Fim da aliança?
As expectativas do mercado doméstico em relação à convenção do PMDB, na tarde desta terça-feira, devem seguir elevadas. O principal partido da base aliada deve selar hoje o rompimento com o governo, tornando mais provável o cenário de impeachment contra o mandato da presidente Dilma Rousseff, após uma articulação promovida pelo vice-presidente, Michel Temer, que deve garantir o desembarque do partido "por aclamação".
Se sair, o partido dará um prazo para que ministros e demais peemedebistas ocupantes de cargos no governo deixem os postos. Essa pré-condição talvez não atrapalhe o objetivo do PMDB, de buscar uma unidade entre seus integrantes em torno de uma decisão unânime. Ontem, o ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, pediu demissão, abrindo caminho para que os demais integrantes do primeiro escalão façam o mesmo.
Horas antes, Dilma esteve reunida com seis ministros da legenda. Apenas Kátia Abreu (Agricultura) não participou, por motivo pessoal, mas pode enfrentar a expulsão do partido, juntamente com outros dois ministros. A intenção da presidente era mostrar que o governo ainda conta com o respaldo de uma ala importante do partido, separando o "joio do trigo", e que a reunião de hoje não contará com nomes de peso, como o ex-presidente José Sarney e o presidente do Senado, Renan Calheiros - considerado como o "último bastião" do governismo no PMDB.
Mas essa tentativa do governo de esvaziar a reunião não deve surtir efeito. Conforme palavras de Temer ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o rompimento do PMDB com o governo é "irreversível". Porém, ele, que deve seguir como vice e que também é presidente do partido, usou a estratégia de não comparecer à reunião que deve aprovar a saída oficial.
Para o líder do governo no Senado, Humberto Costa, Temer está prestes a cair em um “canto da sereia” e não terá base social para assumir o governo se Dilma sofrer o impeachment. Segundo Costa, Temer enfrentará instabilidade e caos no país porque terá colaborado para um “golpe”.
Aliás, as sessões deliberativas da comissão especial da Câmara para analisar o pedido de impeachment de Dilma continuam em ritmo intenso nesta semana, no aguardo do transcurso das dez sessões plenárias para que a presidente apresente a sua defesa por escrito. Já foram feitas quatro sessões para a contagem de prazo.
Se ocorrerem as cinco sessões previstas para esta semana, a décima e última sessão será em 4 de abril, na próxima segunda-feira. Além disso, a delação premiada dos executivos da Odebrecht segue no foco e o mercado aguarda sinais que apontem o rumo que a Operação Lava Jato tomará após a revelação. Ontem, o juiz federal Sérgio Moro enviou a “superplanilha” da empreiteira ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Com isso, os negócios locais devem ficar mais na defensiva hoje, ao contrário de ontem, quando os agentes assumiram posições arriscadas, o que trouxe a Bovespa de volta aos 50 mil pontos e encostou o dólar novamente na faixa de R$ 3,60. No exterior, a ansiedade em relação ao aperto de juros nos Estados Unidos somada à espera pela divulgação do relatório oficial de emprego (payroll), na sexta-feira, domina os mercados, o que deve respingar no pregão doméstico.
Os índices futuros das bolsas de Nova York estão na linha d'água, com um ligeiro viés de alta, apesar da queda pelo quarto dia seguido do petróleo, que recua mais de 1%, diante da recuperação do dólar após a primeira queda em sete dias, em meio aos sinais mistos sobre a economia norte-americana. Na Europa, a maioria dos mercados acionários avança, no primeiro pregão da região nesta semana, enquanto na Ásia o sinal negativo prevaleceu.
Xangai caiu pelo segundo dia (-1,28%) e Tóquio teve leve baixa (-0,18%), mas Hong Kong subiu (0,10%). Na Austrália, a Bolsa de Sydney caiu pela terceira sessão, desta vez, com -1,6%. Entre as moedas, as divisas de países desenvolvidos, como o euro e o iene, e emergentes, como o baht, o ringgit e o "aussie", perdem terreno para o dólar.
Entre os eventos de relevo, destaque para a participação do ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, de audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, a partir das 10h. Ele deve explicar aos parlamentares o processo de deterioração fiscal do país e as medidas que o governo pretende adotar para estabilizar a trajetória ascendente do endividamento público.
No exterior, destaque para o discurso da presidente do Federal Reserve, Janet Yellen, sobre política monetária e perspectivas econômicas, às 13h20. Entre os indicadores norte-americanos, saem o índice de preços de imóveis residenciais em janeiro (10h) e do índice de confiança do consumidor em março (11h).
A agenda econômica no Brasil traz o resultado primário do governo central no mês passado, às 13h30, e também para a nota sobre operações de crédito em fevereiro (10h30). Antes, às 8h, saem as sondagens do consumidor e do comércio em março.
Logo cedo, a Fipe informou que seu IPC praticamente manteve o ritmo de alta e subiu 0,92%, de 0,94% na leitura anterior. Na safra de balanços, a temporada entra na reta final, mas ainda reserva o resultado trimestral de Gol e Cemig, após o fechamento do mercado.