A revolta da reforma
De um lado, um partido rachado; do outro, políticos ávidos por cargos. A crise instalada no PSDB, com o gesto brusco do senador Aécio Neves para reassumir o comando entre os tucanos, e a pressão da base aliada pela troca de ministros para aprovar a reforma da Previdência não deixam muito claras as chances de votação das novas regras neste ano. E esse tema continua sendo o mais importante no cenário dos mercados domésticos.
O presidente Michel Temer avalia que uma reforma ministerial é "inevitável", já que muitos ministros deixarão a Esplanada para concorrer a cargos nas eleições de 2018. No entanto, ao ser questionado se faria a reforma antes do planejado, em abril, Temer respondeu: "Acho que não" e disse que saberá "o tempo certo para fazer a reforma".
A expectativa é de que somente após o próximo feriado, no dia 15, surjam novidades em relação às reformas ministerial e da Previdência. Até lá, Temer deve costurar a participação do PSDB no governo, hoje com quatro Pastas, e satisfazer o Centrão. Só assim, crescem as chances de aprovação de ao menos dois pontos da proposta: a idade mínima para aposentadoria e a equiparação de valores entre servidores públicos e a iniciativa privada.
Caso a reorganização da base aliada ocorra em breve, a percepção do investidor é de que haveria tempo hábil para votar a reforma da Previdência na Câmara antes do início do recesso Legislativo, em meados do mês que vem. Resta saber se as benesses de Temer serão suficientes para garantir os 308 votos necessários para aprovar a emenda.
Líderes dos partidos do Centrão têm dito abertamente que não darão votos a favor da reforma da Previdência. Mas essa postura pode mudar se o presidente abrir mão do apoio dos tucanos. Para o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, sem a reforma ministerial não há chance de aprovar a reforma da Previdência. "Sem resolver o problema político, nada vai andar", disse.
Diante desse imbróglio, os investidores redobram a cautela, à espera dos desdobramentos em Brasília. Mas a agenda doméstica, enfim, ganha relevância nesta sexta-feira e traz como destaque a inflação oficial ao consumidor brasileiro (IPCA) em outubro. A previsão é de aceleração na taxa, com alta de 0,48% em relação a setembro, o que, se confirmado, será o maior resultado mensal do IPCA neste ano e desde julho do ano passado.
Ainda assim, a inflação acumulada em 12 meses deve seguir abaixo de 3% pela quarta vez seguida, em 2,75%, mas será a maior taxa para o período desde junho, quando a taxa começou a vir abaixo desse nível. Essa trajetória de volta do IPCA reflete o fim da queda de preços nos alimentos e os aumentos recorrentes nos combustíveis e na conta de luz.
A questão é que, aos poucos, o mercado financeiro vai sinalizando que os tais 7% esperados para a taxa básica de juros não são tão sustentáveis assim. A política diária da Petrobras de reajustar a gasolina e o diesel, além da revisão periódica nos preços do botijão de gás, combinada com o nível baixo dos reservatórios tende a pressionar a inflação.
Ao mesmo tempo, o prognóstico de que fatores climáticos podem trazer mais chuva entre o fim deste ano e o início do ano que vem, beneficiando as regiões produtoras, serve de contrapeso tanto na alimentação quanto na bandeira tarifária. Deste modo, a questão política continua sendo o fator-chave para saber qual seria o nível sustentável da Selic.
Já no exterior, Wall Street reagiu mal ontem à possibilidade de a reforma tributária do governo Trump atrasar e ser implementada somente a partir de 2019. Esse prazo foi defendido pelos senadores republicanos, ao contrário da Câmara, onde os deputados do mesmo partido defendem que o corte de impostos às empresas entre em vigor em 2018.
A notícia não é boa para a promessa de campanha do presidente norte-americano, Donald Trump, de fazer a “América grande novo”, mas é positiva para os países emergentes, pois se os Estados Unidos crescerem em um ritmo mais moderado, o Federal Reserve não precisa ter pressa em acelerar o ritmo de alta da taxa de juros.
Diante desse cenário, os índices futuros das bolsas de Nova York seguem no vermelho nesta manhã, o que atrapalhou a sessão na Ásia e prejudica a abertura na Europa, ao passo que o dólar segue em queda, o que beneficia as moedas de países emergentes, mas não anima as commodities. O petróleo se sustenta na faixa de US$ 55 o barril, ainda sob reflexo da prisão de príncipes e ministros por corrupção na Arábia Saudita.
No calendário econômico no exterior, sai apenas a leitura preliminar de novembro do índice de confiança do consumidor norte-americano (13h). No Brasil, além do IPCA (9h), sai a primeira prévia deste mês do IGP-M (8h).