Clima nos mercados segue o mesmo
O verão chegou ao fim no Brasil, mas o clima deve continuar quente em Brasília, trazendo muito estresse e turbulência aos negócios. Impedido de assumir um cargo no governo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve exercer informalmente a articulação política, capitaneando uma estratégia que impeça o rompimento do PMDB. Mas no mercado, os investidores veem no desembarque do partido as chances de uma troca de comando.
Com os trabalhos acelerados na Câmara contra o mandato da presidente Dilma Rousseff, os ativos brasileiros já precificam um cenário-base de saída de Dilma do governo e se preparam para a posse do vice, Michel Temer. O salto da Bovespa para a faixa dos 50 mil pontos, embalada pelo fluxo de capital estrangeiro, e a queda do dólar para abaixo de R$ 3,60 refletem essa aposta.
Atento a essas condições mais favoráveis, o Banco Central decidiu reverter a estratégia e reduzir as posições em swaps cambiais, em meio à menor demanda por proteção (hedge). Pela primeira vez em três anos, a autoridade monetária fará, nesta segunda-feira, um leilão de swap reverso, equivalente a compra de dólar no mercado futuro, ofertando até US$ 1 bilhão.
Com a operação, o BC pretende acelerar a desmontagem da exposição cambial e sustentar a cotação do dólar. Já na Bovespa, o destaque do dia fica com o balanço da Petrobras, após o fechamento do pregão local. As estimativas para o desempenho da estatal petrolífera nos últimos três meses de 2015 vão desde um prejuízo milionário a um lucro bilionário, em meio às perdas operacionais e às vendas de ativos promovidas pela empresa recentemente.
Mas as atenções devem continuar concentradas em Brasília, de onde as novidades tem surgido a cada instante. Na sexta-feira passada, em meio às manifestações nas ruas que aconteceram nos 26 Estados brasileiros e no Distrito Federal a favor da democracia, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes suspendeu a posse de Lula em caráter liminar, alegando que o ato pode configurar "uma fraude à Constituição".
Também na sexta-feira, ocorreu a primeira sessão na Câmara sobre o impeachment e os deputados estão se mobilizando para sempre haver quórum na Casa - inclusive nesses dias (segunda e sexta) em que, tradicionalmente, não há o número mínimo de parlamentares em plenário para as votações. O período máximo de defesa da Presidência é de dez sessões.
Dos 65 membros da comissão especial, um terço responde a processo de corrupção no Supremo Tribunal Federal (STF) e 40 receberam dinheiro de empresas investigadas pela Lava Jato. Quatro deles são investigados na Operação, sem contar com o presidente da Casa, Eduardo Cunha, que já é réu por unanimidade pelo STF acusado dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Mas o processo na Câmara contra a presidente Dilma se baseia em um suposto crime de responsabilidade, por causa de manobras fiscais praticadas em 2014 e 2015, as chamadas “pedaladas fiscais”. Hoje, ela tem a tradicional reunião de coordenação política, às 9h30.
Na agenda de indicadores, a semana encurtada pelo feriado da Paixão, em vários países do mundo, traz como destaque apenas a divulgação da prévia da inflação oficial do Brasil em março, medida pelo IPCA-15, na quarta-feira, e a terceira e última estimativa do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos no quarto trimestre de 2015, na sexta-feira. Dados sobre o mercado de trabalho brasileiro também serão conhecidos, a partir de amanhã.
No exterior, os índices futuros das bolsas de Nova York estão em leve baixa nesta manhã, após o rali das últimas cinco semanas em Wall Street zerar as perdas acumuladas do pior início de ano na história dos mercados financeiros. O índice S&P 500 migrou para o território positivo, ao final da sexta-feira, fazendo companhia ao Dow Jones, que já avançava em 2016. As principias bolsas europeias também abriram no vermelho.
O alívio nos mercados internacionais vindo dos sinais mais suaves ("dovish") do Federal Reserve parece passageiro e a euforia com um processo mais lento de aperto nos juros dos EUA perde força. As bolsas e moedas emergentes recuam hoje, corrigindo parte dos exageros, o que fortalece o dólar e enfraquece as commodities, com os investidores cientes de que o fluxo de capital para os ativos mais arriscados não irá se acelerar enquanto esses países em desenvolvimento não acelerarem o seu crescimento econômico.
A exceção fica com a Bolsa de Xangai, que subiu 2,15% hoje, reavendo a marca dos 3 mil pontos pela primeira vez em dois meses, após a decisão de afrouxar o controle nas negociações de margem para empréstimo. Na semana passada, a alavancagem de apostas caiu ao menor nível desde dezembro de 2014. A Bolsa de Hong Kong ficou praticamente estável, mas Tóquio caiu (-1,25%).