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Não é um blefe


Os investidores iniciam a semana ainda assimilando o impacto de uma possível guerra comercial na economia global, com muitos apostando que a medida não passa de um blefe do presidente norte-americano, Donald Trump. Mas a esperança de que o discurso da Casa Branca não se traduza em práticas protecionistas severas ainda não encontra sustentação, o que mantém os mercados financeiros em alerta.

Os negócios amanheceram no vermelho do outro lado do mundo, com as bolsas caindo desde Tóquio até Sydney, sendo que a maior queda foi observada em Hong Kong (-2,2%). Os índices futuros das bolsas de Nova York também apontam um pregão negativo no Ocidente, diante dos receios de que Trump possa oficializar a sobretaxa do aço ainda nesta semana, embora a medida não tenha apoio de aliados nem dos republicanos.

Na Europa, as eleições na Itália pressionam as bolsas da região e o euro, em meio à vantagem da coalizão do ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi para formar um governo populista no país, segundo pesquisa de boca de urna. O resultado preliminar na "bota" ofusca o apoio obtido pela chanceler alemã Angela Merkel, que deve continuar à frente do bloco liderado pelos democratas-cristãos.

O dólar se fortalece em relação às moedas rivais, em meio à combinação de um tom mais agressivo por parte do Federal Reserve no processo de normalização da taxa de juros e a proposta de elevar o imposto de importação nos Estados Unidos. As commodities, porém, mostram vigor. O petróleo avança, diante do ressurgimento de riscos geopolíticos na Líbia, ao passo que os metais básicos estão de lado e os preciosos se valorizam.

Atenta a esse movimento, a China tenta angariar o posto de líder do livre comércio. Uma nova rodada de negociações entre Pequim e Washington sobre as relações comerciais acontece nesta semana, em meio à sessão anual do Partido Comunista chinês. Durante o evento, a China definiu como alvo um crescimento econômico de 6,5% neste ano - e não "em torno de 6,5% ou mais", como havia sido definido em 2017.

Afinal, diante dos sinais vindo da maior economia do mundo, a segunda maior decidiu focar na estabilidade financeira, mas sem descarrilar a expansão da atividade. Para tanto, o Partido Comunista deve aprovar a reeleição indefinida para presidente na China, abrindo caminho para perpetuar a permanência de Xi Jinping no poder.

O presidente Donald Trump elogiou a medida, dizendo que "talvez os EUA consigam fazer uma jogada dessa um dia". "Ele é agora presidente para toda a vida. E ele é ótimo", disse o presidente norte-americano durante um evento fechado em seu resort em Mar-a-Lago, na Flórida, cujo áudio foi revelado pela CNN.

Com isso, as atenções dos mercados se dividem entre a evolução da política nos principais países do mundo e os indicadores econômicos. A semana começa com dados de atividade na zona do euro em fevereiro, mas o destaque na região da moeda única é a decisão de política monetária do Banco Central Europeu (BCE), na quinta-feira. No dia seguinte, o foco se desloca para os EUA, onde sai o relatório de emprego (payroll) no mês passado.

É válido lembrar que foram os números robustos do payroll em janeiro que esquentaram as apostas de uma alta adicional na taxa de juros norte-americana em 2018, ante um cenário básico que prevê apenas três aumentos até o fim do ano, provocando uma forte onda vendedora (selloff) nos mercados globais. Se reforçarem as chances de quatro apertos, não se pode descartar um novo movimento de correção nos preços dos ativos.

Ainda no calendário econômico internacional, merecem atenção

as leituras finais do PIB no quarto trimestre de 2017 e no acumulado do ano passado na zona do euro e no Japão, ambos na quarta-feira. No mesmo dia, sai o relatório sobre a geração de vagas no setor privado norte-americano. Na China, saem os índices de preços ao produtor (PPI) e ao consumidor (CPI) em fevereiro.

Já no Brasil, as atenções se dividem entre dados de atividade e inflação que serão conhecidos nesta semana e que podem calibrar as apostas em relação a mais uma queda na taxa básica de juros (Selic) neste mês. Já nesta segunda-feira sai a leitura do índice dos gerentes de compras (PMI) dos setores da indústria e de serviços no Brasil em fevereiro.

Mas as atenções estarão mesmo nos números do IBGE sobre a produção industrial em janeiro, amanhã. Os dados devem indicar o ritmo da atividade doméstica neste início de ano, após a surpresa negativa com o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro ao final do ano passado, que deixou a impressão de que a economia está crescendo menos que o esperado nos três primeiros meses de 2018.

A esse cenário de recuperação econômica ainda moderada soma-se o de inflação baixa e chega-se, então, às chances maiores de mais um corte de 0,25 ponto na Selic na segunda reunião do ano, renovando o piso histórico pela terceira vez, a 6,5%. Na sexta-feira, quando sai o índice oficial de preços ao consumidor (IPCA), essas apostas devem ser consolidadas.

Ainda no calendário doméstico, destaque também para os resultados de fevereiro do IGP-DI (quarta-feira) e da indústria automotiva (Anfavea), amanhã. Hoje, além do PMI composto (10h), têm a publicação da Pesquisa Focus (8h25), que deve trazer uma revisão para baixo nas estimativas para PIB e IPCA neste ano, após os dados de 2017 embutirem um viés negativo para o desempenho da economia, gerando menor pressão nos preços.

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