Mercados em alerta
Junho começa com os investidores em alerta. A falta de trégua no cenário político brasileiro e a possibilidade de um novo aumento na taxa de juros dos Estados Unidos neste mês redobram a cautela nos mercados financeiros, levando a Bovespa a encerrar maio nos menores níveis desde abril, ao passo que o dólar foi além de R$ 3,60. E o primeiro dia do novo mês começa com os negócios na defensiva, antes de uma série de indicadores econômicos relevantes e já reagindo a números fracos sobre a indústria na China.
O índice oficial dos gerentes de compras (PMI) do setor industrial chinês seguiu em 50,1 em maio, repetindo a leitura de abril e contrariando a previsão de ligeira queda a 50. O número marca a linha divisória entre a expansão e a contração da atividade. A abertura do dado mostra que os subíndices de produção e compra de produtos cresceram, com destaque para o comportamento da pequenas e médias empresas.
No setor de serviços, o PMI caiu a 53,1 no mês passado, de 53,5 no mês anterior, penalizado pela queda nos preços e pela expectativa de negócios. Em reação, a Bolsa de Xangai interrompeu quatro altas seguidas e fechou em leve baixa, de -0,11%, um dia após registrar a maior alta em três meses, enquanto o yuan se enfraqueceu e encostou-se ao menor nível em cinco anos, alcançado em janeiro, quando provocou uma forte onda vendedora (selloff) nos mercados globais.
A questão é que, ainda que o dado chinês tenha permanecido acima da marca de 50, adicionando evidências à estabilização da segunda maior economia do mundo, os números apontam para uma perda de tração do país, com a expansão seguindo fraca após a China registrar, no ano passado, o menor crescimento em mais de duas décadas. Ainda assim, os sinais de resiliência do país são bem-recebidos pelos mercados emergentes, que estão acreditando que o gigante emergente está indo bem.
As bolsas e moedas dos países como Filipinas e Indonésia avançaram hoje, com os investidores avaliando que os dados chineses não foram tão ruins. Entre as moedas, destaque para o dólar australiano, que lidera os ganhos ante o xará norte-americano, após a economia da Austrália crescer acima do esperado no primeiro trimestre deste ano, em +1,1% ante o período anterior, superando a previsão de alta de 0,8%. Os dólares neozelandês e canadense pegam carona e também sobem. Entre as commodities, o petróleo recua, de olho na reunião do cartel de produtores (Opep), amanhã.
No Ocidente, as principais bolsas europeias acompanham o sinal negativo vindo de Nova York, com as atenções dos investidores voltadas para as ações de política monetária na Europa e nos EUA. O Banco Central da zona do euro (BCE) reúne-se amanhã, ao passo que o calendário econômico norte-americano de hoje pode ser um indicativo em relação aos próximos passos do Federal Reserve no processo de normalização monetária. A proximidade da reunião deste mês, que se encerra já no dia 15, tende a calibrar as apostas em relação a um aumento dos juros até julho.
A agenda do dia traz também dados sobre o setor industrial norte-americano em maio, às 10h45 e às 11h, além dos gastos com o setor de construção civil em abril (11h). À tarde, será publicado o Livro Bege do Federal Reserve (15h), que deve manter a avaliação de que a recuperação da economia norte-americana é lenta, mas existe.
Internamente, os mercados começam a se preocupar com os problemas políticos do presidente interino Michel Temer. O risco de reversão ao afastamento da presidente Dilma Rousseff, em meio às notícias de senadores dissidentes em relação aos votos no processo de impeachment, soma-se ao receio com eventuais dificuldades do governo em aprovar a pauta econômica no Congresso. Isso, sem falar, no potencial impacto das delações de executivos da Odebrecht no âmbito da Operação Lava Jato.
Por mais que seja prematuro arriscar em um eventual retorno de Dilma, a possibilidade de uma debandada de senadores para o lado dela aumenta as incertezas, deixando os negócios locais mais ressabiados e sem qualquer clima para a volta da presidente afastada. Contudo, não se pode descartar um movimento contrário, com alguns senadores que votaram contra o impeachment, colocando-se, agora, a favor, já que muitos passaram a fazer parte da base de apoio de Temer.
Hoje, 20 dias após a abertura do processo no Senado, a presidente afastada deve entregar sua defesa contra as acusações de que cometeu crime de responsabilidade fiscal. No documento, ela deve alegar que os atos não configuram crime e que o processo de impeachment tem “vícios de origem”. Além disso, o advogado de Dilma, o ex-ministro José Eduardo Cardozo, deve pedir a inclusão de gravações feitas pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado ao processo, a fim de sinalizar “desvio de poder” no trâmite.
Mas o mercado doméstico deve continuar mostrando sangue-frio ao risco do “volta Dilma”, o que desloca as atenções para a agenda de indicadores econômicos. O destaque desta quarta-feira são os números do Produto Interno Bruto (PIB) referentes ao primeiro trimestre deste ano.
E a economia brasileira deve ter caído pelo quinto trimestre consecutivo no início de 2016, porém em um ritmo menos intenso, com um recuo de 0,80% do PIB entre janeiro e março deste ano em relação aos últimos três meses do ano passado. No quarto trimestre de 2015, o PIB nacional encolheu 1,4%, na mesma base de comparação.
Já para a comparação com igual período de 2015, o PIB deve cair pelo oitavo trimestre consecutivo, em -5,9%, repetindo a queda apurada no último trimestre do ano passado em base anual, quando atingiu a maior retração desde o início da série histórica revisada, em 1996, para este tipo de confronto. Os números efetivos serão divulgados às 9h pelo IBGE.
Antes, às 8h, a FGV informa o resultado de maio do seu Índice de Preços ao Consumidor (IPC-S). Depois, destaque para os dados sobre o desempenho da balança comercial no mês passado (15h), que pode repetir o feito recorde em abril. Indicadores antecedentes sobre a indústria automotiva (Fenabrave) também são esperados para hoje.