Preocupações complicam negócios
As preocupações com o crescimento da economia global e os possíveis efeitos da saída do Reino Unido da União Europeia (UE) mantêm a busca por proteção em ativos seguros, diante da percepção de que a eficácia da política monetária dos principais bancos centrais do mundo parece ter alcançado seus limites. E esse movimento tende a ser replicado no Brasil, agora que o presidente interino, Michel Temer, foi envolvido no esquema de propina da Operação Lava Jato.
Doze horas após a decisão do Federal Reserve em manter a taxa básica de juros nos Estados Unidos entre 0,25% e 0,50%, foi a vez do BC japonês (BoJ) refrear em adotar novos estímulos, o que intensificou a queda das bolsas e das commodities, mas içou o iene para o maior nível em quase dois anos. Tóquio caiu 3%, apesar das apostas de estímulos adicionais no Japão em julho, enquanto o barril do petróleo é negociado abaixo de US$ 48. O cobre, o zinco e o níquel recuam mais de 1%.
O dólar tem um comportamento misto ante os rivais, após o número de membros do Fed que preveem apenas uma alta nos Fed Funds subir para seis, de apenas um integrante do Comitê (Fomc) em março. Esse sinal mais suave ("dovish") tende a enfraquecer a moeda norte-americana, mas a fuga dos ativos de risco, como as moedas de países emergentes, dá sustentação ao dólar.
Já os índices futuros das bolsas de Nova York mantêm o sinal negativo visto no fim do pregão de ontem em Wall Street, com os comportamento desigual da economia norte-americana e a falta de vigor do crescimento econômico global preocupando os investidores. Mais que isso, tanto o Fed quanto o BoJ citaram o referendo britânico no próximo dia 23 como um fator central na decisão de manter a política monetária estável, pois o resultado pode causar uma nova turbulência nos mercados.
As principais bolsas europeias caminham para a sexta sessão de queda nos últimos sete pregões, à medida que a votação sobre o "Brexit" se aproxima. Os investidores aguardam a decisão de política monetária do BC inglês (BoE), às 8h, que pode trazer avaliações sobre os impactos no Reino Unido de uma eventual saída da ilha britânica do bloco europeu.
Em meio a essa tensão nos mercados internacionais, os negócios locais também têm de lidar com a renovada preocupação no cenário político. Ontem, por menos de cinco minutos, a Bovespa chegou a cair 600 pontos, apagando uma alta ao redor de 1% e passando a cair cerca de 0,5%, após a divulgação da delação premiada do ex-presidente da Transpetro Sergio Machado, que cita o repasse de R$ 1,5 milhão em propina a Temer para a campanha de Gabriel Chalita (ex-PMDB) à Prefeitura de São Paulo, em 2012. O dólar também zerou as perdas e foi até o teto de R$ 3,50, logo após a notícia.
Temer nega o pedido de propina e diz que a versão do delator é "inverídica". Porém, peemedebistas confirmam e até detalham o trecho da delação de Machado. Segundo pessoas que viveram os bastidores do PMDB à época, Temer reassumiu o comando do partido já em 2014 para arbitrar a distribuição de R$ 40 milhões encaminhados pelo PT, depois de caciques da Câmara reclamarem que só os senadores eram beneficiados. Na ocasião, o deputado Eduardo Cunha, hoje afastado da presidência da Casa, liderava a bancada.
Trata-se da primeira delação que envolve diretamente o presidente interino, reacendendo a instabilidade política em Brasília. que ainda pode atingir o ápice, caso o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha, também decida pela via da delação premiada. Ele nega essa hipótese, bem como a de renúncia do cargo, mas ambas as possibilidades tende a aliviar a pressão do Judiciário.
De qualquer forma, por envolver o presidente interino, a delação de Machado pode fortalecer o cenário alternativo, de novas eleições presidenciais, causando ainda mais imprevisibilidade ao mercado domésticos. Essa possibilidade pode ser testada no pronunciamento de Temer a ser feito entre amanhã e a próxima segunda-feira, com a turbulência político reacendendo a comoção social. Para o Palácio do Planalto, a denúncia pode afetar a governabilidade ainda interina do governo, tornando-a muito ruim.
Na agenda econômica, o Banco Central concentra as atenções nesta quinta-feira. Às 8h30, será publicada a ata da reunião de junho do Comitê de Política Monetária (Copom). Porém, uma vez que foi escrito pelo colegiado demissionário, o documento perde relevância em relação às pistas sobre os próximos passos na condução da taxa básica de juros (Selic).
Essas expectativas tendem a ser calibradas com a publicação do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), prevista para até o fim do mês. Com isso, as atenções se voltam para o índice de atividade econômica do BC referente ao primeiro mês do segundo trimestre deste ano, em uma primeira sinalização sobre o comportamento do Produto Interno Bruto (PIB) no período.
A previsão é de que o IBC-Br interrompa cinco meses consecutivos de queda e avance 0,3% em abril ante março. Na comparação com abril de 2015, o recuo deve ser de 4,5%. Tradicionalmente divulgado às 8h30, o dado de hoje será conhecido apenas às 9h. Completam o calendário doméstico do dia a leitura semanal da FGV sobre a inflação ao consumidor (8h) e dados da Fiesp sobre o emprego na indústria (11h).
No exterior, destaque para o índice de preços ao consumidor nos Estados Unidos (9h30) em maio. No mesmo horário, sai o índice de atividade industrial na Filadélfia e os pedidos semanais de auxílio-desemprego. Depois, às 11h, é a vez do índice de confiança das construtoras.