Chegou ao fim?
O caminho para derrubar a presidente Dilma Rousseff do cargo segue nos trilhos. No fim da noite de ontem, o presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão, decidiu revogar a sua própria decisão, de anular a votação do impeachment na Casa, o que reforçou o anúncio feito horas antes pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, que havia simplesmente ignorado a decisão de Maranhão, dizendo que ele estava "brincando com a democracia".
De qualquer forma, o susto dos mercados domésticos ontem com a primeira decisão do presidente interino da Câmara colocou em risco o rali dos ativos brasileiros e mostrou que os negócios locais estão à mercê do noticiário político. Nesse toma-lá-dá-cá, os investidores devem redobrar a cautela hoje e esperar se concretizar a queda da presidente, possivelmente na quinta-feira, já que Renan quer concluir a votação do processo na noite de quarta-feira.
Mas, não se pode descartar novas reviravoltas no jogo político. Com isso, os investidores devem ficar com os nervos à flor da pele, vivenciando uma semana crítica, à espera da definição do cenário em Brasília, que entra na reta final. Ainda assim, uma reação mais contundente dos mercados só deve ocorrer quando surgirem sinais mais claros do que fará o vice-presidente, Michel Temer.
O mercado avalia que qualquer mudança será melhor do que o que se vê atualmente, mesmo em meio às dúvidas envolvendo a formação de um eventual governo Temer e aos riscos de a situação piorar mais, antes de melhorar. As novidades vindas da mídia dão conta de um "inchaço" dos ministérios, com a aviação civil e a secretaria de portos sendo absorvida pelos Transportes; e a cultura se juntando à educação.
Desse modo, as incertezas no cenário político do Brasil devem continuar guiando os negócios locais nesta terça-feira, mas o sinal positivo vindo dos mercados internacionais tende a servir de alento. Dados de inflação no atacado e no varejo chinês, divulgados na virada do dia, mantêm a percepção de que a segunda maior economia do mundo enfrenta desafios, mas vem lutando para combatê-los.
O índice de preços ao consumidor (CPI) ganhou força pelo terceiro mês seguido e subiu 2,3% em abril, em base anual, em linha com a previsão. Já o índice de preços ao produtor (PPI) caiu 3,4%, no período, reduzindo o ritmo de queda que já dura quatro anos, após ceder 4,9% em março, em base anual, e ficando abaixo do esperado (-3,7%). Em reação, a Bolsa de Xangai fechou de lado, com +0,02%, e Hong Kong subiu 0,43%.
O fato é que os investidores estavam acostumados com um crescimento econômico de dois dígitos do gigante emergente nos últimos anos e simplesmente não aceitam os esforços de Pequim rumo a taxas de expansão mais estáveis e ainda em níveis elevados, na faixa de 6% ao ano. Essa transição da China, saindo da indústria pesada rumo ao consumo interno, visa abrir um mercado consumidor de mais de 1 bilhão de habitantes em um ambiente de demanda fraca pelo mundo.
Mas há o receio com relação à dívida dos governos regionais. O endividamento excessivo na China foi chamado de "pecado original" por uma fonte oficial do governo, que disse ainda que o país não pode fazer um empréstimo para garantir um crescimento econômico saudável no longo prazo.
Esses ventos contrários vindos da China têm diminuído a tração do comércio global, que tem se voltado à demanda interna. Na Europa, as principais bolsas europeias avançam, a despeito da segunda queda consecutiva da produção industrial alemã, que busca tirar proveito do nível recorde de baixa do desemprego no país.
Ainda assim, diante do fraco consumo doméstico, a indústria da maior economia do Velho Continente caiu 1,3% em março ante fevereiro, mais que a previsão de queda de 0,2%. Em base anual, houve um leve avanço de 0,3%. Na França, a atividade industrial inesperadamente caiu.
Mas a recuperação nos preços das commodities sustenta as bolsas no azul, o que também embala os índices futuros em Nova York. Nas moedas, o destaque de alta fica com o peso filipino, que deu o maior salto em mais de um ano após a definição no pleito presidencial; enquanto o ringgit malaio e o won sul-coreano lideram as perdas ante o dólar.
Por fim, a agenda econômica do dia está mais cheia, porém com poucos indicadores relevantes. No Brasil, saem a primeira leitura de maio do IGP-M (8h) e os resultados regionais da produção industrial em março (9h), além dos números antecedentes sobre o fluxo de veículos em estradas com pedágio em abril. No exterior, destaque apenas para os dados sobre os estoques no atacado dos Estados Unidos (11h) em março.