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Super Quarta-feira


A quarta-feira reserva uma agenda carregada de eventos e indicadores econômicos, o que tende a alternar momentos de cautela com dosagens de volatilidade nos mercados financeiros pelo mundo. O grande destaque do dia é a primeira entrevista coletiva que Donald Trump concede como presidente eleito e que pode traçar os planos do republicano após ocupar a Casa Branca.

A depender do que ele disser hoje, a partir das 14h, os negócios tendem a ficar mais sensíveis ao risco. De um modo geral, os investidores estão apreensivos com a política econômica a ser adotada no governo Trump, que pode ser de expansionista, aumentando os gastos públicos e cortando os impostos. Do lado comercial, espera-se maior protecionismo.

Essa prática, porém, tende a ser inflacionária, o que obrigaria o Federal Reserve a elevar a taxa de juros norte-americana de um modo mais acelerado e agressivo, ao contrário do gradualismo que vem sendo defendido pelo Banco Central dos Estados Unidos. Recentemente, o Fed destacou uma grande incerteza do lado fiscal. Assim, o principal fator agora não é a política monetária, pois ela só irá reagir ao que Trump disser (e fizer) daqui para frente.

A última vez que o republicano concedeu uma entrevista aberta foi em junho. Desde então, ele tem se manifestado pelas redes socais ou em eventos públicos, onde não costuma ser interrompido. Desta vez, Trump deve responder a perguntas mais agressivas de jornalistas, que irão tocar em pontos polêmicos e testar o preparo dele para enfrentar uma cobertura crítica das propostas do empresário.

Para o Banco Mundial, os planos de Trump de reduzir impostos e elevar os gastos do poderiam impulsionar a economia dos EUA, elevando o crescimento global, apesar dos riscos da política comercial defendida pelo republicano. Ontem, o mais recente relatório da instituição mostrou a previsão de expansão de 2,7% da economia mundial neste ano, com o fim da recessão no Brasil e na Rússia. Para o Banco Mundial, o Produto Interno Bruto (PIB) doméstico deve crescer 0,5% em 2017.

À espera do show de Trump, os mercados internacionais têm movimentos laterais e refreiam a euforia exibida desde a eleição dele, adotando um comportamento de "esperar para ver". Os índices futuros das bolsas de Nova York estão na linha d'água e o dólar também mostra oscilações estreitas ante os rivais.

Porém, as ações em Wall Street e a moeda norte-americana têm chances de ganhar forças no dia, quanto mais exagerado for o tom de defesa do Trump por uma política expansionista. Na Europa, o sinal das bolsas é misto, enquanto na Ásia, Xangai caiu (-0,79%), mas Hong Kong cravou a décima sessão seguida de alta.

Entre as commodities, os dados de inflação divulgados ontem na China ainda ecoam nos negócios com os metais básicos, o que mantém o minério de ferro e o cobre embalados, diante dos sinais de crescimento econômico do gigante emergente. O petróleo oscila em alta, mas segue perto do menor valor em um mês, em meio à perspectiva de aumento da produção nos EUA.

Já no Brasil, o resultado da inflação em 2016, pela manhã (9h), prepara o terreno para a decisão de juros do Banco Central, à noite (18h). O índice oficial de preços ao consumidor (IPCA) deve ganhar força em dezembro e subir 0,33% ante novembro. Ainda assim, será a menor taxa para o mês desde 2008, quando avançou 0,28%.

Com isso, a taxa acumulado em todo o ano passado deve desacelerar a 6,33%, em relação ao salto de 10,67% apurado em 2015. Além de retroceder aos níveis de 2013, quando subiu 5,93% naquele ano, o IPCA conseguirá fechar o ano passado dentro do intervalo de tolerância do Banco Central.

Trata-se, então, de um cenário favorável para cortes mais agressivos na taxa básica de juros. Mas o Comitê de Política Monetária (Copom) deve ser um pouco menos arrojado e reduzir a Selic em 0,50 ponto, para 13,25%, hoje, depois de cortar o juro básico em 0,25 ponto nos dois últimos encontros de 2016.

Há que aposte que, para convencer o Copom a ser menos conservador, pulando para uma queda de 0,75 ponto, sem escala, será preciso um IPCA muito fraco. O mais provável é que o BC deixe essa dose maior para a primeira reunião do segundo trimestre, em abril, quando já terá absorvido as políticas de Trump e a reação do Fed. Além disso, um cenário mais longo de queda dos juros ainda depende de aprovações no Congresso.

Aliás, o noticiário em Brasília segue fraco, nesta época de recesso parlamentar e do Judiciário. Mas os trabalhos voltam em fevereiro, quando a primeira pauta da Câmara dos Deputados não será nenhuma das reformas (Previdenciária, trabalhista, tributária), mas sim a eleição para a presidência da Casa.

Um dia após Rogério Rosso (PSD) oficializar seu nome ao cargo, a contragosto do partido, ontem foi a vez do líder do PTB, Jovair Arantes, lançar candidatura. Rodrigo Maia, atual presidente, ainda conta com a maior probabilidade de vencer a disputa.

Para o Palácio do Planalto, é imprescindível que um aliado seja escolhido, para dar continuidade às medidas fiscais. Mas o presidente Michel Temer tem tido dificuldade em emplacar uma agenda positiva, em meio à crise das penitenciárias e da dívida dos Estados. Mas isso é assunto só para o mês que vem!

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