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Cautela e esperança


Os mercados financeiros estão prontos para se recuperar nesta última semana de março, após Wall Street registrar o pior desempenho semanal em mais de dois anos, em meio a relatos de que os Estados Unidos e a China estão em negociações nos bastidores para evitar uma guerra comercial global. O secretário do Tesouro norte-americano, Steven Mnuchin, se disse “cautelosamente esperançoso” de que as duas maiores economias do mundo irão alcançar um acordo, de modo a impedir a sobretaxa de US$ 60 bilhões em produtos chineses.

Em reação, os índices futuros das bolsas de Nova York exibem ganhos firmes, ao redor de 1%, mostrando recuperação após o Dow Jones, S&P 500 e o Nasdaq 100 registrarem a pior semana desde janeiro de 2016, em meio aos temores de uma guerra comercial. Esse avanço embala a abertura do pregão europeu, diante do esfriamento da tensão, o que também impulsiona as moedas europeias frente ao dólar. Já o petróleo e os metais básicos recuam.

Na Ásia, a Bolsa de Xangai caiu 0,60%, o que levanta dúvidas de que Washington está mesmo disposta em negociar com Pequim, uma vez que Mnuchin manteve a posição de que quer reduzir em US$ 100 bilhões o déficit comercial da China com os EUA e afirmou que vai restringir novos investimentos chineses em território norte-americano. Nas demais praças da região, o sinal foi positivo, com +0,7% em Tóquio e em Hong Kong.

Por ora, relatos dão conta de que as negociações abrangem amplas áreas, incluindo serviços financeiros e manufatura, e estão sendo lideradas por Liu He, um líder econômico chinês e pelo secretário do Tesouro dos EUA, além do representante comercial dos EUA, Robert Lighthizer. As discussões nos bastidores podem ser um alívio, após o anúncio de medidas protecionistas dos EUA e a ameaça imediata de retaliação chinesa.

Mas os investidores ainda estão tentando assimilar o impacto econômico das investidas protecionistas do governo Trump. Por mais que se avalie, agora, que o efeito será pequeno, mesmo que implementada na íntegra, e que qualquer retaliação aos Estados Unidos será moderada, há boas razões para o mercado financeiro ficar preocupado. Afinal, as ações tomadas pelo presidente norte-americano devem ir além de uma mera retórica.

Ao mesmo tempo, a China disse estar preparada para responder, se as exportações forem, de fato, alvo de medidas punitivas. É bom lembrar que Pequim não deve ser vista como fraca nessa disputa comercial. De alguma forma, a China está em uma posição melhor para suportar a pressão contra Trump, pois tem as ferramentas e os recursos necessários não só para revidar, mas também para ajudar a si e aos países a serem prejudicados pelas conseqüências de uma guerra comercial - enquanto os EUA não.

O gigante asiático está sentado na maior reserva internacional do mundo, que pode ser usada a qualquer momento, e é o principal financiador da dívida pública norte-americana, em um momento em que a situação fiscal dos EUA é grave e incapaz de atender aos próprios setores norte-americanos afetados por uma guerra não desejada.

Dado o volume de comércio entre EUA e China e o fato de que as economias estão mais interconectadas do que nunca, uma guerra comercial causará estragos em todo o mundo, o que levaria países a tomar ações unilaterais, ao invés de levar suas disputas à Organização Mundial do Comércio (OMC). Trump pode, então, mudar de ideia quando um conflito real estiver em andamento.

Assim, uma série caótica de anúncios protecionistas nos EUA pode desencadear resposta mais duras. E tal perspectiva tende a continuar nas mentes dos investidores ao longo dos próximos dias - quiçá, meses - atentos, principalmente, nas estimativas de lucro das empresas e do crescimento econômico global.

Já no Brasil, a preocupação é com o futuro do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), de Porto Alegre, deve julgar hoje o último recurso contra a condenação do líder petista a 12 anos de prisão no âmbito da Operação Lava Jato. Mas, seja qual for o resultado, o presidente não poderá ser preso, após a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de impedir a execução da pena ao menos até o próximo dia 4, quando será discutido um pedido de Lula para continuar em liberdade até que se esgotem todas as possibilidades de recurso.

Na agenda econômica desta semana espremida pelo feriado na sexta-feira, no Brasil e em vários países do mundo, os destaques domésticos ficam com os eventos envolvendo o Banco Central. Amanhã, o Comitê de Política Monetária (Copom) publica a ata da reunião da semana passada, que surpreendeu não pela decisão em si, de cortar a taxa básica de juros em mais 0,25 ponto, para 6,50%, mas sim pela indicação das próximas ações.

Com isso, o mercado financeiro quer saber o levou a autoridade monetária a alterar o plano de voo em relação à Selic, uma vez que o comunicado da primeira reunião de 2018, em fevereiro, indicava uma maior propensão ao fim do ciclo de cortes, ao passo que a mensagem suave (“dovish”) ao final do encontro deste mês mostrou inclinação a uma nova queda, em maio.

Os investidores vão procurar, no documento, quais fatores que amparam tal perspectiva e se o Copom não estaria sendo otimista demais em relação aos riscos proeminentes, seja no lado doméstico (questão fiscal e reformas), seja no campo externo (guerra comercial e protecionismo). Mais que isso, a dúvida é saber se haverá uma interrupção ou apenas uma pausa no processo de cortes do juro básico - e quando pode ter início o ciclo de aperto.

Depois, na quinta-feira, o BC volta a cena para divulgar o famigerado Relatório Trimestral de Inflação (RTI), que traz como novidade a entrevista coletiva a ser concedida pelo presidente da autoridade monetária, Ilan Goldfajn, para comentar o documento. Até então, a apresentação era feita pelo diretor de política econômica da instituição.

Entre uma divulgação e outra, merecem atenção o resultado do IGP-M de março, na quarta-feira, e os dados sobre o desemprego no país até fevereiro, na quinta-feira. Hoje, a pesquisa Focus (8h25) deve trazer atualizações nas estimativas do mercado financeiro para as principais variáveis macroeconômicas neste e no próximo ano.

Já no exterior, o destaque fica com a última leitura do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA ao final do ano passado, na quarta-feira, juntamente com o índice de preços de gastos com consumo (PCE) no período. No dia seguinte, sai o índice de confiança do consumidor norte-americano neste mês.

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