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Os reformistas


A semana chega ao fim antecedendo mais um feriado. O Dia da Consciência Negra, celebrado na cidade de São Paulo e no Estado do Rio de Janeiro, entre outras localidades, deixará os mercados domésticos fechados na próxima segunda-feira, o que tende a redobrar a cautela nos negócios locais hoje. Até porque o vaivém do governo em relação à reforma ministerial mantém as incertezas sobre as novas regras para a aposentadoria.

O presidente Michel Temer tem dados sinais difusos em relação à dança das cadeiras nos ministérios, o que reforça a postura defensiva dos investidores. Antes, Temer sinalizava amplas mudanças na Esplanada, mas bastou um alerta dos aliados – principalmente dos investigados na Lava Jato – para que ele recuasse da ideia. Agora, ele busca acomodar todas as reivindicações da base aliada, mas a tarefa não parece fácil.

Sem cargos suficientes no primeiro escalão do governo para contemplar as demandas, o governo deve ter de fatiar alguns ministérios grandes, entregando o cargo de ministro a um partido e cedendo secretarias e órgãos públicos a outro. As trocas de ministros devem se restringir, então, a alguns ministros do PSDB, deixando o grosso das mudanças para os três primeiros meses de 2018.

Ao fazer assim, Temer pretende agradar ao Centrão, que ainda cobra as recompensas pelo arquivamento das denúncias contra o presidente. Só que nessa conta de agora estão de fora as benesses a serem concedidas pelo governo para garantir os votos necessários para aprovar a reforma da Previdência. E se deixar para cumprir a parte no acordo apenas no ano que vem, muitos já terão saído do governo para disputar a eleição.

Portanto, a conta não fecha. A recomposição da base pode até ajudar, mas o tempo para votar uma medida tão polêmica quanto a reforma da Previdência é muito curto. Ainda que seja um texto enxuto, limitado à idade mínima para aposentadoria e à equiparação de valores entre trabalhadores das esferas pública e privada, o apoio dos aliados para aprovar uma mudança à Constituição (PEC) no Congresso é bem justo.

E não se trata do único vespeiro que Temer quer mexer. O governo corre contra o tempo para votar em menos de um mês o Orçamento de 2018 e a privatização da Eletrobrás. Antes disso, o governo deve anunciar a liberação de pouco mais de R$ 7 bilhões em gastos para os serviços públicos, permanecendo bloqueados cerca de R$ 25 bilhões. O anúncio deve ser feito hoje, antecipando o cronograma original, que previa a liberação no dia 22.

Já no exterior, o foco está na reforma tributária do presidente norte-americano, Donald Trump. A Câmara dos Deputados dos Estados Unidos aprovou ontem o projeto que prevê o corte de US$ 1,4 trilhão em impostos nos próximos dez anos, beneficiando de modo desproporcional as empresas e os contribuintes mais ricos de modo e prejudicando os estados que cobra elevadas taxas, como Nova York e Califórnia.

O projeto foi aprovado por 227 votos contra 205, com todos os deputados democratas votando contra. O texto ainda precisa passar no Senado por uma maioria qualificada de 60 votos para se transformar em lei, mas alguns senadores republicanos já se opuseram à proposta. Caso eles votem não, a reforma tributária de Trump terá o mesmo destino da revogação do Obamacare, que foi aprovada na Câmara, mas não passou no Senado.

Portanto, uma cautela também prevalece nos negócios no exterior. Os índices futuros das bolsas de Nova York estão com um viés negativo para o dia, um dia após o S&P 500 e o Dow Jones se recuperarem do maior tombo desde setembro e de o Nasdaq bater novo recorde de alta. Na Ásia, a sessão foi de ganhos, repercutindo o pregão regular em Wall Street, mas Xangai caiu 0,5%. Já as principais bolsas europeias abriram sem rumo único.

O dólar cai em relação a maioria das moedas, exceto o xará australiano (aussie), que é cotado no menor nível desde julho. O dólar neozelandês também recua, ao passo que o won sul-coreano e o ringgit malaio avançam. Nos bônus, o rendimento (yield) do título norte-americano de 10 anos (T-note) recua, em meio à influência da Rússia nas eleições dos EUA em 2016.

As commodities tiram proveito da desvalorização da moeda norte-americana, sendo que o barril de petróleo caminha para a primeira semana de perdas desde o início de outubro. Esse comportamento permitiu à Petrobras reduzir a partir de hoje o preço da gasolina cobrado nas refinarias em 3,8%, na maior queda diária desde o início de julho. O diesel, por sua vez, será reduzido em 1,3%.

A redução acontece após o preço médio do combustível nos postos brasileiros atingir níveis recordes, provocando protestos em dezenas de cidades no Estado de Goiás por causa do custo alto e levando algumas regiões ao desabastecimento. Desde que teve início a política diária de reajuste de preços dos derivados do petróleo, a gasolina e o diesel já subiram ao redor de 20%, cada, colaborando para pressionar a inflação.

Na agenda econômica do dia, saem números sobre o setor de serviços no Brasil em setembro (9h) e sobre a construção de casas novas nos Estados Unidos em outubro (11h30).

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