China tem dados fracos, mas prioriza crescimento
A China abre o mês de março com novos indicadores desanimadores sobre a atividade, que reacenderam o temor de perda de tração da segunda maior economia do mundo, ao mesmo tempo que justificaram a ação do Banco Central chinês (PBoC), ontem. O índice dos gerentes de compras (PMI) da indústria caiu pelo sétimo mês seguido, enquanto o do setor de serviços recuou ao menor nível em sete anos. Ainda assim, os estímulos monetários vindos de Pequim animam os mercados financeiros hoje, com Pequim emitindo sinais de que a prioridade é o crescimento econômico, em detrimento da desvalorização do yuan.
A Bolsa de Xangai subiu 1,67% hoje, espalhando o sinal positivo por toda a Ásia e embalando o início dos negócios no Ocidente, a despeito da queda do PMI industrial a 49 em fevereiro, no nível mais baixo desde janeiro de 2009 e contrariando a previsão de 49,4. O indicador do setor não manufatureiro caiu ao menor patamar desde dezembro de 2008, a 52,7 no mês passado, de 53,5 em janeiro.
Os números reafirmaram a percepção de que a política monetária deve seguir frouxa na China, seguindo os passos do Japão e ampliando os estímulos já adotados na Europa. O corte em 0,50 ponto porcentual na taxa de compulsório bancário ontem pelo PBoC mostrou que a prioridade de Pequim é fazer o que for necessário para evitar ameaças à economia, no longo prazo. O Partido Comunista reúne-se a partir de sábado para definir os principais planos do país para os próximos cinco anos.
Foi a primeira vez em quatro meses que o BC chinês adotou um movimento tradicional, mostrando que tem todas as ferramentas à disposição. Como consequência, a taxa referencial do mercado monetário chinês registrou a maior queda em três semanas, após o PBoC injetar 685 bilhões de yuans (US$ 105 bilhões) no sistema, ao passo que o yuan chinês interrompeu uma sequência de oito dias de queda e subiu, com a taxa de referência diária avançando pela primeira vez em uma semana e após autoridades de Pequim garantirem ao secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Jacob Lew, de que não há nenhuma intenção em desvalorizar a moeda local.
Os mercados emergentes acompanham esse movimento, com as bolsas e as moedas correlacionadas às commodities, como o ringgit malaio e o dólar australiano, ganhando terreno. O Banco Central da Austrália (RBA) manteve hoje a taxa básica de juros no recorde de baixa, a 2%. O petróleo também avança e caminha rumo ao maior nível desde o início de 2016, com o WTI cotado na faixa de US$ 34. Contudo, os metais básicos sentem o peso dos dados fracos chineses.
Os indicadores PMI sobre a indústria na zona do euro, no Brasil e nos Estados Unidos serão conhecidos ao longo desta manhã, além da taxa de desemprego na região da moeda única. Ainda na agenda local, saem o índice de preços ao consumidor (IPC-S) da FGV em fevereiro (8h) e os números do mês passado da balança comercial (15h). Também hoje, começa a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) para decidir sobre a taxa Selic.
Esse noticiário econômico deve dividir as atenções com o cenário político, que segue no radar dos mercados domésticos, em meio à relação tensa da presidente Dilma Rousseff com o PT. Ao que tudo indica, a saída do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, da Pasta atenuou a crise, mas uma ruptura na relação dela com o partido ainda não está descartada.
Hoje, Dilma recebe o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, pela manhã e, à noite, participa da jantar com lideranças do PDT. De volta ao Brasil, o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, tem reunião com o governador da Bahia, Rui Costa (15h), e com o diretor-executivo representante do Brasil no Banco Mundial, Antônio Henrique Silveira (18h30).
Já no calendário norte-americano, serão divulgados também os gastos com construção em janeiro (12h) e as vendas de veículos nos EUA em fevereiro. Mas as atenções de Wall Street estão voltadas à chamada “Superterça”, quando ocorrem as prévias dos partidos republicano e democrata em 12 Estados do país e que devem definir os candidatos às eleições presidenciais de novembro. À espera desses eventos, os índices futuros das bolsas de Nova York exibem ganhos.