Baixo quórum
O governo deve enfrentar resistência no Congresso para aprovar a reforma da Previdência, mesmo após a divulgação de uma nova versão. A medida que propõe que os brasileiros terão de trabalhar 40 anos para receber aposentadoria integral e regras mais rígidas ao setor público, entre outras coisas, ainda é vista como impopular. Tanto que teve o apoio de menos de 200 deputados no jantar oferecido ontem no Palácio do Alvorada, o que deve esfriar o otimismo dos mercados com a proposta neste dia de feriado nos Estados Unidos.
Os investidores podem até diminuir as apostas de aprovação das novas regras para a aposentadoria ainda neste ano, após o quórum baixo de parlamentares no Alvorada ontem para convencer a base aliada. Foram convidados 300 deputados e quanto menor o comparecimento, menos chances tem a reforma. A questão é que ainda há dúvidas sobre o projeto desidratado, apresentado pelo relator Arthur Maia.
Na nova versão, a fixação da idade mínima para aposentadoria - de 65 anos para homens e 62 para mulheres - o tempo mínimo de contribuição de 15 anos, a regra de transição progressiva e a equiparação de valores entre as esferas pública e privada foram preservadas. Portanto, mesmo após dar o sinal verde para desidratar a reforma, apresentado uma versão light para a Previdência, o governo conseguiu manter a maior parte do que foi sugerido.
Por isso, a proposta deve ter dificuldades, com muitos parlamentares promovendo mais alterações no texto, diante da proximidade das eleições de 2018. O próprio PSDB já afirmou que não vai fechar questão sobre o assunto, mas irá recomendar voto a favor. Para aprovar o texto, são necessários 308 deputados favoráveis e o governo sabe que não tem um total de votos suficientes.
A expectativa é de votar a matéria já no início do mês que vem, dias antes do início do recesso legislativo, mas o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, sinalizou que não adianta precipitar a data de votação, se não houve clareza dos votos. Portanto, o presidente Michel Temer tem cerca de três semanas para conquistar mais votos e trabalhar com margem mais ampla, a fim de evitar surpresas na hora da votação em plenário.
Esse choque de realidade deve pesar nos negócios locais nesta quinta-feira, uma vez que os mercados domésticos vinham alimentando uma expectativa positiva quanto à aprovação na Câmara da principal medida do governo para ajustar as contas públicas antes do fim de 2017. E as perdas acentuadas nos negócios lá fora podem potencializar o ajuste negativo nos ativos locais, em meio à liquidez mais baixa por causa do Dia de Ação de Graças.
A Bolsa de Xangai caiu mais de 2%, na maior queda desde dezembro, ao passo que Hong Kong recuou 0,7%, em meio às preocupações de que o governo está tentando controlar os ganhos em ações, após advertir sobre o aumento desenfreado nos preços de alguns papéis. Esse desempenho também prejudica a abertura da sessão na Europa, neste dia sem o referencial em Wall Street. A Bolsa de Tóquio também permaneceu fechada.
Nas moedas, o dólar segue perdendo terreno, após a ata do Federal Reserve revelar ontem uma divisão entre os integrantes do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) em relação ao ritmo a ser adotado no ciclo de alta da taxa de juros norte-americana, diante da preocupação quanto à inflação suave. Já nas commodities, o ouro e o petróleo devolvem os ganhos recentes, após um intenso rali.
A prévia de novembro da inflação oficial ao consumidor brasileiro (IPCA-15) é o destaque da agenda econômica desta quinta-feira. A expectativa é de aceleração na alta em relação a outubro, com o índice subindo 0,40%, pressionado pelos reajustes adicionais nas tarifas de energia elétrica e no preço da gasolina.
Ainda assim, a taxa acumulada nos últimos 12 meses até novembro deve seguir abaixo de 3%, ficando em 2,85%, o que reforça o cenário benigno da inflação e a continuidade do espaço para o ciclo de cortes da taxa básica de juros. Os números oficiais serão conhecidos às 9h.
Antes, sai mais uma leitura do IPC da FGV (8h), e, depois, tem a nota do BC sobre o setor externo (10h30). No exterior, dados de atividade nos setores industrial e de serviços na zona do euro recheiam o calendário, enfraquecido pelo feriado nos EUA.