Mercado ainda digere eleição de Trump
O cenário advindo do "efeito Trump" ainda traz nebulosidade aos mercados financeiros, que observam nesta semana novos capítulos da precificação de risco nos ativos globais, em meio aos possíveis impactos da eleição do republicano nos Estados Unidos. Os investidores dão sinais de cansaço dos exageros recentes no dólar, nas bolsas e juros e aguardam, agora, a fala da presidente do Federal Reserve, Janet Yellen, hoje (13h).
Será a primeira vez desde a vitória de Donald Trump que Yellen aparecerá publicamente. A expectativa em torno das declarações dela no Congresso dos EUA é grande, diante da percepção de que o plano agressivo do republicano para a geração de emprego e o alívio fiscal irá acelerar a inflação no país.
Essa política tende a colocar em xeque o ajuste gradual nos juros dos EUA, com o provável aumento dos preços na maior economia do mundo demandando uma alta mais intensa dos juros pelo Fed. As apostas de um ciclo de aperto monetário de fato nos EUA, ao invés de uma simples normalização da taxa de juros norte-americana, provocam uma valorização do dólar e do rendimento (yields) dos títulos (treasuries).
Hoje, porém, o dólar mede forças ante os rivais e sai do maior nível em nove meses, ao passo que a T-note de 10 anos devolve prêmio, o que sustente os índices futuros das bolsas de Nova York no azul. O petróleo, porém, recua, diante do aumento dos estoques da commodity nos EUA e da falta de acordo na Opep por uma corte de produção. O cobre também sai da máxima em dois anos, enquanto o ouro se estabiliza.
Nas moedas, o euro se fortalece pela primeira vez em nove dias e o iene devolve parte do avanço de mais de 3% desde a vitória de Trump. Já as divisas emergentes ainda são pressionadas, com o ringgit malaio caindo pelo sétimo dia consecutivo, enquanto os dólares australiano e neozelandês estendem as perdas.
O Brasil tenta escapar de tal ajuste nas economias emergentes, com o Banco Central e o Tesouro Nacional mostrando munição. A atuação conjunta dos órgãos do governo, ontem, ajudou a acalmar o mercado doméstico, com a oferta de leilões de moeda estrangeira e títulos prefixados oferecendo suporte aos ativos locais e garantindo liquidez aos negócios, evitando maiores distorções.
Hoje, o BC repete a oferta de US$ 1,5 bilhão em swap cambial, equivalente à venda de dólares no mercado futuro, ao passo que o Tesouro compra NTN-F até amanhã. A agenda doméstica desta quinta-feira traz como destaque o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) referente ao mês de setembro.
O dado é tido como uma prévia do desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre deste ano e será divulgado às 8h30. A expectativa é de ligeira alta ante agosto, mas com uma queda ainda intensa em base anual.
Por falar em PIB, o IBGE divulga, às 9h, as revisões dos números da economia entre 2010 e 2014, preparando o terreno para os dados que serão conhecidos no próximo dia 30, quando saem os indicadores do PIB entre julho e setembro deste ano.
No exterior, antes de Yellen, merecem atenção os índices de preços ao consumidor (CPI) na zona do euro (8h) e nos EUA (11h30) referentes ao mês passado. Ainda no calendário norte-americano, saem a construção e as licenças de novas residências em outubro (11h30), juntamente com os pedidos semanais de auxílio-desemprego e o índice de atividade em Filadélfia neste mês.
Também em destaque está a decisão de política monetária do Banco Central do México. Na primeira reunião após a eleição de Trump, a expectativa é de que o chamado Banxico eleva a taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual, de 4,75% para 5,25%, em resposta à forte desvalorização do peso mexicano e diante da cautela com a política econômica do presidente eleito nos EUA.
O anúncio será feito às 17h. À noite, às 19h, o BC do Chile também anuncia a decisão de juros, mas é esperada manutenção da taxa em 3,50%.