Em greve
Após duas sextas-feiras seguidas de feriado, o último dia da semana, que também marca o fim das negociações em abril, em pouco se parece a um dia útil normal. Desde as primeiras horas, o transporte público está comprometido nas principais cidades do país, dificultando o deslocamento ao trabalho para aqueles que não aderiram à greve geral convocada para hoje, enquanto os carros congestionam as ruas, muitas delas bloqueadas. Mesmo assim, a adesão parece ser grande.
A imprensa tradicional e o governo querem abafar a mobilização organizadas por várias centrais sindicais e com adesão de diferente categorias, de modo que os protestos não assumam um caráter nacional, que venha a dificultar ainda mais o apoio dos parlamentares às reformas em pauta no Congresso. Mas a expectativa é de que o movimento atinja todos os estados brasileiros nesta sexta-feira.
Ontem, os investidores não conseguiram esconder o desconforto com a paralisação e ampliaram a posição defensiva, o que limitou o ânimo nos negócios com o placar da votação da reforma trabalhista. Na verdade, o mercado doméstico esperava um “número mágico”, de ao menos 300 votos, para ganhar confiança na aprovação da reforma da Previdência.
Afinal, se a base do governo Temer estivesse bombando, a vitória na aprovação das mudanças em mais de 100 pontos das atuais leis trabalhistas (CLT) teria dado até mais que os 308 votos necessários para aprovar a reforma previdenciária. Até porque, a Casa estava cheia, com mais de 470 deputados no momento da votação, mas o resultado final deixou o jogo em aberto.
Além disso, o pedido de vários deputados para apoiar apenas uma das duas reformas, mostra que as traições da base aliada podem ser maiores que as 80 verificadas na votação da trabalhista. Com um texto muito mais polêmico, aprovar as mudanças nas regras de acesso à aposentadoria pode ser mais difícil e o governo sabe que ainda precisa angariar votos para aprovar a reforma, em dois turnos.
Até por isso, muitos líderes dos partidos aliados defendem o adiamento da votação do parecer do relator na comissão especial. Por ora, o prazo foi alterado em apenas um dia, migrando de 2 para 3 de maio, mas há quem apoie uma delonga maior, para a semana seguinte, de modo a convencer as bancadas.
Os próximos dias, portanto, reservam muitas pressões. A começar pela greve geral desta sexta-feira. O movimento crescente pode piorar o apoio do Legislativo às reformas, apesar das ameaças do Poder Executivo de cortar o ponto de funcionários e até demitir por justa causa.
E ainda tem o feriado de Primeiro de Maio, quando deve haver os tradicionais protestos pelo Dia do Trabalho, data que paralisa os negócios locais, enquanto Wall Street funciona normalmente. Muitas bolsas europeias e na Ásia também estarão fechadas na próxima segunda-feira.
Na agenda econômica do dia, o calendário está repleto de divulgações, aqui e lá fora. No Brasil, o destaque fica com a taxa de desemprego, que deve alcançar novo nível recorde e subir a 13,5% no período até março, ficando perto dos 14 milhões de desempregados. O resultado efetivo será divulgado às 9h.
Antes, às 8h, a FGV divulga as sondagens de abril dos setores industrial e de serviços. Depois, tem ainda os dados das contas públicas compilados pelo Banco Central (10h30), que devem confirmar o rombo fiscal do governo apontado ontem pelo Tesouro, e também a sondagem da CNI sobre a atividade da construção civil (11h).
Já no exterior, as atenções se voltam para a primeira leitura do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos nos três primeiros meses deste ano. O dado será divulgado às 9h30 e os números podem frustrar, mostrando que a maior economia do mundo pouco cresceu no período, afetada pelas condições climáticas e pelo menor gasto com consumo.
Ainda na agenda econômica norte-americana, sai a leitura final deste mês do índice de confiança do consumidor (11h). Na Europa, logo cedo, foi anunciada uma série de indicadores econômicos relevantes, ainda assim as principais bolsas da região estão na linha d'água nesta manhã, sem um rumo único.
O movimento acompanha a indefinição para o dia apontada pelos índices futuros das bolsas de Nova York, após uma sessão de altas e baixas na Ásia. Os investidores promovem os ajustes finais na carteira e se preparam para o desafio do próximo mês, conhecido como um tradicional período de embolso dos ganhos antes das férias de verão no Hemisfério Norte.
Atento a esse período - marcado pelo jargão "sell in may and go away", os ativos que subiram mais, hoje caem, enquanto aqueles que perderam muito terreno, agora se recuperam. É o caso do petróleo, que avança, mas segue abaixo do US$ 50 o barril, e do dólar, que mede forças ante os rivais, mas cai ainda o euro, o iene e a libra.
Ainda assim, antes da virada da folhinha, os investidores ainda observam a data simbólica dos primeiros cem dias de Donald Trump à frente da Casa Branca, amanhã. As comemorações podem ser manchadas pela possibilidade de paralisação do governo, por falta de recursos, à meia-noite desta sexta-feira - o chamado "shutdown", caso o Congresso norte-americano não chegue a uma resolução até o fim do dia.