Mercado olha para fora
A semana chega ao fim com as atenções voltadas ao ambiente internacional, neste dia de divulgação dos números da economia dos Estados Unidos no terceiro trimestre deste ano. Aliás, é do exterior que tem surgido as novidades capazes de agitar os mercados financeiros, uma vez que os cenários político e econômico no Brasil têm entregado o que é esperado, mantendo as expectativas locais elevadas.
Ontem, as declarações suaves (“dovish”) vindas do presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, afundaram o euro e o movimento reverberou em todo o mundo, içando o dólar e levando a moeda norte-americana a superar a marca de R$ 3,25. A retirada de estímulos monetários à região da moeda única não soou agressiva (“hawkish”), esvaziando as apostas de aumento dos juros no bloco.
Essa avaliação somada à possibilidade de uma reforma tributária nos EUA potencializou a força do dólar, que também vem ganhando sustentação com a mesa de apostas sobre a sucessão no comando do Federal Reserve. O nome do economista John Taylor é cada vez mais favorito, com o presidente Donald Trump escolhendo alguém de postura dura para conter os efeitos inflacionários vindo dos cortes de impostos às empresas e às famílias.
Tendo esse pano de fundo, os investidores recebem hoje (10h30), os resultados do Produto Interno Bruto (PIB) norte-americano entre julho e setembro. A expectativa é de ligeira desaceleração no ritmo da atividade econômica, com a taxa de crescimento anualizada passando de 3,1% ao final da primeira metade deste ano para 2,8% nos três primeiros meses do segundo semestre.
Depois, sai a leitura revisada de outubro do índice de confiança do consumidor nos EUA (12h). Na Europa, o BCE volta à cena para anunciar as projeções macroeconômicas, que devem continuar mostrando a inflação em níveis baixos e o crescimento em trajetória ascendente. No Brasil, saem as sondagens do comércio (8h) e da construção civil (11h), além dos dados sobre as operações de crédito no Brasil (10h30) e dos balanços trimestrais de Usiminas e Embraer, antes da abertura do pregão local.
Mas o que desperta interesse por aqui é a calibragem das expectativas que vem sendo feita pelo governo, mantendo o discurso de que mais reformas serão feitas. O ministro Meirelles (Fazenda) prometeu intensificar o corpo a corpo com os parlamentares para avançar com a "agenda positiva" até o fim do ano. Ele conversou com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, sobre as novas regras da Previdência e mantém a previsão de aprovação.
Agora, porém, Meirelles mudou o tom e já não fala mais em aprovação na segunda metade de novembro – e sim em dois meses. A questão é saber se esse processo terá mesmo apoio.
Depois de tanta convicção (e acerto), em relação ao arquivamento de mais uma denúncia contra o presidente Michel Temer e também à redução no ritmo de cortes na taxa básica de juros, o horizonte à frente no país ficou um pouco mais nebuloso. Não se sabe mais qual é o tamanho da base aliada do governo nem quanto mais a Selic pode cair – e se além de 2017.
Todas essas incertezas, internas e externas, estressaram os mercados domésticos ontem, pressionando o dólar e os juros futuros, e enfraquecendo a Bovespa, que já começa a sentir saudade do investidor estrangeiro. O ingresso maciço de recursos externos na renda variável, observado nos últimos meses, perdeu vigor neste mês, deixando dúvidas em relação à chance de um rali de fim de ano, que levaria a Bolsa aos 80 mil pontos.
Lá fora, os índices futuros das bolsas de Nova York ensaiam alta nesta manhã, mas sem muito entusiasmo. Os ganhos firmes na Ásia, onde a Bolsa de Tóquio superou os 22 mil pontos pela primeira desde 1996, embalam a abertura do pregão na Europa. O euro, por sua vez, segue em queda, ainda sob efeito do BCE, ao passo que a libra esterlina ressente os temores quanto à saída do Reino Unido da União Europeia (UE), o chamado Brexit.
Também em destaque entre as moedas está o dólar australiano, que caiu ao menor nível desde julho, após o governo do país-continente perder a maioria no Parlamento. O xará neozelandês também é pressionado. Nas commodities, o petróleo se sustenta próximo aos maiores níveis em mais de dois anos, em meio ao otimismo de que os cortes na produção pelo cartel de países produtores (Opep) será estendido.