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Onze dias, primeira crise permanente de um governo interino


Após o mal-estar causado ontem com o vazamento de conversas telefônicas envolvendo o ministro Romero Jucá (Planejamento) e a Operação Lava Jato, o governo interino tenta mostrar que segue no controle da situação e deve anunciar hoje as primeiras medidas para colocar a economia brasileira de volta aos trilhos e colocar em votação a nova meta fiscal. O foco, nesse momento, é a situação fiscal, visando maior eficiência e rigor do gasto público.

Porém, os áudios divulgados ontem, em que Jucá sugere um pacto para deter o avanço das investigações da Lava Jato e diz ser preciso “mudar o governo para estancar essa sangria” – política, e não da economia - ainda podem ecoar nos mercados domésticos hoje, com chances de trazer novos desdobramentos. Afinal, a obstrução sugerida pelo também presidente do PMDB pode colocar em risco o êxito na implantação de medidas – muitas delas, impopulares.

Jucá defendeu-se e garantiu que não iria pedir demissão, mas acabou se licenciando do cargo poucas horas depois. Nesta primeira crise que enfrenta o presidente em exercício, Michel Temer, com apenas sete dias úteis após assumir o comando, a saída do ministro foi uma condição necessária para não balançar o plano de voo da equipe econômica.

Porém, com Jucá afastado do cargo, o governo perde a capacidade de negociar o ajuste fiscal com parlamentares do Congresso, colocando em risco a votação de hoje. A sessão conjunta está marcada para as 11 horas e a agora oposição já avisou que vai tentar obstruir a pauta. Para a presidente afastada, Dilma Rousseff, a gravação de Jucá escancara o desvio de poder e os reais motivos que levaram ao impeachment do seu mandato.

Antes da votação pelos parlamentares, a partir das 10h, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, deve anunciar as medidas econômicas do já famigerado ajuste fiscal, em uma tentativa de diminuir o rombo de R$ 170,5 bilhões nas contas públicas. A nova meta fiscal deve ser equivalente a um déficit primário de 2,7% do Produto Interno Bruto (PIB).

Segundo Meirelles, as experiências anteriores, de aumento permanente de impostos e redução temporária de despesas, não se aplicam mais – mas pode-se tentar o inverso, com uma elevação provisória de tributos combinada com uma diminuição definitiva dos gastos.

O governo busca soluções em uma nova direção, como as reformas – Previdenciária e trabalhista, principalmente, a fim de tornar a dívida pública mais sustentável. Mas esses assuntos delicados não devem entrar na pauta do dia, até porque o ruído causado pelas gravações de Jucá pode tirar a força (e a credibilidade) do governo em aprovar tais temas.

Com a política voltando a trazer incerteza, os investidores devem redobrar a cautela nos negócios locais, tendo como fator de pressão o sinal vindo dos mercados internacionais. Lá fora, as bolsas ensaiam ganhos, mas as commodities recuam, assim como as moedas de países emergentes, diante das especulações de que o Federal Reserve deve voltar a agir.

Os futuros dos Fed Funds indicam pela primeira vez desde março que o Banco Central dos Estados Unidos irá apertar a taxa mais uma vez, no encontro de julho. Porém, as chances desse movimento ocorrer antes, já no próximo mês, não estão totalmente descartadas. Ontem, dois dos três dirigentes do Fed que falaram foram claros em dizer que a economia norte-americana mostra força suficiente para suportar de dois a três aumentos nos juros ainda em 2016.

Em reação, o dólar ganha terreno de modo generalizado, com destaque para as perdas do xará australiano, diante das apostas de que o BC local (RBA) não promoverá um afrouxamento monetário. O ringgit malaio também tem perdas aceleradas, penalizado pela queda do barril de petróleo abaixo de US$ 48, em meio à retomada da atividade no Canadá após os incêndios no país. O ouro recua pelo quinto dia seguido, na sequência mais longa desde novembro, enquanto o chumbo tem o menor valor desde janeiro.

Entre as bolsas, Xangai caiu pela primeira vez em três dias, em -0,77%, ao passo que a Europa é impulsionada pelo crescimento de 0,7% do PIB da Alemanha nos três primeiros meses deste ano, em linha com a leitura preliminar. A queda do euro ante o dólar ajuda a dar ritmo às praças europeias.

Em Wall Street, os índices futuros das bolsas de Nova York têm ligeiros ganhos, à espera do único indicador previsto para o dia sobre as vendas de imóveis novos (11h) nos EUA, que devem crescer pela primeira vez em abril. No Brasil, destaque para a nota de setor externo (10h30), que deve continuar indicando melhora no déficit das transações correntes. Antes, às 8h, sai a sondagem do comércio.

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