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Mês abriu impeachment e elevou expectativa


O dia 17 de abril de 2016 foi histórico para a democracia brasileira. Com 367 votos, por Deus, pela família, por militares e torturadores, por alguns Estados e até pela paz em Jerusalém, os deputados abriram o processo de impeachment contra o mandato da presidente Dilma Rousseff, eleita, dois anos antes, por 54 milhões de votos populares. Só 16 citaram o fatídico crime de responsabilidade, tal qual prega a Constituição.

Contudo, a festa nos mercados financeiros foi adiada, até que o pedido, que avançou para o Senado, sele de vez a queda do governo Dilma. Mas, na Casa Alta, o processo não tem a mesma velocidade-cruzeiro vista na Câmara, capitaneada por Eduardo Cunha, postergando para maio o possível afastamento temporário de Dilma do cargo.

Quem pôde, já lucrou, e muito, com toda a crise política que varre Brasília há meses. Depois de subir quase 20% apenas em março, no melhor desempenho mensal desde outubro de 2002, em meio a um ingresso recorde de capital estrangeiro na renda variável brasileira no mês, a Bolsa seguiu firme em abril, embora em um ritmo menos acelerado.

Esse apetite dos “gringos”, alimentado pelas políticas de juro negativo nos principais bancos centrais globais, derrubou o dólar para abaixo de R$ 3,50, nos menores níveis do ano. E a moeda norte-americana só não caiu mais por causa da estratégia do Banco Central de comprar dólar no mercado futuro (swap cambial reverso), desovando o estoque na aposta de queda do dólar à frente (swap tradicional).

A expectativa, agora, recai no capítulo final desta nova fase da novela política, que deve acontecer só no mês que vem. Em meados de maio, bastam que 41 senadores aprovem o parecer a ser encaminhado pela comissão especial do impeachment para que Dilma seja afastada temporariamente do cargo. Depois, serão mais 180 dias para a decisão definitiva, que pode culminar na cassação do mandato dela, tornando-a inelegível.

Atento aos prazos, o vice-presidente Michel Temer já discute medidas e desenha uma “superequipe” econômica, mas que só poderá assumir se Dilma sair de vez da Presidência. Na mesa de apostas, estão como favoritos os nomes de Armínio Fraga e Ilan Goldfajn para voltarem ao BC; além de Murilo Portugal e Henrique Meirelles para ocuparem o Ministério da Fazenda. E o mercado tem predileção pelo ex-BC no lugar de Nelson Barbosa.

O que uma parcela da sociedade e os investidores como um todo querem são soluções diferentes daquelas propostas pelo governo Dilma para trazer a economia de volta à rota do crescimento e com um ajuste fiscal, de fato, austero. Mas isso não exclui o retorno da CPMF, que segue como a alternativa possível, atingindo a todos – ao invés de afetar mais “o andar de cima”.

Para Temer convencer a população e ganhar apoio parlamentar, a alta de impostos precisa vir acompanhada de cortes "na carne" - sejam em investimentos, no número de ministérios ou em programas sociais. E o ponto de partida será reconstruir alianças políticas e fortalecer a articulação com o Congresso - principais falhas da presidente neste segundo mandato.

Diante desse clima de tensão e expectativa no Brasil, o noticiário vindo do exterior ficou em segundo plano, ignorando até mesmo a expansão de 6,7% do Produto Interno Bruto (PIB) da China nos três primeiros meses deste ano, em relação a igual período de 2015. Ainda assim, foi a taxa de crescimento mais baixa desde 2009.

Porém, os sinais de estabilização da segunda maior economia do mundo e também dos preços do barril de petróleo na faixa de US$ 40 – ainda que sem nenhum corte na produção da commodity pelos grandes produtores - reativaram o apetite por risco no mundo. Nesse ambiente, tanto o real brasileiro quanto a Bovespa foram beneficiados.

Os mercados domésticos lideraram as interações dos investidores com os ativos emergentes, seja por causa da forte correlação local com o comportamento das principais commodities industriais, seja por causa do nível de liquidez injetado pelos grandes bancos centrais globais.

Contudo, é bom lembrar, essa oferta monetária abundante segue sem surtir efeito na demanda, que permanece baixa, agravando as perspectivas de crescimento econômico. Esse giro em falso da roda financeira acaba inundando o mundo, com a mangueira dos juros baixos podendo afogar os balanços das empresas – e dos BCs - deprimindo ainda mais o consumidor final.

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