Fevereiro foi o mês de cortes no Brasil
Fevereiro começou devagar, com a chegada do ano-novo na China e o carnaval no Brasil adiando o apetite pelos negócios para a segunda quinzena do mês. Mas logo a faca foi afiada e apunhalou o Brasil, cortando a avaliação sobre a nota de risco de crédito do país e também os gastos do governo.
Embora os cortes das despesas mais parecessem terem sido feitos por uma tesoura não muito amolada, já que a redução de R$ 23,4 bilhões ficou bem aquém do esperado, o golpe das agências de classificação foi certeiro, avaliando o país como categoria “junk” (lixo). A incapacidade do governo em “cortar na carne” os gastos e em gerar receitas sem aumentar impostos foi o “tiro de misericórdia”, na visão dos estrangeiros.
A surpresa ficou com a decisão da Standard & Poor’s (S&P) que, menos de seis meses depois de ter retirado o selo de bom pagador do Brasil, afastou ainda mais o país do seleto grupo, colocando-o no mesmo patamar de Bolívia, Paraguai e Guatemala. A situação, então, já estava ficando feia para a Moody’s - a única entre as três grandes agências que ainda mantinha o grau de investimento do país.
Desse modo, para se ajustar à atual realidade econômica brasileira e o cenário à frente para a dívida pública, a Moody’s rebaixou o rating do país em dois níveis, de uma só vez, mantendo, agora a perspectiva negativa. Porém, não só os investidores, como o próprio Palácio do Planalto, minimizaram as decisões.
Enquanto o governo está convicto de que tais avaliações sobre o risco de crédito do país são temporárias e podem ser revertidas tão logo as dificuldades econômicas e políticas sejam superadas; os mercados domésticos se apoiam na via mais fácil de perda de mandato da presidente Dilma Rousseff, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), presidido pelo ministro Gilmar Mendes.
A prisão temporária do jornalista e publicitário João Santana, responsável pelo marketing do PT durante as eleições de 2006, 2010 e 2014 reacendeu a sensação de que o cerco estaria se fechando em torno de Dilma, atingindo, de quebra, o vice Michel Temer. Liderados pelo PSDB, os partidos de oposição querem reforçar a tese de que o dinheiro do chamado “petrolão” serviu para pagar despesas da campanha petista, abrindo caminho para empossar o senador Aécio Neves.
Seria o golpe final – mas não de faca. E essa possibilidade içou a Bovespa ao maior nível do ano, de volta aos 43 mil pontos, ao mesmo tempo em que retrocedeu o dólar para abaixo de R$ 4,00, com os investidores especulando com o risco. Enquanto isso, no exterior, o mercado financeiro passou a ser dominado pelos ursos (bear market).
O pessimismo dos investidores com a dobradinha China-petróleo vem ditando o rumo dos negócios globais neste início de 2016. Sem perspectiva de solução para ambas as variáveis, o congelamento da produção nos níveis de janeiro pelo cartel da Opep serviu apenas para estabilizar os preços da commodity na faixa de US$ 30 o barril, ao passo que os sinais de desaceleração econômica na China se intensificaram, em meio à saída de recursos externos e à perda de tração da atividade, sobretudo na indústria pesada.
O encontro do G-20 em Xangai até que poderia lançar luz sobre a economia global, com a maioria dos representantes das 20 maiores economias do mundo demandando soluções e uma ação coordenada, a fim de reduzir as incertezas e dar munição à política de estímulos dos principais bancos centrais. Porém, a maior de todas as economias, a dos Estados Unidos, não se mostram dispostos em ajudar.
Depois de terem derrubado o mundo lá atrás, em 2008, em meio ao colapso das hipotecas subprime e à quebra do Lehman Brothers, a firme recuperação da economia norte-americana – a única que realmente cresce no mundo - pôs dúvidas quanto à unanimidade deste socorro emergencial. Para os EUA, mais do que a economia, o foco está na política, com as prévias das eleições presidenciais desenhando o pleito de novembro entre o republicano Donald Trump e a democrata Hillary Clinton.
O próprio Federal Reserve alertou para os riscos da turbulência financeira à atividade doméstica, mas não abandonou o plano de normalizar os juros, descartando qualquer chance de reversão do ciclo de aperto rumo a taxas negativas. Ainda assim, a presidente do Fed, Janet Yellen, emitiu sinais suaves (“dovish”), dizendo não ter pressa em elevar os Fed Funds do atual intervalo de 0,25% a 0,50%.
Nesse sentido, a chegada do Ano do Macaco mais parece estar pregando uma peça nos mercados financeiros do que desatando os nós existentes com perspicácia.