Mercado detecta ruídos políticos
O mercado financeiro começa a captar ruídos políticos vindos de Brasília, que despontam como um grande risco aos negócios locais, em meio à probabilidade de, em algum momento, acontecer algo ruim. O desentendimento envolvendo representantes dos Três Poderes, com o presidente do Senado, Renan Calheiros, abrindo um crise com o Judiciário, não é o cenário principal, diante da possibilidade de a Odebrecht incluir não apenas os nomes de ex-presidentes, mas também o do atual, Michel Temer.
Por mais que o governo esteja fazendo conforme o mercado financeiro espera, avançando as medidas de ajuste fiscal no Congresso e abrindo espaço para uma queda da taxa básica de juros (Selic), a delação premiada de dirigentes da Odebrecht passa a ser um fator que começa a ganhar contorno nas mesas de operação e também nos bastidores da capital federal.
Lideranças de diversos partidos, como o PSDB e o PT, já discutem a chance de o Brasil ter um terceiro presidente em menos de quatro anos, face a possibilidade de Temer não conseguir atravessar a turbulência da delação premiada de Marcelo Odebrecht e os demais executivos da empreiteira. O conteúdo das declarações ainda não foi confirmado e deve ser publicado, a princípio, no dia 8 de novembro, mas as alternativas a Temer, em uma eleição indireta em 2017, já passam a ser aventadas.
Não apenas Temer estaria incluído nas delações da Odebrecht, como também ministros do primeiro escalão do governo. O ex-presidente da empreiteira Pedro Novis quase foi retirado do acordo com a força-tarefa da Operação Lava Jato por tentar dourar a narrativa e omitir políticos, entre eles o atual ministro das Relações Exteriores, José Serra. O executivo acabou "enquadrado" e passou a dar mais informações.
Outro ruído é detectado no Senado, após as declarações duras de Renan Calheiros contra a ação autorizada pela Justiça Federal do Distrito Federal, que resultou na prisão de quatro policiais legislativos na semana passada. Ele chegou a referir-se ao juiz que autorizou a ação, Vallisney Oliveira, de "juizeco", gerando um troca de farpas com a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), a ministra Carmen Lúcia, que se recusou em comparecer à reunião agendada por Temer entre ela, ele e Renan.
A questão é que o governo precisa superar esse mal-estar, já que o Senado receberá a PEC do teto dos gastos e espera a aprovação da emenda constitucional ainda neste ano. Para tanto, a matéria precisa ser apreciada em dois turnos até meados de dezembro e receber o apoio de 54 senadores. Na Câmara dos Deputados, o placar com menos votos favoráveis à proposta do que em sua primeira votação frustrou a demonstração de força que o governo queria dar no Congresso.
Oficialmente, porém, analistas e economistas dizem que a alta de ontem do dólar e a queda da Bovespa foram apenas uma "leve correção", após a euforia recente, que levou a moeda norte-americana ao menor nível em quase um ano e meio e içou a Bolsa brasileira à máxima desde abril de 2012. Por mais que tenha sido apenas um ajuste, são os investidores, estrangeiros, principalmente, que podem desarmar essa festa a qualquer momento - ainda mais diante de riscos que continuam à vista.
No exterior, o ambiente tampouco está favorável à tomada de risco. O sinal negativo vem desde a Ásia, passando pela Europa e chegando em Nova York, mas sendo determinado pela queda do preço do barril de petróleo para abaixo de US$ 50, no menor nível em três semanas, fortalecendo o dólar ante os rivais diante da proximidade de um aumento dos juros pelo Federal Reserve, e em meio a uma safra de resultados decepcionantes de gigantes mundiais.
Um dia após a frustração com o balanço da Apple, foi a vez de a Samsung abalar os negócios e reportar queda no lucro, em meio à crise com a fabricação do Galaxy Note 7. Na safra de balanços brasileira, saem os resultados trimestrais da Vale, antes da abertura do pregão local, e da BRF, após o fechamento.
Enquanto a mineradora pode surpreender positivamente, diante da melhora nos preços do minério de ferro, a o lucro da gigante de alimentos pode despencar, por causa da demanda doméstica menor. Entre os indicadores, a agenda econômica desta quinta-feira traz como destaque os números atualizados até setembro sobre o mercado de trabalho no Brasil.
A taxa de desocupação deve alcançar a marca de 12% no terceiro trimestre deste ano, renovando o nível recorde do desemprego no país. Além dessa marca histórica, o total de pessoas sem emprego deve superar a marca inédita de 12 milhões. Os dados oficiais serão divulgados às 9h pelo IBGE. Antes, às 8h, sai a sondagem do comércio em outubro. O dia reserva ainda mais um déficit fiscal do governo central (14h30) e os dados da arrecadação federal em setembro (10h).
No exterior, as atenções se voltam para a leitura preliminar do Produto Interno Bruto (PIB) do Reino Unido no trimestre passado. O dado será conhecido logo cedo. Depois, o foco se desloca para a agenda norte-americana, onde saem os pedidos semanais de auxílio-desemprego e as encomendas de bens duráveis em setembro, ambos às 10h30, além das vendas pendentes de imóveis no mês passado (12h).