Mercado na torcida
Um recorde por dia. É assim que tem sido o início de ano novo na Bovespa e em Wall Street, onde os principais índices acionários começaram 2018 com o pé direito, registrando a terceira máxima histórica consecutiva, em três pregões. Por mais que os investidores estejam atribuindo o apetite local à expectativa de condenação, em segunda instância, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é o ambiente externo que tem permitido um rali.
O cenário de menor aversão ao risco no exterior é sustentado pela confiança em um maior crescimento econômico global, com a expansão sendo conduzida pelos Estados Unidos, em meio às promessas de Donald Trump de fazer a América grande de novo. Dados robustos de atividade na China e na Europa alimentam as apostas de expansão mais acelerada. Hoje, porém, esse apetite volta a ser testado, em meio à agenda econômica carregada lá fora.
O destaque fica com o payroll, como é chamado o relatório oficial sobre o mercado de trabalho nos EUA. A previsão é de geração de 200 mil vagas em dezembro, mas esse número pode ser ainda maior após a surpreendente abertura de 250 mil postos de trabalho no setor privado norte-americano no mesmo período, conforme apontou ontem a pesquisa ADP.
Com isso, a taxa de desemprego pode cair a 4%, renovando os níveis historicamente baixos e reforçando os sinais de pleno emprego no país. Quanto aos rendimentos, o ganho médio por hora deve subir 0,3% na comparação com novembro e avançar 2,5% em relação a um ano antes, o que corrobora a ausência de pressão nos preços e mostra que a inflação baixa deve continuar sendo um dor de cabeça para o Federal Reserve.
Nesse contexto, o Fed pode até subir a taxa de juros norte-americana outras três vezes ao longo de 2018, mas isso não significa que haverá uma fuga de recursos em busca dos rendimentos nos títulos dos EUA. Assim, enquanto os mercados internacionais continuarem traçando um cenário favorável para a atividade mundial, a tomada de risco tende a continuar, principalmente entre os países emergentes.
Os números oficiais do payroll serão conhecidos às 11h30 e, até lá, os mercados financeiros devem se arrastar, tanto aqui quanto lá fora. No mesmo horário, sai o resultado de novembro da balança comercial norte-americana e, depois (13h), é a vez do índice ISM de atividade no setor de serviços no mês passado e também das encomendas às fábricas nos EUA em novembro.
À espera desses números, os índices futuros das bolsas de Nova York seguem no campo positivo, sinalizando mais um dia de ganhos em Wall Street, com o dólar cada vez mais enfraquecido. O começo de ano favorável aos ativos de risco garantiu às ações asiáticas a melhor semana em quase seis meses, com altas expressivas em Tóquio, Seul e Xangai. Esse desempenho embala a abertura dos negócios com ações e moedas na Europa, em meio aos dados sobre inflação ao produtor (PPI) e ao consumidor (CPI) na zona do euro.
No Brasil, destaque apenas para os dados de novembro da indústria. A produção industrial deve ter ficado estável em relação a outubro, mas crescido 3,5% em relação a um ano antes, no sétimo resultado positivo consecutivo, em base anual. Logo cedo, sai indicadores de preços ao consumidor em dezembro.
Já em relação ao Lula, a expectativa é de que ele seja condenado no caso do tríplex do Guarujá por 3 x 0, com algumas variações nas penas, o que caberia recurso, que seria julgado em 15 dias. Com a sentença prevista para sair até fevereiro, antes da data marcada para a votação da reforma da Previdência, os investidores foram às compras no Brasil, antecipando o veredicto final.
O receio do mercado doméstico é que o ex-presidente não tenha tanto compromisso com as contas públicas, mas essa justificativa relega boa parte do histórico do governo Lula, que cumpriu sucessivos superávits primários e alongou a dívida pública. O temor mesmo dos investidores é que o ex-presidente não irá tocar a agenda de reformas que o mercado tanto defende e nos moldes esperados.
Afinal, a reforma trabalhista foi apenas a primeira e deve ser seguida pelas novas regras para a aposentadoria, para então depois ter início a reforma tributária, entre outras que ainda nem foram ventiladas. Por isso, a preferência por um candidato mais liberal, de centro-direita. A questão será emplacar uma agenda pró-reformas durante a campanha capaz de atrair votos do numeroso universo de eleitores que está de fora das mesas de aposta e que não consegue associar o que já foi feito como algo positivo.