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Incertezas permanecem


Os mercados financeiros se apoiam agora na perspectiva de que, na melhor das hipóteses, o juro nos Estados Unidos vai subir só em dezembro e aproveitam para ajustar parte dos exageros recentes, quando os negócios globais entraram em forte correção. Ainda assim, os investidores reduzem o apetite por ativos de risco, uma vez que o Federal Reserve não deve demorar muito mais para agir, estragando a festa do dinheiro fácil.

Os mercados emergentes zeram as perdas acumuladas nesta semana diante da queda para menos de 50% das apostas de um aperto na taxa de juros norte-americana neste ano, após os recentes indicadores econômicos dos EUA mais fracos que o esperado. As moedas correlacionadas às commodities ganham terreno ante o dólar, com destaque para o rand sul-africano e a rupia indonésia, apesar do recuo do barril de petróleo para abaixo de US$ 44.

Já as ações de países em desenvolvimento seguem rumo à maior sequência de perdas desde junho. Esse desempenho das bolsas emergentes é contaminado pelo sinal negativo que prevalece em Wall Street e também nas praças europeias, com os investidores à espera de novos sinais sobre quando o Federal Reserve deve mesmo elevar o custo do empréstimo nos EUA. E a agenda econômica norte-americana desta sexta-feira volta a trazer pistas.

As atenções se voltam para o índice de preços ao consumidor (CPI) em agosto, uma vez que a ausência de pressão inflacionária tem sido um dos principais motivos para a falta de ação do Fed. O dado será conhecido às 9h30. Depois, às 11h, é a vez da leitura preliminar de setembro do sentimento do consumidor, medido pela Universidade de Michigan.

Assim, ainda que os mercados globais operem sob uma carga menor de estresse hoje, em relação aos últimos dias, isso não significa que os dias de volatilidade chegaram ao fim. Ao contrário, diante da proximidade da reunião dos bancos centrais dos EUA e do Japão (BoJ), que termina na quarta-feira, os investidores mantêm certa tensão nos negócios, em meio às preocupações de que os grandes BCs estão hesitando em adotar mais estímulos.

Afinal, a manutenção de políticas monetárias frouxas pelo mundo teve pouco efeito sobre a retomada da economia global e a geração de inflação. No Brasil, o calendário do dia está sem destaques, trazendo a leitura semanal da inflação ao consumidor (IPC-S) neste mês, às 8h, e o desempenho do setor de serviços em julho (9h).

Além do receio envolvendo o Fed e toda essa cautela no ambiente externo, os mercados domésticos também tentam lidar com os riscos políticos, que só se avolumam. Os investidores seguem incertos com a nova gestão em Brasília e começam a se perguntar se o desenrolar após a denúncia do Ministério Público Federal (MPF) contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não poderia respingar em personagens da situação.

Para o Palácio do Planalto, a força-tarefa da Operação Lava Jato estaria exagerando no tom ao apresentar as denúncias contra nomes citados no esquema de corrupção da Petrobras. Para integrantes do governo Temer, as acusações baseadas em delações e sem provas concretas podem comprometer a credibilidade da investigação.

A expectativa é de que a decisão do juiz Sérgio Moro sobre Lula seja publicada na próxima segunda-feira, acatando (ou não) a denúncia. Mas não é a decisão do MPF contra Lula, o comandante máximo do esquema de corrupção da Petrobras, que preocupa.

Ao contrário do que projeta a equipe do presidente Michel Temer, a denúncia - sem provas, mas com convicção – está, em verdade, lançando luz sobre o ex-presidente e pode inflamar os protestos, aumentando a tensão nas ruas e dificultando o andamento da pauta fiscal. Até por isso, o governo tenta afinar o discurso em relação à necessidade em aprovar as propostas que limita o crescimento das despesas à variação da inflação e que eleva para 65 anos a idade mínima da aposentadoria.

Sob a tutela da queda da atividade econômica e da alta do desemprego, o argumento é de que o país entrou em uma rota insustentável de gastos e não consegue mais arcar com os compromissos públicos, como a saúde e a educação. O jeito é atrair investimentos ao Brasil - estrangeiro, principalmente - e diminuir o papel do Estado na economia.

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