Emergentes comemoram decisão de BCs
As commodities, ações e moedas - sobretudo de países emergentes - têm ganhos acelerados neste dia seguinte às decisões dos bancos centrais do Japão (BoJ) e dos Estados Unidos (Fed). A sinalização das autoridades monetárias de que vão manter uma atuação acomodatícia, sem a intenção de retirar os estímulos à economia de forma agressiva, sustenta um apetite por risco, diante da percepção de que o quadro seguirá favorável à liquidez global por mais algum tempo, alimentando a busca por ativos de maiores retornos.
A Bolsa da Turquia foi destacada de alta durante a madrugada no Brasil, tendo a companhia das praças no Paquistão e nas Filipinas. O índice MSCI de mercados emergentes subiu pouco mais de 1%, tendo tocado o maior nível desde o início do mês durante a sessão. Entre os países desenvolvidos, a Bolsa de Tóquio subiu quase 2%, enquanto as principais bolsas europeias avançam mais de 1% nesta manhã, com as mineradoras e petrolíferas liderando a alta, na primeira reação desses mercados à decisão do Federal Reserve, ontem.
Nas moedas, o won sul-coreano registrou a maior alta em três meses, ao passo que o rand sul-africano subiu pelo sétimo dia seguido e o dólar de Taiwan alcançou o maior nível desde julho de 2015. O enfraquecimento do dólar beneficia o avanço das commodities, com a alta do petróleo para além de US$ 45 o barril embalando também as moedas de países produtores e exportadores, como o ringgit malaio. Todo esse movimento é alimentado pelo adiamento do Fed em subir os juros, o que beneficia o fluxo de recursos aos emergentes.
Porém, os índices futuros das bolsas de Nova York começam a quinta-feira de ressaca, com Wall Street no vermelho, ainda assimilando a mensagem deixada pelo Fed ontem. O placar de 7 votos pela manutenção de juros contra 3 pelo aumento da taxa, na maior dissidência entre membros do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) desde dezembro de 2014, indica que um aperto monetário em 2016 segue possível, embora o ritmo gradual seja apropriado.
A revisão para baixo nas projeções das principais variáveis macroeconômicas sugere que o Fed não deve ser agressivo na condução do processo de normalização monetária, tendo, inclusive, reduzido de três para duas altas nos juros ao longo de 2017. Porém, os investidores entenderam a decisão de manutenção, ontem, pela sexta vez seguida, como agressiva (“hawkish hold”) e elevaram para mais de 60% as apostas de que uma nova alta na taxa dos Fed Funds (FFR) aconteça em dezembro.
A presidente do Fed, Janet Yellen, lembrou que a maioria (12) dos 15 membros do Fomc prevê um aumento dos juros norte-americanos ainda este ano e ressaltou que a opção pela elevação em novembro “continua viva”. Segundo ela, há riscos à economia dos Estados Unidos em manter uma acomodação dos estímulos por um período longo e o Fed não deve esperar para que esse aquecimento da atividade fique evidente ao “branco dos olhos”.
Mas o mercado parece querer esperar para ver e ainda se apoia nos sinais dos BCs dos EUA, Japão e da Europa (BCE e BoE) de que a era do dinheiro fácil ainda não acabou.
Entre os indicadores econômicos do dia, a agenda norte-americana está carregada hoje, com a divulgação dos pedidos semanais de auxílio-desemprego (9h30); do índice FHFA sobre preços de imóveis em julho (10h) e das vendas de imóveis existentes em agosto, além dos indicadores antecedentes do mês passado (ambos às 11h).
No Brasil, as atenções se voltam para a prévia da inflação oficial no Brasil, medida pelo IPCA-15 (9h). O indicador deve perder força pelo segundo mês consecutivo e subir 0,33% em setembro, ante alta de 0,45% em agosto. Com isso, o resultado no acumulado em 12 meses também deve desacelerar e subir 8,90%, de 8,95% no período até o mês passado.
Se confirmado, será o menor resultado para o mês desde 2013, o que pode sinalizar uma trajetória mais confortável dos preços até o fim de 2016. Ainda assim, a inflação segue alta e a aprovação de medidas fiscais no Congresso continua com um peso significativo para que o Comitê de Política Monetária (Copom) possa iniciar o tão esperado ciclo de cortes da taxa básica de juros (Selic).
Também no calendário doméstico, saem dados sobre o setor industrial, às 8h e às 11h.