O que será que será?
O acordo firmado entre republicanos e democratas na noite de ontem encerra a paralisação de três dias do governo dos Estados Unidos (shutdown) ao menos até 8 de fevereiro. A resolução do impasse anima os mercados internacionais nesta manhã, o que pode embalar os negócios locais, em meio à expectativa sobre o que pode acontecer com o ex-presidente Lula após o julgamento de amanhã.
Enquanto os investidores aqui tentam avaliar os cenários possíveis para o Brasil em um ano de eleições presidenciais, em caso de condenação ou absolvição do petista; lá fora o otimismo com o desempenho da economia global e a temporada de balanços renova o apetite por ativos de risco. Os índices futuros das bolsas de Nova York estão em alta, após uma sessão de ganhos na Ásia, respingando também na abertura do pregão na Europa.
Nas moedas, o dólar perde terreno para os rivais, com destaque para o iene japonês, que ganhou espaço após o Banco Central do Japão (BoJ) usar um tom mais positivo em relação às expectativas de inflação, após manter a taxa de juros no país. A moeda norte-americana é negociada nos menores níveis do ano e mostra fraqueza diante da possibilidade de nova interrupção da máquina pública dos EUA, resultando em uma derrota para Donald Trump.
Ontem, o presidente dos EUA assinou a lei com o orçamento provisório até o início do próximo mês, após a aprovação do projeto no Congresso. Agora, um novo acordo, permanente, vem sendo costurado, mas a oposição democrata exige uma solução para os jovens imigrantes ilegais (dreamers), que correm risco de deportação. Por isso, alguma cautela prevalece nos negócios no exterior.
Esse sentimento misto que se observa lá fora tende a ser potencializado no pregão local, com os investidores evitando movimentações significativas, em meio à expectativa pelo desfecho do julgamento em segunda instância (TRF4) do processo do ex-presidente Lula no caso do tríplex no Guarujá (SP), a partir de amanhã. Um placar final de 3x0 contra o petista pode animar os mercados domésticos.
Já um resultado diferente disso pode reverter a tendência de curto prazo em bolsa, dólar e juros, reduzindo o apetite pelo prêmio pago pelo risco no Brasil. Além disso, o feriado na capital paulista na quinta-feira, quando os mercados de rendas fixa e variável permanecerão fechados, pode provocar saídas precipitadas dos investidores, sem tempo para ajustar posição antes ou depois.
Enquanto aguardam os desdobramentos em Washington e em Porto Alegre, as atenções se voltam aos indicadores econômicos. O destaque doméstico fica com a prévia de janeiro da inflação oficial ao consumidor brasileiro (IPCA-15). A expectativa é de alta de 0,44% neste mês, bem acima do apurado em dezembro (+0,35%) e em janeiro (+0,31%) de 2017.
Essa aceleração da inflação deve refletir o aumento de preços em alimentos e transportes, além de educação. Desde o fim do ano passado, itens que fazem parte da alimentação, como hortaliças e legumes, já não têm mais conseguido absorver o impacto dos reajustes recorrentes nos combustíveis praticados pela Petrobras.
Além da alta na gasolina e no diesel, o aumento das passagens de ônibus e metrô também devem ter um impacto inflacionário importante no IPCA-15, bem como os reajustes nas matrículas de cursos formais. Tal pressão de alta no indicador deste mês não deve ser amortecida pelo esperado alívio nas contas de luz, após a bandeira tarifária verde.
Ainda assim, a taxa acumulada pelo índice em 12 meses deve seguir perto do piso do intervalo de tolerância aceito pelo Banco Central, ficando levemente acima de 3%. Os números efetivos serão conhecidos às 9h e um resultado mais salgado da inflação pode reduzir as apostas de corte na taxa básica de juros em março.
Atualmente, a Selic está em 7% ao ano e está praticamente consolidada a chance de mais uma queda em fevereiro, de 0,25 ponto, renovando o mínimo histórico do juro básico para 6,75%. Porém, a possibilidade de se ter uma inflação mais alta, pressionando o câmbio, deve pesar na chance de extensão dos cortes pelo BC até março.
O IPCA-15 é o grande destaque da agenda econômica desta terça-feira, que traz ainda no Brasil a terceira prévia de janeiro do índice de preços ao consumidor da FGV (8h). No exterior, o calendário norte-americano está esvaziado, o que desloca as atenções para indicadores de confiança na zona do euro.
Além disso, começa o Fórum Econômico Mundial, em Davos (Suíça), onde está o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Ao longo do dia, ele cumpre uma agenda extensa com encontros com investidores e executivos. Já o presidente Michel Temer chega hoje a Zurique.