmo ao redor de 200 mil vagas abertas, com a taxa de desemprego situando-se em 4%. Até lá, serão conhecidos indicadores sobre a atividade nos setores da indústria e de serviços nos EUA, além da Europa e da China, durante os próximos dias.
No Brasil, os dados da produção industrial em fevereiro são o destaque e saem amanhã (9h), devendo mostrar alguma recuperação, após o tombo (-2,4%) em janeiro, na maior queda em quase dois anos. Já na comparação com igual mês de 2017, a atividade do setor deve crescer pelo décima vez seguida. Na sexta-feira, saem os dados da indústria automotiva em março.
Hoje, tem as tradicionais publicações do dia: Pesquisa Focus (8h25) e balança comercial (15h) no mês passado, sendo que o levantamento do Banco Central junto ao mercado financeiro deve trazer revisões para o crescimento econômico (PIB) e para a taxa de juros (Selic), ambos para baixo, após as recentes sinalizações da autoridade monetária.