Cautela antes do feriado
Os investidores devem redobrar a cautela nesta véspera de feriado no Brasil, agora que a “superplanilha” da Odebrecht não poupou quase nenhum político que está no centro das atenções da crise que assola o país - à exceção do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente Dilma Rousseff. A lista encontrada pela Polícia Federal na mais recente fase da Operação Lava Jato tem nomes ligados a siglas da base aliada e da oposição, azedando de vez o humor dos mercados domésticos.
Ontem, a Bovespa e o dólar realizaram o lucro especulativo de modo mais intenso e os ativos podem seguir pressionados hoje, diante do sinal negativo que prevalece nos mercados internacionais, após o preço do barril do petróleo WTI voltar a ser negociado abaixo de US$ 40. As renovadas preocupações por um novo aumento na taxa de juros dos Estados Unidos já em abril estimulou a demanda por dólar, deprimindo as demais moedas e as bolsas.
As principais bolsas europeias tem queda firme pelo quarto dia seguido, ao passo que Xangai liderou as perdas na Ásia, com -1,63%, com as ações penalizadas pelo recuo das commodities metálicas, sendo que o minério de ferro caiu pelo terceira vez consecutiva. Nos mercados emergentes, as bolsas caminham pela primeira semana de recuo em um mês, com as petrolíferas e mineradoras conduzindo a queda. O índice MSCI da região acumula a maior baixa em dois dias em seis semanas.
O dólar, por sua vez, ganha terreno ante os demais rivais, com o ringgit malaio entre os destaques de baixa. Já o yuan chinês reagiu com perdas ao maior corte na taxa de referência diária desde janeiro, enquanto a rupia indonésia registrou a maior queda em uma semana. O won sul-coreano e o rand sul-africano também estão no vermelho.
Esse ambiente de maior aversão ao risco deve ser sentido no Brasil, sendo que o sentimento entre os investidores pode ser potencializado pelo receio de que a delação premiada de executivos da construtora e do ex-presidente Marcelo Odebrecht possa ser, de fato, uma "colaboração definitiva" com a Justiça, como afirma o comunicado do conglomerado. O texto da empreiteira mirou, em especial, dois públicos: o mercado financeiro e os funcionários da própria empresa.
Em nota, porém, o Ministério Público Federal disse que não quer a delação da Odebrecht e que o fato de a empreiteira ter divulgado a intenção de fazer o acordo fere diretamente a lei que trata das delações premiadas, que exige sigilo. Além disso, o MPF afirmou que a suposta intenção não é suficiente para apagar os indícios de obstrução da Justiça observados pelos procuradores durante as investigações.
O temor do mercado doméstico é de que a delação de Marcelo Odebrecht possa apontar para o uso ilegal de recursos na campanha eleitoral de 2014, o que também atingiria o vice-presidente Michel Temer. Os nomes de Aécio Neves e Eduardo Campos também estão no documento.
Com a chapa eleita impugnada e o segundo colocado envolvido em esquemas de propina, o Brasil entraria em um vazio institucional perigoso. Afinal, quem talvez poderia assumir o poder, ainda que interinamente, até a convocação de novas eleições, seria o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha - primeiro parlamentar no exercício de mandato a torna-se réu na Lava Jato e que também está na lista da Odebrecht.
Na pior das hipóteses, haveria uma nova eleição presidencial ainda em 2016, sendo que a candidata Marina Silva, da Rede Sustentabilidade, lidera as pesquisas de intenção de voto à Presidência. Mas ela não agrada ao mercado. Diante dessa incerteza, os investidores preferem reduzir posições e não serem pegos de surpresa durante o fim de semana prolongado.
Até porque amanhã as Bolsas de Nova York operam normalmente e será conhecida a terceira e última leitura do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos no quarto trimestre de 2015. Qualquer expansão ainda maior que a taxa de 1% apurada na estimativa anterior para o período elevaria o temor nos mercados globais em relação ao próximo aperto dos juros norte-americanos.
Afinal, o Federal Reserve reduziu de quatro para dois o total de altas a serem promovidas ainda neste ano, mas o tom mais duro (“hawkish”) de alguns dirigentes do Banco Central dos EUA deixaram dúvidas sobre se o momento desse novo aumento já não seria em abril. Diante desse receio, os índices futuros em Wall Street recuam.
No exterior, os investidores estão à espera das encomendas de bens duráveis nos EUA em fevereiro e dos pedidos semanais de auxílio-desemprego feitos no país, ambos às 9h30. Às 10h45, sai a leitura preliminar de março do índice dos gerentes de compras (PMI) do setor de serviços. Já na zona do euro, sai a prévia do índice PMI composto, que engloba também a indústria.
No Brasil, o destaque fica somente com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, às 9h, que substitui a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) a partir deste mês. Ontem, o IBGE anunciou que a taxa de desemprego nas seis principais regiões metropolitanas do país alcançou o maior resultado para meses de fevereiro desde 2009, retornando ao patamar de 8% pela primeira vez desde agosto daquele ano.
A previsão para a Pnad Contínua, referente ao mês de janeiro, é que a taxa nacional de desemprego tenha atingido 9,3%. Na safra de balanços, a Oi divulga o demonstrativo contábil do quarto trimestre do ano passado e fechado de 2015, antes da abertura do mercado. Depois do fechamento, saem os resultados das empresas estaduais paulistas de saneamento básico, Sabesp, e de energia elétrica, Cesp.