Reforma vira um 'puxadinho'
A quarta-feira antecede o feriado nos Estados Unidos pelo Dia de Ação de Graças, o que tende a reduzir o ritmo dos mercados financeiros hoje, com os investidores encolhendo as apostas e evitando assumir posições nos ativos. Esse marasmo nos negócios no exterior se contrasta com o otimismo local quanto à votação da reforma da Previdência em dezembro.
O presidente Michel Temer tenta virar o jogo sobre as novas regras para a aposentadoria e convencer a base aliada a aprovarem a proposta ainda neste ano. Para tanto, ele oferece à noite um jantar aos deputados e ministros, em um encontro que pode ser a última cartada do governo para garantir a aprovação de uma reforma da Previdência não muito ampla.
O texto a ser votado no plenário da Câmara deve ser mais enxuto, restringindo a proposta à fixação de idade mínima para aposentadoria (65 anos para homens e 62 anos para mulheres), com uma regra de transição de 30 anos, e à equiparação de valores máximos entre as esferas pública e privada. Essa versão reduzida da reforma deve ser apresentada ainda hoje, após uma maratona de articulações.
Só que nem a reforma ministerial nem o "puxadinho" que virou o texto da Previdência convencem todas as bancadas e garantem a aprovação da proposta na Câmara. Líderes de partidos da base aliada e o próprio presidente da Casa, Rodrigo Maia, admitem que o governo está longe de ter os 308 votos necessários.
Por mais que a investida do presidente para substituir o ministro das Cidades tenha sido o primeiro resultado efetivo das intensas conversas realizadas nos últimos dias, a reforma ministerial ainda não atendeu a toda a base. Outras mudanças precisam ser anunciadas em breve para agradar aos deputados e juntar apoio para aprovar o texto na Câmara.
Assim, o governo calibra o discurso otimista de que é possível votar a reforma da Previdência na Câmara até o início do mês que vem e mantém as expectativas elevadas, mas sabe que o prazo é apertado. Os sinais vindos de Brasília ainda são difusos e podem mudar de direção rapidamente, o que mantém certa cautela nos mercados domésticos.
A véspera do Thanksgiving tende a ampliar essa postura defensiva, pois os negócios em Wall Street permanecerão fechados amanhã e, na sexta-feira, é dia de compras na Black Friday. Mas os mercados internacionais ampliam o apetite por ativos de risco hoje, um dia após as bolsas de Nova York renovarem níveis recordes de alta.
A perspectiva de aumento de lucros das empresas e de aprovação da reforma tributária proposta pelo governo Trump sustentam os contratos futuros dos índices acionários norte-americanos em alta nesta manhã, o que embalou o pregão na Ásia e deve animar a sessão na Europa. O dólar segue em queda, o que beneficia o rali nas commodities.
O petróleo aumenta o otimismo quanto à redução da oferta da commodity, o que eleva os preços do barril do WTI para o maior nível em mais de dois anos. Já as moedas de países emergentes e correlacionadas às commodities não têm uma direção única: o won sul-coreano é cotado no valor mais alto desde maio de 2015; o peso mexicano está na máxima em cinco semanas, ao passo que o dólar australiano recua.
Na agenda econômica, o destaque do dia fica com a ata da reunião do Federal Reserve encerrada no início deste mês, que deve apensar confirmar o cenário de novo aumento da taxa de juros norte-americana em dezembro. O documento será publicado às 17h e não deve detalhar o horizonte da política monetária nos EUA, já que o Fed estará sob nova direção em 2018.
Antes, nos EUA, saem as encomendas de bens duráveis em outubro (11h30), os estoques semanais de petróleo bruto e derivados (12h30) e a leitura final de novembro da confiança do consumidor (13h). No Brasil, o calendário traz apenas os números semanais do fluxo cambial (12h30).